Slowdive: A Nostalgia e o Futuro Juntos

Em primeira viagem ao país, banda inglesa comenta a recepção e o processo de composição de seu novo trabalho

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Slowdive é uma banda gigante, não apenas no sentido de quantificar o número de fãs que a banda possui, mas ao qualificar sua sonoridade. Pioneiro do Shoegaze, estamos falando de um grupo que sofreu uma espécie de complexo de Van Gogh, no qual sua obra só foi plenamente compreendida após seu respectivo término em 1995. Entretanto, diferentemente do pintor holandês, o conjunto inglês tomou a decisão de se reunir após quase vinte anos de inatividade de alguns integrantes e outros projetos, como Mojave 3.

Uma pausa deste tamanho gera inúmeros questionamentos e anseios com relação à continuação de uma obra e é impossível imaginar que duas décadas teriam poucas mudanças em relação às últimas sonoridades que tivemos conhecimento da banda, presente em seu disco Pygmalion, de 1995. Aproveitando a recente passagem pelo Brasil, o Monkeybuzz pôde conversar com seus integrantes sobre todo este cenário de mudanças, bem como a repercussão do novo trabalho.

“Nós não tínhamos a menor ideia. Apenas confiamos nas pessoas dizendo que havíamos nos tornado mais populares”, afirmou o baixista Nick Chaplin entre um gole de cerveja e um riso de nostalgia desses tempos. Ele também comentou um certo cinismo da parte dele e do guitarrista Christian Savill quando começaram a ouvir esses rumores de que a banda teria se tornado uma lenda do Shoegaze. Entre os inúmeros “Slowdive é uma banda fantástica, vocês deveriam voltar!” ditos durante o hiato, Nick e Christian pareciam bastante incrédulos, apenas devolvendo o elogio com um “sério mesmo?” quase irônico.

O que é de se esperar, afinal, quando Pygmalion foi lançado, já estávamos falando de pouca procura para ver shows das bandas e discos com fracassos de vendas. Mas, de certa forma, essa percepção de que o finado Slowdive estava virando uma lenda acabou influenciando a decisão de reunir o grupo. “Acho que não teríamos tomado a decisão de juntar todo mundo, de diferentes partes da Inglaterra, interromper as respectivas vidas familiares e colocar nossos empregos em certo risco se não houvesse pessoas que quisessem escutar nossa música”, confirma Nick.

Com um novo disco recém-lançado, com notas altas entre os sites de música especializada, Slowdive parece ter usado esse grande hiato a favor de demonstrar uma sonoridade fantástica e madura, pouco estagnada do tempo. “Há pessoas que vão gostar, é claro. Mas, primeiramente, queríamos fazer um disco com o qual estivéssemos felizes”, comenta Christian. E por mais que estejamos comparando períodos diferentes da vida dos integrantes (a juventude e a pré-meia idade), a banda acaba percebendo que poucas coisas mudaram no sentido de suas referências. “Ainda gostamos das mesmas músicas que ouvíamos há vinte anos. Não demorou muito, uma vez que estávamos no estúdio, para perceber que as mesmas personalidades estavam lá da mesma forma que antes”, diz Nick.

É claro que não podemos ser ingênuos e achar que absolutamente nada mudou neste últimos vinte anos. A banda comentou que todos eram muito novos quando começaram a compor e toda a questão das inúmeras críticas negativas na época do clássico Souvlaki, bem como o fim do relacionamento de Rachel Goswell e Neil Halstead, afetaram os integrantes de uma forma bem mais intensa. Hoje, isso tudo ficou bem no passado. “Talvez estar em Slowdive não seja a coisa mais importante das nossas vidas, embora seja uma grande parte!”, comenta Nick.

De qualquer forma, o disco saiu e a recepção tem sido fantástica. “Acho que eles estavam esperando um novo Pygmalion, comenta Nick em relação à expectativa dos fãs. O novo álbum acabou mostrando partes de cada uma dessas fases (até mesmo o primeiro trabalho da banda, Just For A Day, entrou no caldeirão de auto-referências para este trabalho) e revelando uma certeza muito clara daquela sonoridade fantástica que moldaram nos anos 90. “Mas, no geral, não acho que seja um disco tão diferente. Talvez o próximo seja!” (neste momento tive que segurar minha alegria ao ouvir que pode haver um novo trabalho).

Após tanto tempo, a banda finalmente veio ao Brasil para a mais recente edição do Balaclava Fest e a banda pôde perceber essa animação, principalmente nos shows anteriores, como no Chile. “Houve muito interesse online e realmente pensávamos se era apenas por dizer ou uma vontade plena verdadeira”, comenta Nick. Após o show de domingo, tivemos certeza que os entusiastas brasileiros possuíam era bem mais do que uma vontade de ver Slowdive ao vivo, mas de agradecer por discos tão incríveis e por uma performance espetacular que compensou a demora de vinte anos.

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ARTISTA: Slowdive
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique