Séculos Apaixonados celebra a vida acomodada em seu terceiro álbum

“Suspenso Graças ao Princípio da Insignificância” saiu na terça, 07 de agosto

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“A gente brinca que, nessa trilogia, o primeiro disco é meio ‘O que é isso?’, o segundo é “Será que vai ser isso mesmo?’ e o terceiro, ‘É, eu acho que é isso mesmo’ (risos)”, brinca Guerrinha sobre o lançamento de Suspenso Graças ao Princípio da Insignificância. Sem single, clipe ou mesmo um anúncio propriamente dito, Séculos Apaixonados colocou o álbum na praça na terça, 07 de agosto, com um post no Facebook que o explicava como “8 músicas sobre aquilo que mais importa na vida: a insignificância”.

O tal “acho que é isso mesmo” tem a ver com a acomodação proposta no tema central da obra, mas também com nossas expectativas em relação à banda carioca. Formada por nomes envolvidos em diversos outros projetos, como Letrux e Mahmundi, Séculos Apaixonados é irreverente, nostálgica e irônica em sua missão de trabalhar temas tão humanos em uma estética em cima do muro entre a plena identificação e uma grande zueira.

“Esse disco é um pouquinho menos floreado que os outros dois, que eram bem dramáticos”, contou Guerrinha ao Monkeybuzz por telefone, “o conteúdo das letras é um pouquinho mais pacífico, os outros eram muito afobados. Todas elas são sobre se situar no lugar onde você está, girando ao redor da ideia de insignificância – ‘você é meio que isso e é mais fácil você se acomodar do que criar dúvidas’. Não são letras sobre o cotidiano, mas elas romantizam um pouco a ideia de que você pode ter uma vida acomodada”.

“Quando escrevo as letras, sinto que posso usar a linguagem de um jeito um pouquinho diferente do que eu normalmente usaria. Essa é a beleza da coisa, você pode falar algo que, se fosse prosa ou poesia, seria tão idiota, mas, porque você tá cantando, aquilo ali pode ter um significado totalmente diferente”, explica.

Suspenso… chega marcado também por um período de grande produtividade dos membros do grupo em seus outros trabalhos, o que prolongou consideravelmente sua concepção – ele começou a ser feito em novembro de 2016 -, assim como seu conteúdo. Nas palavras dele: “Sabe quando as coisas vão sendo empurradas com a barriga e, quando você vê, tem um disco que tem que terminar? Várias coisas que a gente faz acabam indo para os outros projetos. Você tem que aprender a separar, é sempre importante saber se uma música cabe nisso ou naquilo”.

Sua produção começou em coletivo, com as experiências vividas também em coletivo como determinantes para a cara que o álbum apresenta: “Quando a gente fez O Ministério da Colocação (2016), a gente fez músicas que eram rápidas e porradeiras, saca? Só que basicamente a gente ia pros shows e… (risos) a gente sempre foi meio ‘selvagem’ em relação a bebidas e uso de drogas enquanto estava tocando. Quando a gente viu, estava todo show colocando música pesada atrás de música pesada. A gente viu que tinha que fazer umas músicas mais lentas, que deixassem a gente se soltar um pouco enquanto banda. Essas músicas são mais simples, são mais um groove. Isso é bom, é um lado da banda que nunca tinha sido explorado”.

O que fica da audição de Suspenso Graças ao Princípio da Insignificância é aquela inevitabilidade de quem chega ao terceiro disco ciente do que quer e do que pode fazer. É o tal do “É, eu acho que é isso mesmo” que fecha essa trilogia iniciada em Roupa Linda, Figura Fantasmagórica (2014). Um “eu acho” ironicamente humilde, um “é isso mesmo” fatídico e – por que não? – acomodado. É Séculos Apaixonados bem como a conhecemos e como se propõe a ser.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.