Gorillaz Sempre Novo

Projeto audiovisual de Damon Albarn é sua porta para a experimentação

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Pipocam pelo mundo notícias que dão conta do lançamento de um novo álbum de Gorillaz neste ano. Você já leu, inclusive aqui, no Monkeybuzz, a bolsa de apostas e rumores funcionando a pleno vapor para dar o máximo de informações sobre este disco, ainda sem nome, o quinto da carreira do grupo. Você não lembra, mas foi um proverbial “auê” quando chegou a notícia de que Damon Albarn iria suspender as atividades de sua banda titular, Blur, em favor de um projeto alternativo e “revolucionário”. O medo principal era perder a rotina de lançamentos da banda inglesa, que era queridinha dos então indies da época, ainda que já estivesse distante do glorioso passado rompe-barreiras do Britpop. O que faz Gorillaz ser tão interessante e sintonizado com a tal modernidade? Justamente isso, o significado de alguém deixando de lado algo que parecia com rotina em favor de um abraço a novas formas, novos sons, novos parâmetros. Albarn e seus amigos estavam a fim de fazer história. Conseguiram.

O fato de Gorillaz ser um projeto colaborativo de algum artista já estabelecido (no caso, Albarn) com uma galera não é algo novo no Pop. Tampouco é novidade o fato de existir uma imagem em desenho animado para representar estes integrantes em ação. O que dá o tom inédito à coisa toda é que imagem e som apontam para uma busca por territórios inexplorados, com a impressão de que alguém está fazendo isso pela primeira vez. Mesmo que não possamos classificar gente como De La Soul, Snoop Dogg, Shaun Ryder, Mark E. Smith, Bobby Womack e Lou Reed, os tais colaboradores de Gorillaz ao longo da carreira, como ingênuos ou inexperientes, a impressão da busca pela novidade a qualquer preço sempre foi evidente. Formado a princípio por Albarn e o quadrinista Jamie Hewlett, Gorillaz sempre manteve esta aura.

Ao longo de 16 anos e quatro álbuns, o grupo teve, além de colaboradores e da dupla principal, vários produtores e agregados, responsáveis por conceder tonalidades sensivelmente distintas entre seus álbuns. Não dá, por exemplo, para comparar o primeiro disco, homônimo, lançado em 2001 com o mais recente, o esparso The Fall, que saiu em 2010 e trazia praticamente Albarn e dispositivos de gravação informais ao longo de viagens pelos Estados Unidos. Tampouco é possível apontar muitas semelhanças entre eles e Demon Days, de 2005 ou Plastic Beach, também de 2010. O tal espírito aventureiro permanece, entretanto, em todos os lançamentos e o motivo desta sensação pode ser, justamente, a presença de Damon Albarn.

Quando estava com Blur, Albarn não parecia ser exatamente um músico inquieto, posto que cabia a Graham Coxon, guitarrista do grupo. Damon era mais o vocalista bonitinho, o sujeito que caprichava no sotaque britânico para marcar bem o território musical da banda e nada mais. Quando veio o anúncio da formação de Gorillaz, Coxon e seus álbuns solo experimentais, que gravara em meio às atividades com Blur, ficaram automaticamente para trás. Com a chegada do infeccioso sucesso Clint Eastwood, acompanhado por um clipe apocalíptico e sensacional, Coxon já estava a milhas de distância.

Aos poucos, como era de se esperar, a linguagem plural e inclusiva das canções de Gorillaz, todas flertando com ritmos e estilos como Hip op e Música Eletrônica, tornou-se mais palatável para o público. Mais ainda: conquistou uma nova audiência, que não era, necessariamente, conectada com o passado de Albarn como integrante de Blur. Esta evolução fez com que, pouco a pouco, o novo projeto se tornasse mais badalado e visível. Muitos alegam que esta circunstância tenha sido decisiva para a saída de Coxon das gravações de Think Tank (2004), último álbum da banda inglesa antes de seu longo recesso, que só foi quebrado no início dos anos 2010, para shows e apresentações especiais, e soltando um disco inédito apenas no ano passado, o ótimo The Magic Whip.

O grande momento de Gorillaz enquanto instância criativa na música popular do planeta foi mesmo com The Fall, o tal álbum em que Damon Albarn registrou as sonoridades colhidas na estrada, usando uma abordagem minimalista e muito próxima em alguns momentos, do que o povo costumou chamar de IDM, ou Intelligent Dance Music. Há uma sensação árida permeando as canções, como se elas fossem registros escritos num diário de viagens, com sons ambientes, casualidades e participações especialíssimas, como a de Bobby Womack, gigante da Soul Music mais nobre, que retornava ao disco depois de muito tempo. Ele lançaria, com a produção de Damon, o seu último álbum, The Bravest Man In The Universe, em 2012, vindo a falecer dois anos depois, vítima de câncer.

Gorillaz cheira a novo. A busca pelo novo. Damon Albarn expandiu seus horizontes ao flertar com música africana, fazendo discos solo, produzindo trilhas sonoras, mantendo projetos paralelos, como o bom The Good, The Bad & The Queen (cujo segundo álbum está previsto também para 2016), chegando, inclusive, como já dissemos, promover o retorno do próprio Blur, como uma simpática reunião nostálgica a princípio, abrindo caminho para novas criações. Novo álbum de Gorillaz é o novo do novo e, como já dizia o poeta, ele sempre vem. Aguardemos.

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MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.