POPLOAD Festival 2016: Wilco comanda festa em show inesquecível

Quarta edição do evento se lança em desafio de fazer festival “a céu aberto” e acerta em organização e escalação de artistas

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(colaborou Gabriel Rolim)

Tome um spoiler logo no começo desse texto: Popload Festival 2016 foi muito bom, muito mesmo.

Chegando à maturidade de sua quarta edição e assumindo um desafio de dar novos ares ao evento, que aconteceu muito bem nos dois anos anteriores em uma casa de shows fechada, o festival se adaptou perfeitamente ao modelo “a céu aberto”, o que deixou a experiência ainda mais rica e prazerosa.

Pode ser que essa tenha sido a melhor edição do festival até então, mesmo sem um line up tão recheado quanto nas edições de 2014 e 2015. Ainda assim, se provou um evento e tanto trazendo como seus maiores destaques Wilco, banda que finalmente fez seu primeiro show em São Paulo (depois de anos de pedidos desesperados dos fãs) e dos ingleses The Libertines, que voltam ao país depois de uma década, agora com a formação original.

E por falar em fãs de Wilco, eles deram um show. Ao contrário do que geralmente acontece em outros festivais em que, ao esperar a maior atração, o público desrespeita ou pouco se interessa dos primeiros artistas a se apresentarem, foi vista uma recepção calorosa às apresentações que vieram antes: Bixiga 70, Ava Rocha e Ratatat.

Se um festival não é feito só de shows, a produção acertou mais uma vez e soube aproveitar bem a área, facilitando a circulação entre os presentes e espalhando bares e banheiros estrategicamente. Mesmo no horário de maior movimento, as filas estavam controladas e sem grandes problemas. A oferta de comida também foi agradável, com boas opções de cardápios vegetarianos.

A facilidade de acesso e o incentivo ao uso de transporte público (a organização disponibilizou um bilhete de metrô para todos os presentes) foi outro ponto interessante do evento, em uma parceria firmada com a marca Heineken. Um sábado e tanto, uma experiência e tanto. Popload colocou de vez seu nome no panteão de festivais mais adorados pelos fãs, ainda mais depois de trazer bandas aguardadas pelos fãs há tanto tempo.

Bixiga 70

Chamado “aos 45 do segundo tempo” para substituir o trio estadunidense Battles, o coletivo paulistano não decepcionou em sua apresentação cheia de animação que abriu o festival como se deve ser: em clima de festa. Com um repertório variado e recheado de hits, era possível ver a todo tempo pessoas dançando ao seu redor ou pulando ao som do conjunto de metais. A banda ainda deu show de simpatia à parte em suas interações com o público.

Ava Rocha

Mais que uma tradução do que foi visto em seu disco de estreia, Ava Patrya Yndia Yracema, o show peculiar é na verdade uma manifestação artística que ultrapassa as barreiras impostas no formato de álbum. As músicas ganham um novo sentido com a performance altamente teatral da artista. Como ponto alto, destacaria a saideira Você Não Vai Passar, música mais cantada entre os fãs.

Ratatat

A maior surpresa da noite. O show foi absolutamente Magnifique, se me permitem a piada ruim. Ao vivo, tudo se encaixa melhor do que no disco, criando um aspecto mais orgânico para a música essencialmente Eletrônica da dupla. Os improvisos e o poder dos graves durante o show adicionam uma dimensão extra na música de Evan Mast e Mike Stroud. Isso sem contar também as projeções altamente psicodélicas jogadas nos telões enquanto o duo criava sua mistura igualmente lisérgica. Uma brisa e tanto.

Wilco

Se mais de dez anos separavam Wilco do Brasil, o mesmo não pode ser dito em relação a São Paulo, cidade que nunca havia recebido a banda. A primeira apresentação dos norte-americanos na capital paulista foi um show feito para fãs: duas horas de concerto – algo inusitado em festivais -, uma grande passagem pela discografia da banda e um clima de amor poucas vezes visto recentemente por aqui. Visivelmente emocionados e entregues, os integrantes colocaram uma multidão para cantar a plenos pulmões versos que normalmente são tão delicados e tornaram a primeira interação com os paulistanos especial e inesquecível aos presentes, que fazem parte agora do coro que clama por vindas mais frequentes ao país.

The Libertines

The Libertines sempre será sobre Pete Doherty e Carl Barât, inevitavelmente. Por isso, a estreia do importante grupo britânico no país, com sua formação finalmente completa, acabou sendo uma bela surpresa na noite por conta principalmente da interação ao vivo dos dois e do aspecto revival da apresentação. Ambos conversam ao pé do ouvido, cantam grudados e esbanjam uma tensão sexual que justifica a importância dos libertinos, principalmente no começo dos anos 2000, quando o Indie Rock começava a sair do ostracismo. A apresentação se sustentou nos esperados hits dos seus primeiros discos, como Can’t Stand Me Now e Time for Heroes, mas despencou a atenção do público quando surgiam músicas de seu último trabalho, Anthems for Doomed Young. Idiossincrático, o Garage Rock do quarteto é seu principal trunfo e o que se esperava naquela noite – para alegria e nostalgia de alguns indies velhos -, ouvir alguns hinos da adolescência cantados por Pete, fizeram o encerramento do Popload Festival valer a pena.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts