Entrevista: Destroyer

Dan Bejar comenta seu próximo álbum (“Poison Season”), seu estilo e o trabalho com The New Pornographers

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Já faz duas décadas que o canadense Dan Bejar faz música sob o nome Destroyer, aclamado pela crítica e com fãs pelo mundo inteiro.

Ao mesmo tempo em que colabora com o projeto The New Pornographers, o músico prepara o lançamento de seu décimo álbum com seu próprio projeto. Batizado como Poison Season, o disco chegará às lojas em 28 de agosto.

Bem humorado, com longas pausas entre as frases, ele falou ao Monkeybuzz por telefone sobre a gravação do novo trabalho e como equilibra os dois projetos, além da vontade de tocar no Brasil.

Monkeybuzz: Como é chegar no décimo álbum da carreira? Parece ser um grande marco em qualquer carreira.
Dan Bejar: É… eu não sei, eu perco a conta às vezes…

Mb: Eu contei aqui e são dez sim. Dan: (risos) Sim, eu sei, eu às vezes tenho isso em mente. Entendo que já faço isso há um bom tempo. Eu me concentro em fazer cada música, ou cada conjunto de música, de uma vez. Sei lá, às vezes é estranho pensar que eu faço isso há vinte anos.

Mb: É estranho porque já faz vinte anos ou é estranho pela maneira com que o tempo passa?
Dan: O tempo é estranho. Parece estranho também porque é uma coisa muito específica pra se fazer por tanto tempo, e é a única coisa que eu faço, na real, e agora eu já fiz isso por metade da minha vida. Não sei se isso é normal (risos), parece que a coisa normal é fazer algo por cinco ou dez anos e partir pra outra. Eu olho em volta em um festival em que vou tocar, olho para o público e para as outras bandas e percebo que sou muito mais velho do que o resto do mundo em que existo. Mas eu me sinto bem. Me sinto bem e me sinto estranho ao mesmo tempo.

Mb: Como foi trabalhar neste conjunto de músicas que formam Poison Season?
Dan: (pausa) Não sei, acho que segui dois caminhos bem distintos: Um é bem simples, de certa forma, que é como a banda trabalha – eu passei muito tempo com os mesmos músicos em turnê pela Europa e América do Norte em 2012 e muito do que você ouve em Poison Season é a maneira com que tocamos juntos. Fomos para o estúdio e tocamos por alguns dias da mesma forma com que fazemos ao vivo. O outro caminho do disco é bem diferente, de músicas mais lentas e lamentosas, com arranjos mais cuidados e orquestração de cordas, o que é uma coisa nova para Destroyer. Ambos aconteceram meio que ao mesmo tempo e, no fim, ficaram bem juntos.

Mb: Sobre essa dualidade, me parece que as coisas com Destroyer nunca são muito preto e branco. Uma música, por exemplo, pode ser feliz e triste ao mesmo tempo. Qual é sua percepção disso?
Dan: Eu sinto a mesma coisa (risos), acho que você está certo.

Mb: Eu disse “feliz” e “triste”, mas poderia ter usado qualquer outros adjetivos antônimos.
Dan: Sim, entendo. Acho que sempre fui atraído a músicas que tem algum tipo de ascensão, que comece melancólica e tenha também algo divertido, ou esperançoso. Ao mesmo tempo, como cantor – ou como compositor -, há uma aproximação mais dark ou estranha aos temas, sabe? A linguagem pode ser estranha e triste, mesmo se a melodia ou a música que a banda toca sejam mais “pra cima”.

Mb: Por falar nisso, parece que, ainda mais nesse álbum, há uma grande ênfase no vocal, que está sempre em primeiro plano.
Dan: Acho que sim, acho que muito do que eu estava ouvindo na época tinha vocais mais tradicionais e menos Rock, como gravações de Frank Sinatra nas quais o vocal está mais à frente, ainda que perfeitamente equilibrado com a orquestra. Acho que estava também me sentindo mais confiante como cantor e senti que poderia ousar com os vocais.

Mb: Pois é, isso que dá lançar dez álbuns, você tem experiência o suficiente para fazer algo assim. Dan: Sim, só precisei de vinte anos para chegar nesse ponto (risos).

Destroyer – Dream Lover

Mb: Como você divide sua energia criativa entre Destroyer e The New Pornographers?
Dan (pausa) É bem fácil, é bem simples. A questão é que as músicas com The New Pornographers, eu faço umas três ou quatro a cada três anos. Isso não é tanto. Além disso, elas são muito específicas do que as músicas com Destroyer.

Mb: Isso por você ter mais liberdade quando trabalha com Destroyer?
Dan: A questão é que eu não tenho a menor responsabilidade sobre como uma música fica com The New Pornographers no fim. Eu posso escrever e cantar, mas não sou a pessoa responsável por essa sonoridade. Então, eu preciso de literalmente umas duas horas para fazer uma música com a banda a cada três anos. É um processo bem diferente.

Mb: Há também uma notável diferença entre popularidade entre os dois projetos, apesar do sucesso de crítica. Que você acha que causa isso?
Dan: Bem, pelo menos na América do Norte, The New Pornographers é muito mais popular que Destroyer, é uma banda muito mais comercial, uma música muito mais Pop. Há um trabalho nos arranjos que faz com que muita gente ache agradável ouvir essas músicas, assim como um senso de melodia que contribui pra isso. As músicas são mais animadas. O estilo de produção é muito mais “claro” e combina mais com a rádio. E há um som distinto que faz com que as pessoas acompanhem bem, enquanto com Destroyer as músicas pulam de um lado para o outro dentro de um mesmo disco. E me dizem há vinte anos que eu tenho um estilo de cantar pouco tradicional, e Destroyer é um projeto muito mais lírico. Acho que tudo isso contribui.

Mb: Chega até a parcer injusto comparar os dois projetos. Dan: Nunca me ocorreu comparar os dois, porque são muito diferentes. A única relação entre eles é que eu canto em um quarto das músicas da banda. Tirando isso, não vejo muita relação.

Mb: O que Destroyer significa pra você em 2015, vinte anos após o início?
Dan: Eu nunca colocaria nenhum significado, pra mim não tem sentido nenhum (risos). É só um monte de som que eu gero, mas a ideia de ter um significado maior no mundo, eu não vejo. Não tenho nenhuma sensação de propósito. Tenho certeza que o que eu tento fazer com a banda é progredir desde que fiz o primeiro show, mas não tenho consciência de mudanças porque estou muito dentro, sabe? Gosto de fazer música pra fazer arte, gosto da resposta física a ela. Sinto que a arte tem um sentido pra mim, mas é difícil colocar em palavra qual é sua função.

Mb: Antes de terminar, eu preciso perguntar: Quando veremos Destroyer no Brasil?
Dan: Eu não consigo pensar em outro lugar que eu mais queira ir no mundo, é o primeiro lugar na minha lista. Só precisamos pensar um jeito disso acontecer. Se alguém me convidar, eu vou.

Mb: Então, vou publicar em letras bem grandes para que todos vejam.
Dan: Sim, publique bem grande: “Convidem Destroyer para tocar no Brasil e Destroyer virá tocar no Brasil” (risos).

Convidem Destroyer para tocar no Brasil e Destroyer virá tocar no Brasil

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.