Entrevista: Blondie

Banda tocará no Brasil pela primeira vez em novembro, no Popload Festival

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“Já fomos ao Chile e ao Peru, mas, por algum motivo, nunca tocamos no Brasil, não sei por que” – foi assim que a conversa com Clem Burke, icônico baterista da banda – ainda mais icônica – Blondie começou. É difícil mesmo acreditar que, desde sua formação inicial em 1974, o grupo norte-americano nunca pisou no país, um jejum que será quebrado na próxima edição do Popload Festival, em São Paulo.

Em um “lindo dia de sol em Nova York”, como ele contou, Burke falou ao Monkeybuzz por telefone sobre a vinda do grupo e sobre a produção de Pollinator, seu mais recente álbum.

Monkeybuzz: Agora que você tocou no assunto, vamos tirar essa pergunta do caminho logo: Como assim Blondie nunca tocou no Brasil antes?
Clem Burke, Blondie: (Risos) É estranho, porque sei que Blondie tem muitos fãs no Brasil. É inexplicável, meus amigos Ramones iam sempre ao Brasil, sei que o povo aí gosta muito de música. É engraçado perceber como somos uma banda tão internacional, mesmo sendo dos EUA. Nossos fãs estão espalhados por todo o mundo, é difícil conseguir chegar aonde precisamos ir.

Mb: Sempre foi assim, né? Vocês ficaram conhecidos primeiro na Europa, depois no seu próprio país. Burke: Fizemos sucesso primeiro na Inglaterra, depois Holanda e outros países na Europa. Nosso primeiro grande show foi na Austrália. Foi engraçado, porque a Austrália parece estar cinco ou dez anos atrasada no tempo, mas naquela época era ainda mais, parecia que estávamos nos anos 1950. Mas nos divertimos muito, foi o começo do nosso sucesso.

Mb: Lembro quando eu era mais novo e ouvi Blondie pela primeira vez. Seu retorno já era um grande acontecimento, como uma banda muito consagrada, de antigamente, trouxesse uma novidade. Só agora me caiu a ficha que isso já faz 20 anos.

Burke: Pois é, já estamos juntos há mais tempo depois da reunião do que estivemos antes. É interessante como aquele álbum, No Exit (1999), com a música Maria, chamou a atenção de muitos fãs novos, como você. Foi impressionante, ele ficou em primeiro lugar em muitos países, inclusive no Reino Unido. Acho que muito foi graças à Internet, que possibilitou que toda nossa história anterior pudesse ser conhecida por uma nova geração.

Mb: Imagino que bandas como Blondie estejam se dando bem com streaming, justamente porque qualquer pessoa que nunca tenha escutado antes pode ter acesso a todo seu catálogo de uma só vez.

Burke: Sim, é ótimo. Contanto que as pessoas possam ouvir a música, é isso o que nós queremos, tanto faz a maneira que ouça. Se gostarem, talvez queiram apoiar mais a banda. Acaba virando uma porta aberta ao nosso mundo. Nunca poderíamos prever isso. A longevidade de uma banda tem tudo a ver com a música. É óbvio que ter Debbie à frente, e tudo o que aconteceu em Nova York nos anos 1970, tudo foi um degrau que nos levou até hoje. Mas nada disso era previsível.

Mb: Além do tempo em atividade, há um grande legado que Blondie deixou, e não é difícil perceber sua influência especialmente nos anos 2000 quando o New Wave teve um grande revival. Qual a leitura que você faz disso?

