Car Seat Head Quem?

Uma pequena história da banda que é uma das revelações recentes do Rock

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Há algum tempo, escrevi que o rito de passagem da adolescência para a vida adulta, que consiste em abandonar a casa dos pais para fazer faculdade, talvez seja um dos dramas mais prolíficos da música alternativa nos Estados Unidos.

O abandono de um território familiar, cercado de amigos e afetos, em direção a uma vida nova e cheia de responsabilidades configura uma espécie de limbo emocional, carregado de ansiedade. Escrever suas confissões em um diário, tocar guitarra e gravar suas composições dentro do quarto são elementos que formam esse ethos de um jovem adulto americano. São muitos os exemplos possíveis, de Neutral Milk Hotel, passando por (Sandy) Alex G e chegando até Jay Som.

Nesse meandro, se encontra a banda liderada por WIll Toledo chamada Car Seat Headrest. No entanto, se a banda tem como tema principal as angústias de um jovem que precisa encontrar seu lugar no mundo, seu diferencial em relação às outras é a maneira como conseguiu incorporar essa passagem dentro de sua trajetória.

Na fase inicial do projeto, Will Toledo chegou a gravar 9 álbuns em regime lo-fi, feitos de maneira solitária – o nome da banda faz referência ao carro no qual se trancava para poder gravar vozes com mais privacidade -, subindo todos para a plataforma Bandcamp. Eventualmente, a banda acabou por chamar a atenção de Chris Lombardi, fundador do selo Matador. Algo aconteceu: Car Seat Headrest fez a passagem de seu território intimista para a vida adulta. Teens of Denial, o primeiro álbum sob a batuta do selo, atingiu quase imediatamente o status de álbum cult alternativo, como disse André Felipe de Medeiros em sua resenha:

“Um apanhado de pequenas narrativas que resumem com certo humor algumas situações vividas ou testemunhadas na adolescência e nos anos que logo a sucedem, Teens of Denial entrará para a história como o disco que colocou Car Seat Headrest no mapa… uma obra que tem tudo para ser apreciada em nível “cult” pelas próximas gerações, o que só é possível por uma alta qualidade calcada por liberdade criativa, fluência no(s) estilo(s) e propriedade no discurso.”

Car Seat Headrest tem uma sonoridade agressiva inspirado por bandas como Nirvana, Green Day ou The Strokes, mas se apropria dessa linguagem para construir sua própria narrativa. A banda foi adotada pelo site Pitchfork como a promessa da nova geração. “Hey Hey, My My, Rock n’ Roll can never die” cantava um esperançoso Neil Young na virada dos anos 70 para os 80, com um coração pleno de esperança que o estilo estaria à frente dos demais pelas próximas décadas. Como sabemos, não foi bem isso que aconteceu, mas de tempos em tempos algum novo expoente vem para reacender o interesse pelo estilo. Lembra quando os Strokes salvaram o Rock em 2001? É mais ou menos esse movimento pelo qual passa Car Seat Headrest, por enquanto uma banda às margens da indústria e orgulhoso detentor da ética lo fi, mas destinada a grandes públicos em poucos anos.

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MARCADORES: Redescobertas

Autor:

é músico e escreve sobre arte