“Frances The Mute”: The Mars Volta Em Seu Ápice Experimental

Lançado em 2005, a obra-prima do grupo completa neste ano uma década

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Na próxima semana, será comemorarada uma década do lançamento de Frances The Mute, segundo disco de The Mars Volta. Se passaram dez anos desde que Cedric Bixler-Zavala e Omar Rodriguez-Lopez davam um passo adiante com um projeto construído quase como a antítese de sua antiga banda, At The Drive-In, e com que mostrariam ao mundo seu som profundamente atordoante. Assim como em De-Loused in the Comatorium, a banda embarcaria em uma viagem conceitual através de narrativas sonoras, construídas novamente à base de um enigmático espirito lírico e com sua instrumentação cada vez mais intrincada, para não dizer extravagante.

Ao se observar a década que seguiria adiante e os lançamentos feitos posteriormente pela banda, Frances é um disco nitidamente hermético e que rendeu poucas faixas que se destacam separadamente (até mesmo por ter somente cinco delas, dividias em porções menores), porém, suas associações são tão poderosas, que este álbum pode ser considerado uma verdadeira obra-prima. O interessante de ouvi-lo em 2015 é ver o quanto envelheceu bem e quão ambicioso foi, a ponto de poucos grupos no mainstream terem chegado minimamente perto deste resultado em uma década. Seja em questões estéticas, de narrativa ou mesmo conceituais, poucos nomes atingiram tanta popularidade com um som tão “difícil” quanto este.

E ser “difícil” é um fato. Não há como dizer que esta é uma obra para se ouvir de forma descompromissada ou mesmo passiva. Sua compreensão pode vir após algumas audições cuidadosas ou mesmo nunca acontecer, propiciando a descoberta de novas nuances a cada re-play. Ao que tudo indica, o disco não foi pensado tendo em vista o lado do público, mas sim o dos músicos e de suas ambições. É assim, pelo menos, que Omar explica a faixa Cassandra Gemini e seus extensos 32 minutos: “Desde a minha adolescência, em que tive diversas experiências ouvindo coisas como King Crimson, John Coltrane e Bitches Brew, de Miles Davis, eu queria criar algo como Cassandra. Algo deformado e fora de controle. Algo enorme e violento, que coubesse em uma só composição. Algo implacável que ninguém pudesse ficar descuidado”.

Irônico pensar um disco tão fora da caixa como este faria tanto sucesso e venderia mais de 500 mil cópias? Talvez não. Vale lembrar que o grupo tinha como aliado o braço musical da gigante Warner Brothers, com apoio em marketing e distribuição, e soma-se a isso, o sucesso do movimento experimentalista do Rock que começava a ganhar força com Coheed and Cambria e …And You Will Know Us By The Trail Of Dead, nomes que despontavam no “limiar do Indie” e atraiam a atenção de um público ávido por novidades depois um período em que o Indie Rock já havia se concretizado como uma estética popular. Entre outros, esses foram fatores importantes por tornar esse som “surrealista” vendável, sem que o grupo se “vende-se” ao sistema.

O single The Widow foi também grande responsável pelo bom número de vendas, ainda mais em uma época que não se tinha acesso a todo álbum com tanta facilidade caso não se tivesse uma cópia física do mesmo. E a faixa, segundo a banda, serviu como uma espécie trailer para o disco. Consideravelmente mais simples que as demais, ela foi capaz de chamar a atenção do público, promovendo um álbum que tinha muito mais a mostrar do que ela podia exibir. Ao se ouvir Frances por completo, há todo um mundo a ser explorado, algo caótico, desafiador, mas ao mesmo tempo recompensador.

Certamente, este não é um disco para quem espera saídas fáceis ou algo que se possa entender logo de cara, ainda mais com músicas que ultrapassam os dez minutos, letras cantadas em três línguas (inglês, espanhol e latim), temas pesados e de uma lírica quase surrealista, melodias nada Pop (com suas pitadas do Rock Progressivo, Jazz e Música Latina) e diversos movimentos dentro de uma mesma faixa (como Cyganus…Vismind Cyganus e suas quatro partes ou Cassandra Gemini e suas oito). Frances The Mute não é disco para quem quer se manter passivo frente a uma obra, mas para quem quer ir a fundo nela, explorando em suas nuances exóticas, para não dizer absurdas, o gatilho para se sucumbir em uma narrativa extremamente imaginativa.

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MARCADORES: Aniversário

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts