O Universo Retrô Futurista de Palmbomen

Músico conta sobre processo de criação musical e de vídeos com estética VHS

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Flutuar entre décadas perdidas, esta é a sensação de quem ouve pela primeira vez as músicas Lo-fi de Palmbomen II. O projeto de Kai Hugo protagonizou um live que impressionou o público no showcase do Dekmantel em São Paulo, no último fim de sábado (30). Ganharam destaque no show as faixas dos discos Palmbomen II (2015) e Memories of Cindy (2017), ambos lançados pelo selo Beats in Space Records.

Não existem palmeiras na Holanda, por isso Kai preferiu utilizar o nome da árvore em holandês, a tal “palmbomen”. Sua sonoridade busca mexer com fantasias, naquela ânsia por algo inexistente. E nada melhor do que misturar sonoridades analógicas, entre a House de Chicago e Ítalo-Disco, com Acid Futurista, para deixar os ouvintes confusos.

“Parece um som gravado de um telefone ou fita cassete” – brinca a personagem do vídeo Leo Danzinger, da série dirigida pelo músico em linguagem VHS, um dos diferenciais do lançamento de Palmbomen II em 2015. O álbum foi gravado numa temporada na casa de sua mãe na Holanda, no verão europeu de 2013, quando aguardava pela emissão do visto para os EUA. Os vídeos foram inspirados nos dias que passou trancado no quarto assistindo episódios de Arquivo X. Os nomes da música são personagens da série. E tudo foi registrado em fita cassete.

Filho de uma pianista, Kai aprendeu violino aos 10 anos e é formado em um conservatório de música. Começou se aventurando nas produções musicais utilizando equipamentos analógicos, o que inspirou a criação do selo voltado para este formato de produção, o NON Records. Pela label, fez um duo chamado Ganz Nackisch, com uma ex-namorada. O debut como Palmbomen I foi com o EP Moon Children em 2010, que teve lançamento no lendário clube Trouw de Amsterdam e o fez ser convidado para participar da compilação anual do selo francês Kitsuné.

A partir daí, foi selecionado para a turma de 2011 do Red Bull Music Academy, na qual foi colega de gente como xxxy e OM Unite. Ganhou remix do Soulwax/2manyDJs, participou da trilha sonora do game Grand Theft Auto V. Em 2013, apostou nos vocais retrofuturistas do seu primeiro disco, o Night Flight Europa (NON Records). Criou uma parceria com Betonkust. Hoje, ele se concentra em utilizar hardwares, compor e fazer vídeos do disco do projeto Palmbomen I.

O Monkeybuzz conversou com Kai Hugo para saber mais sobre o processo criativo do músico

Monkeybuzz: Quais são os planos para Palmbomen I?

Kai Hugo: Eu separei Palmbomen em I e II. O II é meu lado Eletrônico com o qual estou viajando agora em tour. O I é o meu trabalho feito com banda, no qual eu não quero que tenha nenhuma música Eletrônica sequenciada. São apenas instrumentos sendo tocados. E agora estou trabalhando duro em um álbum e um filme para o Palmbomen I. Eu queria dividir coisas sequenciadas (PII) e todas as coisas tocadas ao vivo (PI). Há algumas sobreposições no domínio do som entre os dois, mas é mais uma divisão prática.

Mb: Quem são os outros músicos envolvidos no Palmbomen I?

Kai Hugo: Todos são amigos de LA que tocam em bandas locais de lá.

Mb: Como você conheceu Betonkust? O Center Parcs foi gravado num parque?

Kai Hugo: Ele é um dos meus melhores amigos e estudamos música juntos. Sim, o Center Parcs foi gravado dentro do parque Center Parcs De Eemhof (fica em Amsterdam, na Holanda). Minha música é feita em formato live com elementos simples, por isso eu consigo fazer música em todos os lugares. Então, um dia nós dois decidimos buscar uns equipamentos. Betonkust trouxe uma drum machine, um antigo sintetizador Yamaha DX e alguns alto-falantes. E começamos a fazer trilhas nesse parque turístico de férias. Essa parceria funciona muito bem entre nós. A primeira track gravada foi 24×33 e depois fizemos mais três ou quatro faixas.

Mb: Onde foi gravado Hotel Breukelen? Por que os EPs foram lançados nos rótulos 1080p e Pinkman?

Kai Hugo: Foi gravado no quarto deste hotel muito engraçado. Breukelen é uma pequena cidade na Holanda. Nós lançamos na 1080p e Pinkman porque eles surgiram no nosso caminho e realmente gostamos das músicas que saíram nestas labels. Além de sermos amigos dos organizadores.

Mb: E quanto ao selo NON Records? Ainda está rolando?

Kai Hugo: Eu conheci muita gente legal ao criar esse selo e fazer acontecer. Mas encerrei as atividades.

Mb: O que mais o fascina sobre as dificuldades de compor com velhos instrumentos analógicos para criar música na era digital?

