Entrevista: Mallu Magalhães

Álbum “Vem” é assunto em conversa durante sua passagem pelo Brasil

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De tudo o que pode ser dito sobre Mallu Magalhães, o mais relevante é sempre notar a força criativa que sua sensibilidade possui. A maneira com que ela fala de seu trabalho é a de uma artista que sabe bem aonde quer chegar e conhece os caminhos por onde precisa pisar para entregar uma obra de alta qualidade.

É o caso de Vem, seus mais recente lançamento e motivo de sua vinda ao Brasil. Durante a maratona de entrevistas e aparições na mídia para promovê-lo, Mallu sentou-se e conversou o Monkeybuzz por telefone, para, com muita simpatia, revelar um pouco mais sobre o disco.

Monkeybuzz: Quandi Você Não Presta saiu, o que mais chamou a atenção de primeira foi a grandiosidade do som proposto, e o quanto ele é volumoso – principalmente se compararmos com músicas de Pitanga, por exemplo. A ideia era fazer algo maior que o disco anterior, foi intencional trabalhar esse volume de som?
Mallu Magalhães: É e não é intencional. Geralmente, a gente tem mais intenção nas questões de conceito, de aonde a gente quer chegar, do que na estética. A gente não se prende tanto a referências, não fala “bom, agora vamos usar bastante esse tipo de som”, sabe? É mais uma pré-determinação das intenções. Com Vem, a intenção era ele ser um disco para o mundo, um disco da rua e para a rua, mais do que um disco caseiro, como era o Pitanga, por exemplo. Com isso, vem também essa intenção mais firme, essa vontade de reiterar minha confiança e até a minha autonomia, minha autenticidade.

Mb: Outra impressão é a de que seu vocal acompanha essa grandiosidade toda, sua interpretação está mais firme, decidida. Mallu: Sim, total. Às vezes, as pessoas falam: “Nossa, nunca vi você cantando assim, blá blá blá”. Quando eu comecei a cantar, e eu tocava com uma banda de Rock e Blues, eu cantava exatamente assim. Só que eu tinha 15 anos e minha voz era mais aguda ainda. Acho que eu já tinha bastante bagagem de vida, porque eu sempre fui uma pessoa muito intensa. Embora eu tenha pouca idade, as coisas que eu vivi acabam tendo um peso bem marcante. Acho que esse é o disco em que eu esteja mais “cantora”.

Mb: Pois é, essa postura de “cantora” combina bem com o teor mais de “canções românticas de música Pop”, do jeito mais “clássico” de se fazer. Mallu: Acho que tem tudo a ver quando você coloca assim, mas acho que Vem tem um pouco menos… como vou dizer? É menos “meloso”, sabe? Ele tem o romance, mas ele é um pouco mais “independente”, de uma certa maneira. Acho que o que há de romântico é mais do que uma relação amorosa. Existe um romance para com a vida.

Mb: Sobre a inspiração no Samba, como foi trabalhar o ritmo dentro dessa estética proposta, com tanto volume, tanto corpo?
Mallu: Acho que deu certo, porque eu poderia ter acontecido o oposto, achado que ficou ruim com a minha voz (risos). Para mim, esse Samba volumoso que a gente faz é bem moderno, tem uma bagagem do passado, mas é bastante realista, é bastante de hoje. Então eu me identifico com ele, ele não fica totalmente distante de mim, das coisas que eu faço, acredito e tal.

Mb: Ainda sobre isso, Criolo lançou um disco de Samba recentemente, Wado anunciou que lançará um no ano que vem. Por que esse retorno ao estilo hoje?
Mallu: Talvez o Samba, por ter um caráter muito generoso, é muito atraente. A gente está vivendo um mundo muito cruel, é tudo muito à flor da pele, é tudo muito. O Samba, por ele ser convidativo, por não julgar ninguém, é generoso. Todos os artistas do Samba que vem falar comigo são sempre muito dóceis, muito amigáveis, não existe nenhum tipo de preconceito por parte deles, assim como o pessoal do Rap e Hip Hop, que também é tão gentil, inteligente e tão humano, acima de tudo. Acho que tem a ver com isso, de resgatar esse Brasil humano e mais amável através do Samba.

Mb: Vem parece ter dois lados, A e B, muito bem definidos, um até Por Telefone, com músicas de temas mais gerais, e outro desde Navegador de músicas mais introspectivas, até autobiográficas. A intenção era ter essa divisão definida mesmo?
Mallu: Não. Acho que é um equilíbrio que a gente chegou até mesmo inconscientemente para fazer o disco, tipo tem os hits para cantar junto, para tocar na novela, e tem também as músicas mais conceituais depois.

Mb: I Love You parece ser um resgate daquele som que você fazia há anos, no início da carreira. Como foi a escolha dela para o repertório?
Mallu: Foi antes de mais nada uma questão estética, “que música bonita, vamos colocar essa música bonita no disco”. Mas acho que tem sim essa coisa de resgatar um pouco do que era, que também é legal.

Mb: E sobre Casa Pronta, como foi gravá-la para o álbum com um novo arranjo, sabendo que era uma música que as pessoas já conheciam e gostavam?
Mallu: Acho que foi um desafio. Marcelo decidiu fazer um arranjo clássico e eu concordei totalmente, ela tinha que ter o molhadinho das percussões, umas cordas chiques. É como se ela fosse uma música bonita e agora ela viesse vestida de noiva (risos).

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MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.