Entrevista: Otto

Cantor estreia turnê “Recupera”, que passeia por diversos momentos de sua carreira

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Desde que despontou na música brasileira, Otto sempre fez muito barulho. Mais ainda em seus shows, já que o cantor é dono de uma performance de verdadeira entrega ao apresentar suas composições e arranjos sempre em estéticas tão contemporâneas quanto brasileiras.

Nesta semana, o pernambucano estreou sua mais nova turnê, Recupera, com apresentação em Piracicaba (SP) na quarta, 24, e um fim de semana inteiro na capital paulista (26, 27 e 28, no SESC Pinheiros). Entre um ensaio e outro, Otto conversou ao Monkeybuzz sobre a ideia do novo show, dirigido pelo próprio, com repertório que passeia pelas diversas fases de sua carreira e começa a trilhar o caminho de seu próximo álbum, Ottomatopeia.

Monkeybuzz: De onde veio a ideia de realizar esta turnê?
Otto: Cara, chegou uma hora que eu ia pro meu sexto disco, Ottomatopeia, e muitas músicas eu deixei de tocar, outras eu nem toquei, o que é um desperdício – por isso o Recupera: É recuperar um repertório que ou eu nunca tinha tocado, ou tinha tocado há muito tempo. Quis mudar esse show, trazer o Rock’n’Roll, que eu sempre tive na minha vida, os anos 80, o Post-Punk. Quando me olho no espelho, eu vejo um velho roqueiro (risos), um homem de Rock, por mais que eu tenha passado pelo Brasil todo, pela estética que eu uso. Eu acho que, com 47 anos, o homem tem que saber o que ele é na vida. Eu parei agora e me vi como um cara que gosta de canções, de baladas, o que tem a ver com o Rock’n’Roll de duas guitarras. O Recupera é isso, um pouco mais de Rock’n’Roll e os anos 80, o Post-Punk, na minha vida. Pra chegar no Ottomatopeia, que já é com essa pegada mais de guitarra, eu precisava ter o Recupera. Nesse mundo meio apocalíptico, o Rock trata muito bem a contemporaneidade, a juventude, essas revoltas urbanas, esse caos. Ele exprime a época também, por isso eu tô nesse lugar.

Mb: Sempre senti essa energia roqueira na sua carreira, mas também uma força muito orgânica, o que dá pra perceber bastante no palco.
Otto: Isso evoluiu comigo. Construí meu público, minha carreira, nessa independência, nessa liberdade com que eu possa fazer tudo o que eu queira. Agora eu tô nessa fase, eu me coloquei nesse lugar.

Mb: E quais são as principais diferenças do Otto que está nesse lugar pro Otto que conhecemos há quase vinte anos?
Otto: Cara, eu acho que eu ganhei uma performance de cantor muito boa, grande. No meu primeiro disco, Samba pra Burro, eu nem cantava. Eu fui aprendendo e a diferença é essa, a maturidade musical minha que aflora agora. Eu estou fazendo o cenário do show, vou pra rua colar o cartaz e pregar nas paredes. É uma forma mais Punk que estou buscando nesse contexto de independência minha.

Otto

Mb: O que significa pra você como artista poder olhar pra trás e revisitar sua carreira?
Otto: Prova a seriedade com a qual eu levei a música, o gravar coisas relevantes sem deixar se vender, saber que o repertório é a minha carreira toda, a minha evolução dentro disso. Quando eu chego à conclusão que eu posso revisitar, é porque eu tenho um público que vai comigo, que já conhece essas músicas. Eu não busco no próximo disco as músicas pra salvar a minha vida – eu tenho um repertório rico, atual, contemporâneo, que não é mainstream, que não se filia a grupos, que não vai encontrar um só estilo. Eu posso escolher como vou fazer. Eu continuo curioso e romântico com música, sou um cara contemporâneo.

Mb: Quando você “recupera” seu repertório, isso te inspira a trabalhar em coisas novas?
Otto: Eu tenho umas dez músicas para o Ottomatopeia, mas ele está tão nessa parada minha que eu precisei de outro show pra abrir as portas do meu próximo disco, nessa pegada mais baladas Rock’n’Roll. Tanto que eu já vou incluir nesse show uma música dele, Pode Falar Cowboy, pra você ver como as coisas estão acontecendo ao mesmo tempo.

Mb: É olhar pra trás e pra frente ao mesmo tempo, né?
Otto: Cara, eu olho pra trás e falo “ainda tem estrada pra ir”. E essa coisa de cair na estrada com um punch mais Rock, pra mim é porque eu sou muito romântico com música, quero ser o cara bacana de jaqueta preta (risos). Dos anos 80, que me influenciaram tanto, tem dois caras que me inspiram muito: David Byrne e Morrissey, que são caras que eu espero ficar velho igual eles, com essas ideias políticas, de “homem vivido”. É por isso que o Rock’n’Roll tá lá, pra mostrar a maturidade.

Mb: [O produtor] Miranda tem uma história ótima de você no estúdio com a Mundo Livre SA e você não parava quieto, aí ele disse: “Você tem que fazer o seu próprio disco”. Como você trabalha hoje a sua carreira solo acompanhado de banda?
Otto: Uma coisa que aprendi com Chico [Science] e Fred [04] foi a não fazer o que eles fizeram (risos), eu tinha que fazer o meu do meu jeito. Hoje, a Jambro Banda é uma família, tá comigo há anos, já me conhece, fica mais fácil fazer um show.

Mb: E qual é a diferença entre fazer uma turnê agora e no começo da sua carreira?
Otto: Cara, agora tem público bem maior, tem uma necessidade de performance e de competência muito grande que eu tenho que ter. A vida fez isso. Sempre me diverti muito, amo muito cantar e ir pra estrada, mas a diferença é que hoje você lida com o seu talento. Antes, você nem sabia no que ia dar. Hoje, eu tenho ideia da performance que eu tenho que ter, da minha inspiração. Eu sei aonde tenho que ir, qual o trabalho, o respeito. Eu prefiro hoje.

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ARTISTA: Otto
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.