Geralmente, quando um artista está sob holofotes, a mesma história de carreira, tempo ocioso, aulas de produção e muita pitada de sorte é vista, mas Hot Since 82 faz parte do time velho de produtores que desde adolescente já tinha em vista a profissão de “ser DJ”. Originalmente de Leeds, no interior-norte da ilha britânica, Daley Padley, o nome por trás do codinome, é acostumado com bons clubes, uma cena eletrônica já consolidada e muita tradição no House. Bebendo dessa fonte desde então associado com uma história um pouco diferente, resultou bons frutos provenientes de um som que sai do comum.
Little Black Book foi lançado há alguns meses, ainda em 2013, e conta um pouco a história de “problemas” que passou. O “pequeno livro preto” guarda lembranças que poucos têm acesso e que são fundamentais para que se entenda do que se trata Hot Since 82. Desde de seus cinco anos de idade, fez papel de homem da casa diante de sua mãe, recém-separada, e seus irmãos. A luta diária pela sobrevivência do cotidiano trouxe um presente a Padley, o sorriso inerente e a positividade. Uma grande incoerência diante do título da obra, mas chega uma hora que a toalha cai e se faz necessário mostrar o que tem por trás de uma marca. Little Black Book foi ovacionado, mais uma vez, pela Beatport, pela crítica e pelos fãs, mas o que eligiamos tanto é um retalho vulnerável da vida de Daley.
E quando não olhamos diretamente ao artista e sim temos a visão palco-público que podemos ver por trás, pelos olhos de Hot Since 82, o que traz tanta melodia aos seus sons. Ritmo é uma característica unânime de todos seus singles. Vemos produtores penarem para alcançar o feito, mas saindo da cabeça de Padley, tudo parece certo, encaixa como luva. Se pensarmos racionalmente, nada mais é que tentativa pós tentativa. Primeiro uma estrutura de bateria/bumbo, depois as palmas, até o desenho de notas de sintetizadores através da repetição de loops. Um trabalho que requer uma paciência enorme, da construção de arte através de uma atmosfera. É disso que Hot Since 82 se trata. Convidar seus ouvintes a uma jornada, em que se bebe história de Danny Tenaglia, David Morales até Roger Sanchez.
Hoje, a correria faz parte de sua rotina. Atrás de diversas premiações, títulos invejáveis e uma ascensão gritante, tem um produtor empenhado e sonhador. A preocupação com sua produção artística é tão grande que já desistiu de sua carreira e, três anos depois, desistiu de ter desistido. Seu remix para Bigger than Prince, uma das faixas mais memoráveis de 2013, mostra claramente a razão disso. Era nítido que suas produções estavam mecanizadas e que, segundo o próprio Daley estava trabalhando para ser pago e não para “produzir faixas com o coração”. E isso é completamente normal para quem trabalha com criatividade. Hot Since 82 é 110% paixão, tanto que sua volta foi triunfal e ocorreu naturalmente como se fosse ainda um novato. Let it Ride saiu em setembro de 2011 e, em pouco tempo, já atingiu top 3 da Billboard com sua estrutura de baixo carregada e seu Deep House influenciado pela Garage Music.
Estourou em Ibiza, marcou sua turnê na América do Norte, fez remixes a consolidar nos tops mundiais, mixes para rádios consagradas, e focou em sua álbum no final do ano. Aquela loucura típica de nome quente, de um dos produtores mais visados da House Music. A reunião de todo esse trabalho veio com a compilação. Hot Since 82 é enfático em dizer que Little Black Book é mais uma reunião de trabalhos do que sua estreia.
Para esse ano, resolveu não saturar, parar de escrever músicas e focar no seu lado empreendedor. Knee Deep será o nome de seu selo e não se sabe tanto sobre isso, apenas muita especulação e expectativa para quem gosta de um bom Groove. Mas uma coisa é certa, Daley não vai desistir da música de novo. Seu retorno foi a prova mais que cabal que não tem como dar as costas a uma coisa que sempre lhe acolheu. Hot Since 82 veio pra ficar e vai retribuir todos os amantes da música o show de ritmos que só ele sabe fazer.
