Ryley Walker: “Faço Rock Progressivo Alcóolatra do Meio Oeste”

Por telefone, músico norte-americano conversa sobre o recente “Deafman Glance”

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Menos de dois anos dividem as duas entrevistas que Ryley Walker deu ao Monkeybuzz, período que separa também os lançamentos dos discos Golden Sings that Have Been Sung (2016) e o recente Deafman Glance. Dono de uma discografia formada por pontos muito altos, o norte-americano de 29 anos parece ter amadurecido musicalmente de maneira bastante prodígia, tendo em vista a qualidade com que suas obras nos chegam. Conversar com ele, ainda que por telefone (como foram ambas as entrevistas) ajuda a situá-lo no tempo como alguém que, mesmo que sua música não demonstre, nasceu em 1989.

Tem a ver com sua voz, bem diferente ao falar daquela que ouvimos cantando nos discos, e também com uma leveza em suas frases bem diferente de uma amargura que parece ser muito natural em suas músicas. Ao invés de um anticlímax, enxergá-lo como um cara mais normal do que parece adiciona uma camada interessante ao que percebemos dele.

Esse tom mais mundano, mais comum, surgiu logo na primeira resposta da nova entrevista. Quando perguntado sobre a decisão de ter a guitarra elétrica mais evidente no novo disco, ele explicou que “foi uma decisão estética e econômica. Meu violão quebrou e eu estou sem grana para consertar, daí falei ‘foda-se, vou compor na guitarra mesmo’. Acabou virando um som completamente diferente do de antes, porque eu não fazia isso desde que era adolescente. Foi legal dar essa levantada no som”.

Com uma nova sonoridade, o adjetivo “Folk” usado por muitos para classificá-lo pede uma revisão de conceitos de quem chegava ao álbum com essa expectativa. “Eu entendo a necessidade que as pessoas têm de contextualizar a música sobre a qual elas conseguem falar, mas eu acho que a música Folk é algo bastante consistente, e não tem nada disso nesse disco”, explica ele, “eu o classificaria como Rock Progressivo Alcóolatra do Meio Oeste (risos) esse é meu gênero”.

Sua primeira entrevista ao site, em julho de 2016, aconteceu às vésperas de seu primeiro show por aqui. Sobre vir tocar no país, ele comentou que isso sempre foi “um sonho”. “Cheguei em São Paulo e a cidade não terminava nunca, eu me senti pequeno e lembrei o quanto o mundo é grande”, conta ele, “e as pessoas são as mais legais do mundo, e todos são fucking lindos. Eu queria falar ‘você é a mulher mais bonita que eu já vi na vida’ para todas as que eu conhecia (risos). O que eu mais gosto de fazer é comer bem, beber muito e comprar discos, e eu consegui fazer tudo isso muito bem em São Paulo. Foram alguns dos melhores dias da minha vida, eu amo o Brasil. Se me chamarem pra voltar, eu largo o que estiver fazendo e vou”.

“Poder viajar para tocar é a maior fucking sorte que eu já tive na vida”, comenta Walker, “é maravilhoso poder conhecer o mundo, conversar com as pessoas. Aprendo tanto sobre a vida. Adoro estar na estrada por isso também, por descobrir muito sobre o mundo, poder fazer parte da cultura das pessoas por alguns dias. É importante saber valorizar essas experiências. Muita gente na indústria acaba ficando frio em relação a essas oportunidades, eu não quero que isso aconteça”.

Entre essas pequenas elucubrações e alguns risos quase debochados, a personalidade de Ryley Walker vai sendo construída ao longo dessas conversas, e cabe a nós, daqui desse lado, emparelhar suas palavras com aquilo que ouvimos. De qualquer forma, é sempre interessante notar os mecanismos que um artista precisa desenvolver para lidar com tudo o que a exposição traz, de bom e de ruim.

“Mesmo com os discos saindo com meu nome, nunca me vi como um artista solo”, ele comenta, “eu que escrevo as músicas, mas, o que acontece depois disso, está nas mãos da banda também. Ela é formada por meus melhores amigos, em quem confio muito, e eles têm tanta influência nas músicas quanto eu”. Independente dessa dinâmica, é Walker que tem a cara que está à tapa, e é ele quem acaba se expondo no palco e nas entrevistas.

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ARTISTA: Ryley Walker
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.