Alt-J: Epítome da Geração Y

Grupo parece afiado para lançamento de seu terceiro álbum, “Relaxer”

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Dizem que as melhores obras de arte são aquelas capazes de refletir o mundo na qual estão inseridas. Alt-J, banda inglesa formada por Joe Newman, Thom Green e Gus Unger-Hamilton é uma espécie de epítome de nossos tempos, uma expressão criativa que só é possível graças à existência da geração Y: ansiosa, mas livre de quaisquer amarras criativas e, principalmente, explosiva na forma como constrói sua música.

Não é difícil imaginar Alt-J como um representante millennial ideal, já que o próprio nome do grupo parece atestar isso irrefutavelmente. “Alt-J” é um atalho no teclado do Mac para a forma de um triângulo. No entanto, vale atentar para a inteligência do grupo na maneira como essa utiliza seus símbolos, desconstruindo a realidade e se expressando sempre através de metáforas, uma fórmula de composição que rendeu ao grupo o Mercury Prize após o lançamento de seu álbum de estreia, An Awesome Wave.

Esta é uma banda formada por integrantes que cresceram as proposições mais loucas de Radiohead – digamos, tudo o que o grupo fez entre Kid A e The King of Limbs – como um patamar a ser superado. E pensar em uma geração que aprendeu a pensar através de links, e não de uma narrativa linear e entediante de livros didáticos, pode explicar o modo como sua música é construída.

Podemos pensar alguns exemplos pontuais para tentar definir do que é feito Alt-J. Não por acaso a banda parece obcecada pela morte (e por explosões), uma imagem extrema, mas que ilustra bem o pensamento do trio. Taro, uma música sobre a fotógrafa de guerra Guerda Taro, que morreu no exercício da profissão, narra seus últimos momentos de vida com imagens esparsas que formam um quadro incompleto, mas suficiente para sensibilizar aquele que a ouve: estamos ouvindo uma narrativa fragmentada sobre uma fragmentação. O clipe de Breezeblocks, visto de trás para frente, também funciona para alterar nossa perspectiva a respeito de uma relação abusiva, também marcada pela morte. Matilda, faixa inspirada pelo filme O Profissional, também constrói um cenário tenso à volta de uma granada prestes a explodir.

É claro que a banda não se resume a narrativas violentas, mas estas servem para evidenciar como existe muito material simbólico escondido por baixo das camadas mais evidentes de suas canções, que nunca entregam o jogo de maneira óbvia. “01110011”, é primeiro verso de In Cold Blood, nova faixa do grupo lançada na antecipação de seu terceiro álbum, Relaxer. Trata-se de um código binário, dito ao contrário, que também significa “∆”: mais uma prova de Alt-J não só não perdeu o ritmo de trabalho, como parece aprofundar cada vez mais seu imaginário simbólico e enigmático em nome da arte, para o deleite dos fãs.

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ARTISTA: Alt-J
MARCADORES: Redescobertas

Autor:

é músico e escreve sobre arte