13 Discos de Maio/2016 Selecionados pelo Monkeybuzz

Radiohead, Kaytranada e Chance The Rapper estão na lista

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(Com textos de Lucas Repullo e Nik Silva)

Radiohead – A Moon Shaped Pool

Um dos álbuns mais aguardados desta década consegue reintroduzir um perfil mais orgânico na discografia de Radiohead e traz toda a beleza e complexidade que os fãs esperavam. ​A Moon Shaped Pool expande a mitologia da banda, reforça sua relevância na música de hoje e entra forte na briga dos melhores representantes da discografia do grupo.

“A atmosfera que rege A Moon Shaped Pool traz sintetizadores cintilantes, cliques percussivos, algumas melodias murmuradas e até uma tentativa de Bossa Nova. Há também a presença marcante da London Contemporary Orchestra, que dá vida aos arranjos de Jonny Greenwood, que, por sua vez, aqui trabalha uma faceta já conhecida de suas trilhas sonoras em colaboração com o cineasta Paul Thomas Anderson. Em alguns momentos, as faixas apresentam o andamento reduzido e vocais invertidos, o que, talvez, possa ser interpretado como um desejo de desacelerar o ritmo do pensamento e de retornar ao passado” (Leia a resenha completa)

Die Antwoord – Suck on This

Mais do que explicar a pronúncia de seu nome, algo como “Di Antivord”, e revelar seu significado (“a resposta” em africâner), o duo apresenta logo nos primeiros instantes da mixtape uma série de adjetivos que outros colocam neles: rejeitados, esquisitos, aliens, e por aí vai. Com um disclaimer desse, o grupo parece se eximir de tudo o que está prestes a vir. Espere dele algo bastante vulgar e com muita inovação nos beats, além de um dos registros mais interessantes já produzido pela dupla.

“Os primeiros segundos que sucedem essa introdução são arrebatadores. Com influências Trap pesadíssimas e temáticas sexualmente explícitas, Suck On This começa para nos relembrar que nada é seguro dentro de uma obra de Die Antwoord. Ela é envolta em batidas upbeat bem reconhecíveis e características da discografia da banda, mas é interessante como, dentro de um contexto casual e descompromissado, há a criação de uma ambientação hostil e familiar ao mesmo tempo. Por mais que possamos prever certos direcionamentos estéticos e sonoros, o duo sempre consegue nos surpreender, por exemplo, encontrando um tema mais chocante do que referências passadas, como em Bum Bum e Jair Pirewiet” (Leia a resenha completa)

Chris Cohen – As If Apart

Não é nada incomum pensar em música (ou músicas) funcionando de certa forma como trilhas sonoras para momentos de nossas vidas. O novo álbum de Chris Cohen seria perfeito talvez para dois momentos de uma hipotética narrativa que temos nós mesmos como personagem principal: um domingo qualquer de ócio em que as coisas parecem acontecer em câmera lenta ou naqueles momentos de epifania em que nossa existência parece ganhar um novo sentido. Ambas mostram a versatilidade do músico em criar um álbum tão plural e interessante.

“Chris Cohen é um captador de frequências. O fato de integrar diversos grupos com sonoridades distintas entre si parece ter sensibilizado seus sentidos a ponto de aguçar sua criatividade, aproveitando de cada projeto um pouco. Enquanto Deerhoof imprimiu tons mais brandos e intimistas à personalidade do compositor, as parcerias com Ariel Pink renderam abstracionismos e delírios psicodélicos, que, combinados, acabaram moldando um som que lembra a despretensão do Lo-Fi, mas que incorpora uma seriedade ímpar. Além disso, uma semelhança inacreditável com a voz do vocalista Erlend Øye contribui para a ambientação calma. Entretanto, emprestar características de outros nomes poderia trazer muitos empecilhos, uma vez que a identidade sonora de Chris Cohen estaria sempre sujeita a outros, criando pouco impacto por si só. Felizmente, isto não passa de uma previsão inexata” (Leia a resenha completa)

Mahmundi – Mahmundi

Demorou, mas Marcela Vale lançou seu primeiro álbum completo sob o nome Mahmundi. Ele vem com algumas das músicas que já curtíamos da carioca, como Calor do Amor, Leve e Sentimento, com algumas novas candidatas a favoritas, como Azul e Hit, tudo em uma grande salada de referências com a mesma alma radiofônica e colorida que fazem deste um disco que você vai querer ouvir repetidas vezes sem parar.

“Com um “lado-A” mais festeiro e uma segunda metade um tanto mais introspectiva, o álbum brilha em suas opções de timbres e no volume que ocupa todos os cantos dos ouvidos em uma ambientação sempre envolvente, sendo a dobradinha Quase Sempre e Wild seu provável melhor momento.” (Leia a resenha completa)

Oliver Wilde – A Long Hold Star An Infinite Abduction

Em sua terceira obra, Oliver Wilde impressiona mais uma vez por sua entrega e pelo tanto que consegue tocar o ouvinte com sua música. Desta vez, vindo de uma experiência que potencialmente poderia matá-lo, o músico usa o registro como uma espécie de epitáfio não utilizado, como um registro encara de frente seus meses no hospital e transforma essa experiência em poesia.

“Choca por capturar elementos idiossincráticos do músico, como sua voz Lo-Fi e o gosto pela psicodelia folclórica, e distorcê-los elasticamente. Podemos considerar ​A Long Hold​ a sua obra mais expansiva e épica, semelhante à sensação de se ouvir ​The Age of Adz, de Sufjan Stevens, sem a megalomania de uma dezena de faixas. O EP prefere ser conciso e trazer novos temas diversos à sua música – ​Blit Scratch é uma das faixas mais dançantes de sua carreira e traz novos horizontes à sua costumeira mistura eletrônica, enquanto a abertura ​Echolalia​ é contemporânea e nos lembra bastante o novo disco de Radiohead, e ​Bifida​ é o tipo de excentricidade que Wilde sabe dominar como poucos” (Leia a resenha completa)

Kaytranada – 99.9%

Um dos trabalhos mais diferentes lançados até o momento vindo de um representante da onda de produtores que ganharam fama com remixes liberados online. Kaytranada sabe como poucos hoje em dia fazer música dançante utilizando as mais variadas influências – House, Hip Hop, Música Latina -e sempre extraindo o máximo de suas participações especiais escolhidas a dedo. 99.9% será seu cartão de visitas para tornar-se um dos produtores mais requisitados dos próximos anos.

“Seja com AlunaGeorge, Syd (The Internet), Little Dragon, Vic Mensa, Badbadnotgood ou até mesmo com o sample de Gal Costa, as faixas começam sempre respeitando a identidade do convidado. O início de cada uma delas, poderia muito bem estar no disco de cada um dos participantes. Mas o que torna o trabalho de Kaytranada como produtor e escancara sua sensibilidade musical é que, aos poucos, cada uma das músicas vão se fundindo com as batidas coloridas e cheias de Groove do canadense, até que, sem perceber, o produtor já recuperou o protagonismo da canção e o ouvinte se vê dançando de olhos fechados na cadeira em um local público – história real” (Leia a resenha completa)

Death Grips – Bottomless Pit

Após um anunciado fim e um recomeço, Death Grips parece ir entendendo cada vez mais sua caótica função dentro do Hip Hop e lança um de seus trabalhos mais acessíveis. Com tanto Punk e Noise Rock quanto Rap, o grupo questiona padrões e comportamentos de nossa sociedade atual de forma agressiva e desconfortável como sempre fizeram.

“As primeiras audições de Bottomless Pit incomodarão os não iniciados, mas o disco se assemelha aThe Money Store justamente por tornar-se mais acessível depois de certa insistência. É como se a sujeira, o barulho e os incômodos fossem sendo ignorados pelo nosso cérebro depois da terceira, quarta audição e a qualidade e inteligência das melodias começassem a aparecer mais claramente” (Leia a resenha completa)

Jonathan Tadeu – Queda Livre

Já se fala há algum tempo de uma nova cena do Rock brasileiro empoderando-se da tristeza como seu principal combustível. Jonathan Tadeu poderia (e talvez até seja) classificado como um dos nomes dessa vertente depressiva do Rock e isso se reflete logicamente em sua obra, que se torna um poço de melancolia e pesar. Queda Livre é um disco tão pessoal que ao se tornar a válvula de escape do artista, vira também a de tantos que passaram ou passam por situações semelhantes. A verdade de um se tornou também a verdade outros.

“‘Talvez seja melhor/Aprender a lidar com a própria solidão/Antes de viver a dos outros’ são os versos iniciais absorvidos em uma levada roqueira que nos remete aos anos 1990 e a sujeira que caminhavam junto ao undergroud musical. Ninguém se Importa, sinaliza bem como Jonathan Tadeu fez a transição entre seu ótimo e intimista Casa Vazia​ para o imediatismo sincero e cheio de contos amorosos de Queda Livre*. Sua sonoridade, mais calçada nas guitarras, traz alguns dos melhores momentos do músico e mostra mudanças de forma importantes para sua carreira” (Leia a resenha completa)

Anohni – Hopelessness

Anohni, que um dia conhecemos como Antony & the Johnsons, entregou uma obra com força de sobra, um trabalho que se aproveita de suas características já conhecidas aliadas a uma sonoridade Eletrônica que serviu de cama para sua sensível interpretação vocal. Beleza e relevância – em forma e conteúdo – andando de mãos dadas.

