Sophie Hunger: “Meu sonho era escrever músicas que retratassem e glorificassem a mulher”

Cantora suíça lançou na última semana seu sexto álbum, “Molecules”

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Fotos: Marikel Lahana

“É engraçado, eu passo uma hora falando sobre as escolhas estéticas do disco, mas, no fim, parece que tudo aconteceu pelo que eu sentia” – confessou Sophie Hunger ao Monkeybuzz por telefone ao falar sobre seu mais recente disco, Molecules – “eu me apaixonei por alguém que curtia música Eletrônica e eu queria impressioná-lo (risos)”.

A história, é claro, é mais complexa do que isso e tem a ver principalmente com sua mudança para Berlim, o que ajudou a definir a sonoridade para este que já é seu sexto álbum. “Eu tinha acabado de me mudar para a cidade, e eu não queria ser uma turista boba, queria estar por dentro da cultura”, conta ela, “então comecei a fazer amizade com os músicos locais – o que foi muito legal, nada a ver com trabalho (risos). Daí tive muito contato com Krautrock e tudo me trouxe aonde estou hoje”.

Nascida na Suíça, a cantora, multi-instrumentista e compositora cresceu entre seu país natal, Inglaterra e Alemanha, o que a fez cantar em inglês, francês e alemão ao longo da carreira, sendo Molecules seu primeiro disco apenas em inglês. “Pensei em fazer um disco em um só idioma, para que ele seja menos confuso (ao menos para mim)(risos)”, brinca ela, “e quis trabalhar com Dan Carey, um produtor britânico, e achei que fazia sentido que ele fosse em inglês. Não quer dizer que agora eu só vá cantar nessa língua, eu vou continuar cantando em francês e alemão, mas fazia sentido que esse disco, com a estética Eletrônica, fosse assim”.

Ao ser perguntada se essa formação em idiomas diferentes ajuda a transitar também por diferentes gêneros musicais, Sophie concorda: “É uma teoria interessante, acho que sim. Quando você fala várias línguas, você acaba tendo mais empatia, porque entende como cada cultura é diferente. Isso te força a ser mais tolerante, eu acho. Porque você sabe que a vida é diferente para todos, e as perspectivas sempre serão diferentes. Você é forçado a lidar com diferenças se quiser falar mais de uma língua”.

Molecules dialoga com os dias de hoje não só em sua estética como também em seu conteúdo. Ele começa já com She Makes President, faixa feminista que explicita o posicionamento político da artista. “Meu sonho era escrever músicas que retratassem e glorificassem a mulher”, conta Sophie, “eu não acho que eu teria facilidade em fazer isso há dez anos, eu era muito ingênua sobre essa questão quando era mais nova. Minha mãe era a ‘chefona’ no seu trabalho, eu também estava me saindo bem no trabalho, eu não enxergava que essa não era a realidade para a maioria das mulheres. Agora que estou mais velha, entendo melhor algumas estruturas de poder, sei que a igualdade ainda não é uma realidade, é só um ideal”.

“Você ouve histórias de mulheres que trabalharam em um disco por dois anos e convidou um homem para algum trabalho adicional, daí as pessoas dizem que foi ele quem produziu o álbum”, continua ela, “isso existe. Acho que precisamos ficar atentas e saber como destacar o trabalho que fazemos, para não cairmos nessa armadilha. Antes desse disco, viajei a Los Angeles para aprender mais sobre gravação também por causa disso, querer ser mais independente das estruturas de estúdio ou de um outro produtor”.

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ARTISTA: Sophie Hunger
MARCADORES: Entrevista, Novo álbum

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.