Entrevista: Phoenix

Guitarrista Christian Mazzalai comenta produção do novo e sexto álbum, “Ti Amo”

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Fotos: Antoine Wagner

Ti Amo é o nome do disco que será lançado no próximo 9 de junho por Phoenix, uma das bandas mais queridas pelos leitores Monkeybuzz – se ela não está na sua lista de favoritas, certamente está na de muitos de seus amigos.

Na corrida para a divulgação deste que é seu sexto álbum, o guitarrista Christian Mazzalai conversou com o site sobre o novo trabalho. Fã de Chico Buarque (Construção é o seu favorito, “estava ouvindo muito na época em que gravamos o disco”), ele comentou o lançamento para além daquilo que já sabíamos dele, como a influência da música Disco Italiana ouvida nos singles J-Boy e Ti Amo, um clima feliz e dançante que a banda enxerga como um comentário político, como ele mesmo explicou.

Monkeybuzz: Quando olhamos a discografia da banda, é nítido como cada lançamento carrega uma identidade única. Isso é intencional ou acaba sendo espontâneo?
Christian Mazzalai: Acho que os dois, porque não sabemos ainda o que vamos fazer quando entramos no estúdio. Temos uma página em branco e os quatro tratam de criar algo novo, rejeitando o disco anterior. Não queremos usar os mesmos artifícios de antes, então passamos meses fazendo ideias novas crescerem e tomarem forma.

Mb: Na carta enviada à imprensa, vocês afirmam que Ti Amo é um disco de emoções mais cruas, como “amor, desejo, luxúria e inocência”. Para você, esse retorno ao que é mais básico, mais essencial, acontece quando um artista está mais maduro – no seu caso, após ter feito cinco discos antes?
Christian: Talvez, sim, é uma boa perspectiva. Você cresce e retorna àquilo que é mais básico. É o que queríamos trabalhar no disco, as primeiras emoções, as mais simples, procuramos a pureza da simplicidade emocional, que é o amor.

Mb: E quanto à identidade da banda como um todo, como vocês querem que Phoenix seja visto?
Christian: Queremos ter controle sobre nossa música em todos os aspectos, dos vídeos às artes, e queremos que a música venha em primeiro lugar. Nossa identidade é essa, quatro amigos franceses que tocaram a vida toda juntos. Estamos crescendo e nos inspiramos em nossos ídolos, como David Bowie ou Serge Gainsbourg, que também sempre tinham algo diferente para oferecer. Para nós, isso é importante.

Mb: Musicalmente, eu noto que Phoenix tem uma identidade muito clara, ainda que cada disco seja diferente um do outro. Há algo nas escolhas de timbres e na produção que fazem você dizer “isso é Phoenix” desde músicas como Too Young (do primeiro disco – United, 2000), mas principalmente depois de It’s Never Been Like That (o terceiro álbum, de 2006). Como você percebe essas coisas?
Christian: Não é tão claro para mim, acho que é apenas o nosso DNA que acaba ficando impresso em tudo o que fazemos. Mas é verdade que It’s Never Been Like That foi um grande passo para nós, quando encontramos nosso caminho. Foi quando percebemos que a coisa mais importante da música era capturar um certo charme, a emoção de cada canção. Foi quando aprendemos a trabalhar aquilo que era tendência de uma maneira mais natural.

Mb: Ainda sobre isso, Wolfgang Amadeus Phoenix é para muitos, e eu concordo, um dos grandes discos não só da banda, mas daquela época. De qualquer forma, foi um marco muito significativo na sua discografia. Trabalhar em Bankrupt ou agora em Ti Amo vem com uma pressão maior por conta disso? Christian: Sempre há pressão quando você faz uma música nova, mas ela é interna, ela vem do medo de apenas repetir uma fórmula. Se sentimos que uma faixa nova faz isso, jogamos ela no lixo. Não dá para ficar pensando no passado, no futuro ou no mundo lá fora quando você está no estúdio, tem que focar naquilo que você quer fazer e pronto.

Mb: Desta vez, vocês optaram por trabalhar em horário comercial no estúdio, bem mais regrado do que as gravações de madrugada do passado. Como você acha que essa mudança de dinâmica alterou o produto final (ou seja, o novo álbum)?
Christian: Nós nunca fomos tão produtivos quanto dessa vez. Nos primeiros discos, nós gravávamos a noite toda e dormíamos durante o dia, depois percebemos que acordar cedo te dá uma chance melhor de estar aberto ao mundo, de sacar como ele é, de abrir os braços para a vida.

Mb: Vocês comentaram que Ti Amo é um disco apolítico e que, ao mesmo tempo, lançar um disco assim hoje em dia já é uma forma de protesto. Como você vê essa questão?
Christian: Não queremos ser abertamente políticos, porque não somos esse tipo de artista. Há aqueles que fazem isso bem, mas não achamos que é o nosso caso. O que aconteceu é que havia tanta tensão dos ataques terroristas em Paris enquanto gravávamos que nos deu vontade de criar um “paraíso perdido”, um lugar mais colorido em resposta à escuridão dessa época, o que acaba sendo nosso comentário político também.

Mb: Qual o papel que você acha que a música possui no mundo hoje?
Christian: Acho que a música sempre foi a melhor maneira de esquecer da sua dor. Dançar enquanto ouve a música é uma das coisas mais poderosas que existem. Te dá a chance de entrar em um universo novo, se distanciar dos problemas e ver as coisas de maneira diferente. A arte faz isso.

Mb: Seus shows são sempre muito loucos. O que você mais gosta neles?
Christian: Justamente essa loucura toda (risos), quando é algo muito além do seu controle. É isso o que procuramos, o prazer de ver a música ganhar uma vida própria. Na última vez que tocamos em São Paulo, nossa vontade era não sair do palco, de tão bonito que estava. Essa emoção é a melhor coisa.

Mb: Para acabar: Se você pudesse voltar no tempo e dar um conselho para quem Phoenix era em 2000, quando lançou United, o que diria?
Christian: “Vá tocar na América do Sul logo” (risos). Nós demoramos muitos anos para irmos aí, e foi onde fizemos nossos melhores shows. Se eu soubesse, teria ido antes.

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ARTISTA: Phoenix
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.