Kai Hugo: Meus instrumentos não são totalmente analógicos. Na verdade, são muitos dos primeiros sintetizadores digitais. É tudo hardware. Não gosto de usar computadores. Eu gosto de tocar com hardware porque é muito claro o que você faz. Assim, você pode montar um live de forma fácil e direta. O jeito de fazer um live é algo muito importante para mim. Na verdade, eu também acho muito fácil fazer faixas desta forma. E eu nunca gasto mais do que um dia trabalhando em uma música. E então está terminado. Totalmente. A única desvantagem é ter que viajar com vários equipamentos de hardware. Mas eu faço meu dinheiro com isso, então está tudo bem.

Mb: Quais modelos de sintetizadores você comprou recentemente?

Kai Hugo: Hum… não muitos, não sou tão louco por um sintetizador específico. Eu vendi todos os meus antigos sintetizadores analógicos porque já me aborreci com eles. Primeiro, um Jupiter 4 e depois ARP 2600. Apenas não são práticos. Eu prefiro romplers digitais que têm muitas possibilidades, além de serem baratos e leves. Como o JV1010 ou Wavestation. Synths de 100 dólares. Eu não curto essa ideologia extrema de sintetizadores e equipamentos caros. Não tem nada a ver com música. Eu tento evitar tudo isso. Então, quando eu quero inspiração eu prefiro fazer sons com os synths que eu já tenho ao invés de comprar novos.

Mb: Quais são os seus maiores achados de música analógica? Existe algum equipamento antigo que você mantém com mais carinho?

Kai Hugo: Nada (risos). Não quero depender de nenhuma máquina e nada é santo para mim. Eu gosto de encontrar sintetizadores baratos que possam me ajudar de alguma forma. E é isso.

Mb: No momento da gravação do álbum Palmbomen II, você adotou uma rotina em que gravava várias músicas todos os dias. Você ainda está na mesma rotina de produção musical diária? Isso se manteve mesmo em Memories of Cindy?

Kai Hugo: Sim, eu gosto de trabalhar muito rápido. Gasto um dia em uma música, no máximo. Quero sentir frescor no projeto. No dia seguinte, você quer mudar as coisas e perde esse sentimento que você tem quando faz uma música nova na hora.

Mb: Você estava na casa da sua mãe esperando para obter seu visto para os EUA quando gravava o Palmbomen II. A criação de Memories of Cindy aconteceu em sua casa em Los Angeles? A mudança de situação e ambiente é refletida na atmosfera das músicas?

Kai Hugo: Sim, eu gravei em Los Angeles. Eu acho que, lá, eu estava mais no meu próprio mundo. Digo no sentido de que eu estava fazendo vídeos das tracks ao mesmo tempo em que eu estava com Blue (a garota que interpreta Cindy) cantando algumas de minhas músicas. Eu acho que isso fez a diferença. Eu tinha mais foco no que eu queria e em como eu desejava que meu “mundo” se parecesse.

Mb: E a produção de seus vídeos? Hoje você já pensa em criar uma música visualizando como seria em um vídeo?

Kai Hugo: Sim, agora, estou fazendo um álbum em formato de banda com Palmbomen I e produzindo um filme para o disco, tudo ao mesmo tempo. Nesse processo, eu faço músicas pensando numa certa cena, mas também tenho idéias para uma cena através de uma música. Isso funciona vice-versa e é uma mistura muito boa para mim. Tenho controle desses dois lados, vídeo e música.

Mb: O vídeo de Memories of Cindy tem a mensagem: “Samanthas Musical Facts: It costs $50 to make this song. $500 for this video. A professional video costs typically $20000”. Qual é a parte divertida sobre fazer uma produção de vídeo de baixo orçamento?

Kai Hugo: Bem, eu gosto de me sentir livre, sem ter muitas restrições ou precisar executar algo que tenha obrigação de parecer “profissional”. Essa mensagem foi uma piada no sentido de que, na Holanda, você pode produzir um vídeo musical se fizer parte de uma banda patrocinada pelo governo. Você pode facilmente orçar $20.000 num vídeo e apenas tem que fazer algo que pareça “profissional”. Todas as coisas que estão saindo bancadas dessa forma são incrivelmente feias e estúpidas. Meus amigos e eu temos muitas críticas em relação ao mundo da arte financiada pelo governo holandês.

Quem é Kelly Thomas? E Camila Saldarriaga? Nereida? Você pode nos contar mais sobre essas pessoas que fazem os vídeos com você?

Kai Hugo: Eles são todos amigos! Kelly é minha diretora de arte e trabalha em Los Angeles em grandes produções também. Ela sempre me ajudou muito em todos esses vídeos. Com Camila, eu fiz esse primeiro vídeo da série Memories of Cindy. E ela dirige suas próprias produções que são lindas! E Nereida cuidou do figurino algumas vezes. São apenas amigos ou amigos de amigos que estão sempre empolgados para criar!

Mb: Qual modelo de câmera VHS você usa?

Kai Hugo: Estava usando uma câmera S-VHS. Essa é a versão HD da VHS. Eu acredito que tem o dobro da quantidade de linhas de definição. Você pode fazer imagens melhores. Usei a Panasonic AG450 e tenho três ou quatro delas. Mas eu confesso que essas câmeras sugam muita energia! Estou mudando para filmadoras de 16mm no meu filme do álbum do Palmbomen I. Eu finalmente parei de usar as S-VHS!

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