Entrevista: Barbagallo

Baterista da banda Tame Impala fala sobre vir ao Brasil para três shows de seu projeto solo

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Você sente Julien Barbagallo sorrindo enquanto ele fala ao telefone sobre sua música e sobre as oportunidades que aconteceram em sua carreira – principalmente nos últimos seis anos, desde que ele entrou para a banda Tame Impala como baterista. Ele sorri por orgulho, por satisfação e por uma natural simpatia que a gente sente também em muitas de suas composições.

Ao contrário da Psicodelia contemporânea que ele toca ao lado de Kevin Parker na banda, seu projeto solo aposta em canções em francês naquela melancolia Pop que fica tão bem em seu idioma. Pertencente à cena musical de Toulouse, no sul da França, Barbagallo tem entregado um trabalho autoral carismático, bonito e cheio de personalidade.

Em sua primeira turnê pelo nome Barbagallo na América do Sul, o músico e banda já fizeram dois festivais no Brasil (Se Rasgum em Belém, Balaclava Fest em São Paulo), com outro marcado para o sábado, 17 no No Ar Coquetel Molotov, no Recife. Diretamente de Lima, ele trocou algumas palavras e sorrisos com o Monkeybuzz.

Monkeybuzz: Como está sendo a experiência de tocar por aqui?
Julien Barbagallo: Tocamos nosso primeiro show da turnê da América do Sul em Belém. Foi incrível, a primeira vez para mim e para os outros caras da banda na cidade, foi uma grande surpresa. O festival Se Rasgum tinha uma vibe ótima, as pessoas eram muito simpáticas e o line up foi surpreendente. Ficamos maravilhados com a diversidade da programação. Daí, fomos a São Paulo, onde eu já havia tocado, mas não as músicas do meu projeto solo. O Balaclava Fest também foi ótimo, um espaço muito legal com espaços diferentes. Foi um ótimo início, o público brasileiro foi muito legal, então estamos muito animados para tocar em Recife no dia 17, será nossa primeira vez na cidade, e muita gente nos falou bem do No Ar Coquetel Molotov, então isso nos empolgou ainda mais. O Brasil foi muito importante para estar turnê, com os primeiros e o último show.

Mb: Você consegue imaginar se tocar por aqui, ao lado dessas bandas nos festivais, adiciona à sua música?
Barbagallo: Não sei o quanto isso contribui com minha criatividade, mas é muito especial no exercício de entender um país – especialmente o Brasil, que é tão grande e tão diverso. Poder viajar por lugares tão diferentes nos ajuda a sacar melhor o país como um todo, saber quem é o seu povo. Acho que ajuda a interagir melhor com o público, é sempre interessante conhecer pessoas tão diferentes dentro de um mesmo país. Nos Estados Unidos, por exemplo, tocar em Nova York e tocar em Los Angeles são sempre experiências distintas. Isso nos deixa ainda mais curiosos para conhecer Recife.

Mb: Qual é a maior diferença para você de fazer uma turnê com Tame Impala e fazer como Barbagallo?
Barbagallo: Com Tame Impala, meu papel é limitado a ser o baterista. É importante, mas minha responsabilidade é menor, me sinto menos exposto. Quando toco com meu trabalho solo, me sinto carregando tudo nas costas. A principal diferença é essa, mas tem outra que é, quando viajo como Barbagallo, poder falar francês o dia inteiro (risos), eu fico cansado de falar inglês o tempo todo, e pode ser frustrante quando você faz uma piada e ninguém entende (risos). Estar com franceses me permite ser completamente eu mesmo, o que é mais divertido. Mas é claro que os dois casos são ótimos, são aventuras diferentes ao lado de pessoas que tenho o privilégio de ter ao meu lado.

Mb: Sejamos francos, Tame Impala é a banda mais influente desta geração. Como é para você poder fazer parte disso?
Barbagallo: Comecei a tocar com Tame Impala há pouco mais de seis anos, logo depois que Lonerism saiu. Então, eu pude ver de camarote toda a explosão da banda, eu experimentei a progressão de uma banda Indie para um dos maiores grupos hoje. Como músico, é uma experiência fantástica, basicamente meu sonho de infância se realizando. Por isso me sinto muito grato, tenho consciência que é uma experiência que só se vive uma vez, então tento aproveitar o máximo que posso dessa aventura. Musicalmente, Kevin e eu temos algumas influências em comum, por isso que, às vezes, minha música têm algo a ver com Tame Impala. Mas ele é um produtor de verdade, ele está sempre experimentando, sempre tentando encontrar novas formas de expandir os limites. Já eu sou mais tradicional (risos), eu fico mais dentro das minhas referências mais antigas. Mas eu aprendo muito ao trabalhar com gente como Kevin e Jay Watson, eles são muito inspiradores porque eles não param de fazer música e não têm medo de fracassar, porque não acreditam que exista o fracasso na música. Esse ato de seguir sempre em frente me inspira muito.

Mb: Você citou Jay Watson, é interessante notar Pond, Gum e Barbagallo acontecendo em paralelo com a banda, me parece que só mostra o quanto todos os envolvidos têm uma criatividade efervescente. Barbagallo: Acho que seu sempre experimentei isso, mesmo antes de tocar com Tame Impala. Antes, eu tocava com Aquaserge, e nós também já tínhamos outros projetos. Acho que tem a ver com como os músicos são hoje em dia, nós temos a sorte de poder experimentar várias coisas ao mesmo tempo. Nós sempre temos muitas ideias, daí vamos e colocamos tudo em prática. Isso faz com que várias bandas aconteçam ao mesmo tempo, algumas duram só um tempinho, às vezes um ano, outras duram mais tempo… É o que acontece quando você tem muitas ideias e muitos amigos músicos, você está sempre começando algum projeto novo. Nós não nos importamos se vai durar só uma semana, só queremos fazer algo legal e, se não der certo, tudo bem. É como fazer parte de um circo, sempre tem novas atrações (risos).

Mb: Quando vemos Yelle, Melody’s Echo Chamber e tantos outros artistas franceses, nos parece ser um ótimo momento para a música na França. Como você avalia essa época?
Barbagallo: Eu acho que sempre tivemos muita música boa sendo feita na França e em francês, mas o que eu mais gosto hoje em dia é que podemos exportar. Tem sempre alguém indo fazer shows no Reino Unido, eu estou aqui na América do Sul, Laure Briard também estava no Brasil… eu gosto disso, porque sempre achei que a música francesa ficava muito presa no país, e ela merecia um público maior ao redor do mundo. É muito legal ver isso acontecendo.

Mb: A partir das suas referências mais antigas, que você mencionou, parece que sempre encontramos muita nostalgia em sua música, mesmo ela tendo ares bastante contemporâneos. A sua intenção é produzir como as coisas que cresceu ouvindo?
Barbagallo: No meu caso, a música que eu quero fazer, ou a música que eu faço de fato, é aquilo que eu quero ouvir ultimamente. Por exemplo, tento misturar letras complexas em francês com um Pop mais simples. É algo que não temos muito na França, então eu faço a música que sinto que falta e que eu queria ouvir. Há uma certa nostalgia sim, mas também uma certa frustração que motiva minha criatividade.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.