MGMT: Meditação Transcendental Ativa

Um olhar sobre o passado da banda ajuda a entender também seu futuro

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Os anos 2000 assistiram a consagração mundial do Indie Rock. Aquela música pós-anos 90, enguitarrada, se tornou, ainda nos primórdios da década, o estilo que ascencionou bandas como The Strokes, The White Stripes, Franz Ferdinand e afins a um universo no qual festivais e blogs de música voltaram a ter um lugar privilegiado no imaginário de uma geração.

O final da década no entanto, começou a dar sinais que o protagonismo deste cenário apontaria para uma direção derivada: a Psicodelia, tão disseminada nos anos 70 teria seu retorno triunfal no próximo momento da história do estilo.

Na transição entre estilos musicais, décadas diversas, e atitudes que se confundem entre o mainstream e o alternativo, encontra-se a dupla norte-americana formada por Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser, que anunciou o lançamento de seu quarto trabalho. O que nos fez perguntar: o que, afinal, faz MGMT ser o que é?

A estreia da dupla, Oracular Spetacular, é o verdadeiro fenômeno da banda. Recheado de hits grudentos, o álbum reflete o zeitgeist do momento. Músicas dançantes consagradas no imaginário de um público que assimilou a lisergia proposta pela banda rapidamente. Neste momento a Psicodelia colorida, meio natureba, com ares de “hipponga da cidade grande” abriu o caminho para as facetas mais eletrônicas dessa música. “Live fast and die young” era o mote do grupo, e muitos “yeah yeah yeahs” marcavam presença nos seus refrãos.

A partir de seu segundo trabalho, Congratulations, a banda parece abdicar do seu sucesso comercial, do hype facilmente assimilado, para permanecer fiel à sua ideologia: a transcendência como forma de escapar à burrice cotidiana de nossa vida superficial. A banda perde um pouco sua atmosfera colorida e incorpora mais elementos de filmes de ficção científica aterrorizantes, como se fossem uma versão musical do filme Mistérios e Paixões (Naked Lunch) de David Cronenberg, inspirado na obra do escritor beatnik William S. Burroughs.

O terceiro álbum, MGMT, aprofunda mais ainda a relação de fidelidade da banda aos seus princípios. Em seu trabalho auto intitulado, ou seja, aquele que a banda vê como o que verdadeiramente reflete a personalidade do grupo, a esquisitice é a palavra de ordem, embora, ironicamente, esta assuma um ar muito mais sério. É neste trabalho também que a banda assume as suas influênciais reais, que pareciam ligeiramente esquecidas até então, deixando claros os traços de of Montreal e Animal Collective que marcam o DNA da banda.

Acredito que o desejo de muitos fãs da banda é embarcar na mesma viagem chicletenta que ouvimos nos primórdios do grupo. Após sua meditação introspectiva que fez MGMT permanecer fiel à si própria, talvez esse seja o momento ideal para conversar com seu público de maneira mais aberta e sem peso na consciência de voltar ao seu lado Pop.

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ARTISTA: MGMT
MARCADORES: Redescobertas

Autor:

é músico e escreve sobre arte