Burke: Eu acho que o que aconteceu em Nova York com a cena do CBGB produziu um punhado de bandas influentes, como Ramones, Talking Heads, Patti Smith, e nós estamos ali no meio. E cada uma dessas bandas que eu mencionei era muito diferente das outras. Quando você pensa no Punk Rock do Reino Unido, por exemplo, é fácil perceber uma influência de Ramones. A paleta era mais diversa em NY. Com Blondie, nós nunca tocamos um só tipo de música, nossa influência ia desde trilhas sonoras até Elvis Presley, assim como Kraftwerk e tudo o que está no meio disso, Nina Simone, Donna Summer, The Rolling Stones… É um grande cozido musical. Hoje em dia, me parece que as pessoas não estão ouvindo um só gênero musical, principalmente com o shuffle no streaming, tudo está mais espalhado. É isso o que a gente sempre fez, nunca ficamos em uma só categoria. Por causa disso, acho que estávamos sempre pensando um pouco mais a frente. Quando você pega Heart of Glass, por exemplo, ela é muito diferente de Call Me, ou de músicas nossas mais antigas. As músicas têm uma mistura bastante eclética, acho que isso faz parte do legado de Blondie, e que isso tem a ver com a maneira com que as pessoas ouvem música hoje em dia. Ao invés de estar em uma caixinha, você busca todo um espectro musical – e é isso o que a gente procura. É engraçado, quando você pensa na influência que Rapture teve… Rapture é uma canção com um Rap no meio, uma grande melodia e um solo de guitarra Hard Rock. Essas coisas, na época, eram muito inovadoras, esses três elementos juntos não apareceram muito na música popular até anos depois – e isso é normal hoje. É ótimo poder olhar para trás e me orgulhar disso.

Mb: Você ouve Blondie em outras bandas?

Burke: Ah, claro. Novamente, tudo aquilo que rolou em NY naquela época influencia muito a música ainda hoje de várias formas. Mas sim, quando você ouve The Killers – que eu sei que são fãs de Blondie -, ou mesmo The Smashing Pumpkins, que já tocou nossas músicas… Você saca uma vibe mais Pop que Blondie tem.

Mb: Charli XCX, Nick Valensi e Sia trabalharam em suas novas músicas, assim como Joan Jett e Johny Marr, para citar alguns. Como é ter gerações diferentes no mesmo disco?

Burke: É engraçado, tem a ver com o que você disse antes. Essas pessoas eram todas fãs de Blondie e influenciadas por nossa música. The Strokes é uma banda que carregou a tradição do som de Nova York que faz sucesso primeiro fora dos EUA, tendo sido reconhecido antes na Europa. Joan Jett é nossa amiga há muito tempo, nos conhecemos desde a época de The Runaways, toquei em seu primeiro álbum. Johnny Marr também é amigo há muito tempo, já gente como Charli XCX e Sia são artistas que se conectam ao nosso som e nós, aos delas. Era uma boa combinação, nesse sentido. Uma coisa que as pessoas se esquecem é que nós sempre gravamos muitas coisas de outros músicos, e foi isso o que aconteceu em Pollinator, nosso álbum mais novo, do qual nos orgulhamos muito. Nós pegamos as músicas desses compositores e demos nossa cara a elas. Viraram nossas. Isso te dá uma nova perspectiva no processo de gravação, porque essas composições nos foram dadas. É uma dinâmica muito diferente de trabalhar um material próprio da banda.

Mb: E de onde vem a vontade de continuar inovando, experimentando, depois de tanta bagagem?

Burke: Nós sempre tentamos fazer algo diferente. Heart of Glass tinha influências de Kraftwerk e Donna Summers, o que não era uma combinação que tinha a ver com o que estava sendo feito na época. Foi engraçado com Pollinator, com a maneira que gravamos, quisermos estar todos nós juntos no estúdio, gravando as pistas juntos. A música era nova, mas os métodos eram tradicionais. Na turnê, tocamos quatro faixas desse novo disco, além dos grandes hits que todos querem ouvir e algumas músicas especiais também.

Mb: É isso o que podemos esperar do show no Popload Festival, então?

Burke: Com certeza. Ficamos bastante felizes por poder tocar, Debbie ama estar no palco, e tudo se completa com a reação da plateia. No caso do Brasil, as pessoas estão há muito tempo querendo nos ver, então espero que todos curtam.

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ARTISTA: Blondie
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.