Interpol – “Antics”: Para Rir da Própria Dor

Disco de 2004 apresenta amargura da banda travestida de ironia

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Antics

Antics, no inglês, significa uma brincadeira, uma palhaçada, aquela boa zueira no melhor Pt-Br possível. E é uma palavra arcaica, o que só reforça seu caráter humorístico e/ou irônico – como se uma banda por aqui lançasse um disco chamado Folguedo, Gaudério ou Folgança. Esse espírito, ao encontro da amargura de tons graves que Interpol promove, alcança um nível de ironia que garante ao ouvinte 41 minutos de um entretenimento ora festeiro, ora masoquista.

Esse misto de intimismo e farra (outra boa tradução pra “antics”) vem acompanhado de letras grandiosas, com metáforas que quase chegam a forçar a barra no melodrama não fosse esse tal senso de humor presente desde o título do disco (“Se o tempo é meu navio, aprender a amar é meu caminho de volta ao mar”, Paul Banks canta no comecinho de Public Pervert, por exemplo).

Há espaço também para clamores apaixonados e sinceros até demais, como o “You should be in my life” de NARC, ou o “The problem is that you’re in love with someone else, it should be me, it should be me” de C’Mere. É o mesmo nervosismo que a banda apresentou tanto em PDA (de Turn On the Bright Lights, do disco anterior) quanto recentemente em All the Rage Back Home (de El Pintor, de 2014) ao lado do senso de humor de uma música com título Stella Was a Diver and She Was Always Down ou da proposição de abrir o relacionamento para ele funcionar em No I in Threesome (de Our Love to Admire).

Cabe ao ouvinte levar a sério ou não as músicas e as cenas que elas evocam, do romantismo exacerbado à vergonha alheia de ver alguém admitir que sofre à moda antiga. Antics pode ser também o dedo na ferida que acelera a aceitação de um processo doloroso, a permissão de rir de si mesmo e do passado mesmo se ele ainda machuca.

Como resultado, eis um grande disco que, doze anos após seu lançamento, ainda promove frios na barriga à medida que uma faixa, que você cantou a plenos pulmões, termina e dá lugar a outra que você nem lembrava que estava ali, comemorando os primeiros acordes como se estivesse em um show, quer você rie ou chore ouvindo.

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ARTISTA: Interpol
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.