Periferia, Rap, Representatividade: Jeza da Pedra em três temas

Artista conversou ao site sobre os temas que rondam seu trabalho

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Fotos: João Pacca

Jeza da Pedra está às vésperas de viajar para a Alemanha, onde se apresentará na Parada do Orgulho LGBT de Colônia (a maior da Europa), além de um show em Berlim. Na volta, ele se apresentará no Circo Voador (Rio de Janeiro) em noite que reúne Letrux e Linn da Quebrada.

Uma agenda dessas impressiona qualquer um que estiver tendo um contato com o artista carioca só agora. No Monkeybuzz mesmo, ele apareceu pela primeira vez apenas há cerca de três meses, quando estreou a faixa Junto ao Meu Lado. Mas o rapper já se dedica à música em tempo integral há três anos, e uma conversa por telefone, rondando os assuntos mais pertinentes ao seu trabalho, facilita conhecermos melhor tanto sua obra, quanto o porquê – em suas palavras – dela não ter maior evidência no país.

Eis o que Jeza da pedra contou sobre:

O som da Periferia

“Os grandes subúrbios do Brasil têm uma grande produção independente, com home studios, onde fazem gambiarras polifônicas que, esteticamente, são ricas. Mesmo sem os ouvidos mais técnicos do mundo, é tudo feito dentro do recorte de mundo deles, do acesso que eles tiveram à tecnologia.

Me lembra a estética Grunge, você vê que não foi uma coisa polida feita em um grande estúdio, mas nem por isso perde a beleza. Essas peculiaridades são bastante enriquecedoras. Porque eu teria que gastar 25 mil para mixar em um estúdio tal e masterizar na gringa? Não, a gente consegue se virar muito bem, apesar do low budget (risos)”.

Rap no Brasil hoje

“A cena do Rap no Brasil é muito doida, tem uma grande dicotomia. Se você for no Spotify, vai ver que Rap e Hip Hop tem bombado pra caralho. Ao mesmo tempo que tem muita produção, sinto que tem certas minorias que tem se apropriado do som (as mulheres e uma galera que tem uma mensagem LGBTQI) que ainda tem uma repercussão muito tímida.

Quando eu penso em SP me vem na cabeça Linn da Quebrada, Rico Dalasam, pessoas LGBT fazendo Rap. Mas não tem se falado tanto sobre o assunto. Até onde isso tem a ver com o consumo? Porque tem público pra isso. Tem grandes festas disso.

É esquisito, eu queria não ter que imaginar que isso seria fruto de um preconceito. É difícil pensar que meu som não está sendo difundido até em veículos alternativos, em mídias independentes, por estar sendo taxado, por estar em uma redoma de música LGBT”.

Representatividade

“Eu acho muito importante que essas minorias tenham voz, elas precisam ter visibilidade. Mas o backlash negativo disso é que já vem com um rótulo que eu não acho que tenha a mesma receptibilidade do que o som que não tem esse tipo de etiqueta.

Ao mesmo tempo que meu som é bem recebido, parece que rola um ‘então tá, quando tiver alguma coisa em junho, que é o mês do orgulho LGBT, a gente entra em contato com você’. Mas eu tô no corre pra me destacar também. O sol brilha para todos (risos)”.

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ARTISTA: Jeza da Pedra
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.