“Hopelessness é um “Neo-Barroco” no contexto em que é lançado, um disco de uma densidade que desenrola-se a partir da boa vontade do ouvinte por meio ao teor Pop do instrumental. Nas entrelinhas, ficam o desânimo e o desespero de sentir-se preso a um mundo do qual não se faz parte e a fidelidade involuntária à sua natureza como alienígena. Forte e denso como esperado, belo e carismático de maneira imprevisível – um grande álbum” (Leia a resenha completa)

Vitreaux – Pra Gente Poder Passear

A maturidade adquirida desde seu primeiro EP não fez com que Vitreaux perdesse seu jeitão de banda moleque, com aquela pegada juvenil de um rock que canta versos como “Eu nunca vou me apaixonar” sem medo de alçar voos mais altos, como em A Mar Te.

Pra Gente Poder Passear é uma espécie de flerte com a Psicodelia Clássica, mas sem apelar para camadas e camadas de sintetizadores como muitas bandas o fazem hoje em dia. Há uma aura analógica, construída por meia de timbres de guitarra e efeitos claros que simulam os primeiros pedais experimentais, tais como Os Mutantes fazia. Junto a isso, harmonias vocais bem construídas dão um toque bem Beach Boys às composições, floreando canções ótimas, como o single Seus Últimos Minutos Psicodélicos” (Leia a resenha completa)

James Blake – The Colour In Anything

O músico inglês James Blake traz suas produções aéreas e seu vocal belíssimo para uma grande quantidade de novas canções sobre o fim de um relacionamento. James Blake soube construir mais dos pequenos momentos arrepiantes que aprendemos a esperar de sua música com mais complexidade e maturidade.

“Seus mais belos momentos vocais estão sempre duplicados, escondidos por trás da melodia, como se fosse a representação musical da sensualidade, que se manifesta mais intensamente naquilo que não podemos ver. Encontramos aqui a mesma variação apaixonante entre seus falsetes e graves, o mesmo piano minimalista envolto em camadas da mais melancólica Eletrônica, mas desta vez, Blake parece explorar de maneira mais livre todas as possibilidades de sua música” (Leia a resenha completa)

Julianna Barwick – Will

É difícil classificar uma obra de Julianna Barwick ou mesmo do estilo Ambient Music como intensa, mas esse é um adjetivo que cabe muito bem nesta obra. Entre os cânticos de sereia da artista e seus arranjos sintéticos em loop, há muita alma, há algo hipnótico que seria impossível criar alguma sem substância (no sentido platônico da coisa). O disco desafia o ouvinte a entrar em um transe sublime, um delicioso passeio por terrenos chuvosos, densos, talvez, marítimos (em que a imensidão se faz presente o tempo todo).

“As nove canções que compõem o álbum são todas compostas tendo em mente a utilização de loops, ou seja, repetições de acordes e/ou notas, geralmente executados num piano ou teclado, se valendo de repetição e sendo mescladas com vocais etéreos ou outros instrumentos eletrônicos. Só que, ao contrário de Eno, por exemplo, Julianna parte de uma fonte de inspiração bem nítida: os anos 1970/80. Sua abordagem é pela via da música de gente como Kate Bush e de bandas como Cocteau Twins, gente que nos fazia pensar, em forma de música, em passeios pelas florestas chuvosas da Inglaterra ou mesmo em terras mais fantásticas. Vozes, sons, climas da natureza mágica, elemental, essencial fornecem o pano de fundo para que Julianna Barwick empreenda sua abordagem experimental/ambient da coisa” (Leia a resenha completa)

Chance the Rapper – Coloring Book

A terceira mixtape independente de Chance The Rapper traz um músico mais maduro, substituindo temas como drogas e irresponsabilidades juvenis pela religiosidade e preocupação com a família. Consegue tratar esses temas com frescor e com melodias que o diferenciam do restante da produção do Hip Hop atual. Aguça nossa curiosidade para seu primeiro álbum completo e crava seu nome entre os mais promissores da música Pop.

“Chance parece enxergar o Hip Hop de uma maneira diferente da maioria. Enquanto outros lançamentos do estilo parecem ter uma postura mais agressiva, mais ativa em suas composições, compondo música pra dirigir em ruas movimentadas de janela aberta e com o braço pra fora demonstrando sua “atitude”, Coloring Book nos mostra uma alternativa mais “na sua”, mais colorida e mais carismática, influência clara dos primeiros trabalhos de Kanye West, além da presença constante do Jazz e do Gospel” (Leia a resenha completa)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.