Entrevista: Death Cab for Cutie

Banda, que virá ao Brasil pela primeira vez no Popload Festival, lançou recentemente seu nono álbum

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Fotos: Eliot Lee Hazel

Referência absoluta no Indie das últimas duas décadas, Death Cab for Cutie trará o repertório de seu recém-lançado Thank You For Today ao Brasil em novembro, no Popload Festival. Esta será a primeira vez da banda no país, após ter influenciado – literalmente – mais de uma geração de músicos e ouvintes com seu som emotivo desde sua formação em 1997.

“Já estava na hora, prometemos tocar aí há muito tempo”, disse Nick Harmer ao Monkeybuzz por telefone. O baixista, no grupo desde seu início, comentou que a vinda ao país será “o ponto alto do ano”, enquanto comentava também sobre a produção do novo disco – o nono em sua discografia – com sua nova formação.

Monkeybuzz: Há uma ligação muito emocional dos fãs com a banda, o que eu enxergo como reflexo do conteúdo das músicas. Como você observa isso? Nick Harmer, Death Cab for Cutie: Sim, é algo que respeitamos e somos muito gratos por receber. Sempre que estamos compondo e gravando juntos, acho que um grande componente das nossas escolhas é essa ligação emocional. Em todos esses anos, tivemos cuidado para escolher as faixas que mais nos tocavam, que nos faziam sentir algo maior. Achamos que, se algum de nós ou a banda inteira sente algo por uma música, então achamos que os outros também terão esse envolvimento. É muito legal ouvir isso de alguém, é gratificante perceber que as pessoas estão conectadas à música no mesmo nível que estamos.

Mb: E como tem sido a resposta que vocês têm recebido para Thank You For Today? Nick: Tem sido muito positiva. É muito legal porque tivemos dois caras novos na banda, e porque fizemos um disco do qual nos orgulhamos muito. Acho que ele mostra bem o que Death Cab tem feito de melhor ao longo dos anos e também dá pistas daquilo que nós queremos fazer agora e no futuro. Ele dá a sensação de que temos todo um novo horizonte à nossa frente.

Mb: É interessante notar como a banda evoluiu ao longo do tempo, de uma maneira linear de disco para disco – nunca é algo abrupto, mas sempre orgânico. Vocês acham que o público lá de trás também viu seu amadurecimento refletido na obra da banda?
Nick: É difícil dizer. Acho que tem um grande grupo de fãs que, de fato, cresceram ao nosso lado. Mas sempre fico surpreso como ainda conseguimos ganhar novos fãs. Amo olhar para a plateia e perceber pessoas mais velhas que eu, outras muito mais novas do que quem nós achávamos que se identificaria com nossa música. Acho que, se você está sendo aberto e honesto na hora de compor, não importa a idade de quem vai ouvir, as pessoas vão receber aquilo bem.

Mb: Lançar um disco tão carregado de sentimento em 2018 não é a opção mais comum. O que temos visto é a escolha de trabalhos mais políticos, ou, por outro lado, algo mais divertido que distraia o ouvinte. Alguma vez vocês tiveram que fazer a decisão consciente de não seguir por algum desses caminhos?
Nick: (pausa) Na verdade, não. Fazemos nosso melhor para produzir a música que nos motiva mais. É claro que o mundo se sente de pernas no ar agora, por isso há tantas músicas de cunho político. Há muita raiva e frustração. Acho que, para nós, muito disso já é expressado. Queremos encontrar o ouvinte que esteja lidando com essas coisas internamente, que esteja olhando para seus próprios sentimentos e emoções em níveis íntimos. Eu aplaudo todas as bandas, artistas e pessoas ao redor do mundo que tem expressado vocalmente suas visões políticas em sua arte. No nosso caso, o que é mais real e autêntico é pensar e refletir no que sentimos e no que está acontecendo internamente. É nosso jeito de fazer música. Sempre adorei isso no jeito que Ben [Gibbard] escreve, ele é incrivelmente bom em pegar um momento íntimo e pessoal e descrevê-lo de uma maneira mais ampla, com que as pessoas se identifiquem.

Mb: Sobre a nova formação, o que os dois caras novos trouxeram para o seu som?
Nick: Trouxeram muita coisa. Quando estávamos fazendo o último disco, Chris Walla, o guitarrista que estava na banda desde o início, nos informou que estava indo embora. Isso fez com que aquelas gravações fossem dark, havia uma melancolia em cada take que ele gravava porque seria seu último com Death Cab for Cutie. Desta vez, estar no estúdio tinha uma sensação nova, uma empolgação de fazer esse disco. Não só eles têm talento pra caramba, e proficiência técnica com seus instrumentos, eles também têm ótimas ideias musicais e muito bom gosto. Gravar pode ser um trabalho emocionalmente desgastante, mas foi revigorante. Nos lançou a um novo capítulo na banda e agora estamos empolgados para ver o que mais acontecerá.

Mb: Vocês têm um catálogo bem vasto agora, com tantos discos lançados. Como é fechar o repertório de um show? Nick (Risos) Olha, é um desafio. Ben costuma fazer isso. Geralmente são umas cinco músicas mais recentes combinadas com várias outras mais antigas, aquelas que nós ou gostamos mais de tocar, ou percebemos que ficam melhor nos shows. Acho que ter tantas músicas lançadas é uma maldição e uma bênção ao mesmo tempo (risos). É ruim, porque é difícil ter que escolher só algumas. Mas é uma bênção porque, se algo não estiver dando muito certo por algum motivo, há várias outras músicas que você pode ter como alternativa. Nós não temos o menor constrangimento de tocar faixas bem antigas, do comecinho da carreira. Tem bandas que preferem focar nas novidades e só nos grandes hits. Nós não, gostamos que cada show seja também uma pequena retrospectiva.

Mb: E sobre esta primeira vinda ao Brasil, o que nós podemos esperar do show no Popload Festival?
Nick: Acho que quem só nos conhece de ouvir os discos irá se surpreender com quanta energia temos no palco. Nós nos mexemos bastante, somos uma banda bem física, não ficamos parados tocando. Sei que no Brasil será assim. E, porque nunca tocamos aí, sei que vamos tentar tocar músicas de vários discos. Prestamos atenção nas redes sociais, no que as pessoas têm pedido, então teremos isso em mente. Estou muito animado, meus amigos que já tocaram na América do Sul dizem que é o melhor lugar para shows. Sério, o ponto alto do meu ano será poder tocar aí.

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MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.