David Lynch, Compositor de Trilhas para Pesadelos

Primeiro disco do diretor amplifica seu ponto de vista sobre os sonhos de forma contemporânea

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Fotos: Kirk McKoy / Los Angeles Times

Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Crazy Clown Time

Me diverte procurar saber quais as outras formas de expressão encontradas por diretores de cinema nas horas vagas. Talvez seja pelo longo tempo necessário para tirar um filme do papel, não raro podemos nos deparar com trabalhos de cineastas em outros formatos, quem sabe como uma saída mais rápida para a criatividade fluir – ou quem sabe como passatempo mesmo. Woody Allen toca seu saxofone, Guillhermo Del Toro enche cadernos com esboços de seus monstros e David Lynch, entre diversas outras coisas, faz música.

Crazy Clown Time não é obra de um marinheiro de primeira viagem, já que algumas das criações sonoras de Lynch aparecem aqui e ali em seus trabalhos audiovisuais, mas é o primeiro disco do cineasta/músico e que mostra a mesma impressão digital presente em outros de suas obras.

O disco segue por um fluxo muito claro que combina batidas simples com elementos que causam desconforto, ao mesmo tempo que a repetição constante tenta conduzir por uma espécie de transe. A não menos onírica Karen O, artista presente em trilhas sonoras de filmes de Spike Jonze, aparece logo na faixa de abertura (Pinky’s Dream) como anfitriã do álbum, passando o bastão para o próprio Lynch nas demais faixas, que assume não só as letras como todo o trabalho instrumental.

O músico manipula sua voz a cada canção, ao mesmo tempo que se encarrega das letras formadas por poucas frases e que em muitos momentos apenas as repetem quase ininterruptamente. O nome do disco aparece na décima e homônima música, anunciada pelo diretor em clima de circo de horrores.

Produzindo um som bastante contemporâneo (talvez Lynch possa ser um amigão de Grimes), o diretor deixa clara sua intenção de produzir um “eletrônico soundtrack”, criando imagens aterrorizantes através de sons distorcidos e raramente tirados de um sonho bom, mas que não negam terem vindos de uma inspiração genuína.

É um disco que merece a audição dos fãs do gênero e simpatizantes de criações experimentais, além, é claro, daqueles que já conhecem e gostam do trabalho do diretor, e assim terão uma nova fonte para doses bem-vindas de surrealismo.

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ARTISTA: David Lynch
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Videomaker, ator e Jedi