Resenha: Seis anos de Gop Tun

Curadoria apurada para os palcos marcou aniversário do coletivo

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Fotos: Gabriel Quintão

Numa piscadela, 365 dias atravessaram o calendário sem dó. Para comemorar seis anos de pista intensa, o coletivo Gop Tun retornou à Fabriketa (São Paulo), no sábado (10/11). Os três palcos chamaram atenção pela curadoria apurada em relação às ondas sonoras das atrações de cada espaço. Se você tem curiosidade em saber mais sobre as peripécias desses caras, vale dar uma lida no balanço de cinco anos que o Monkeybuzz escreveu no ano passado. Quer saber mais sobre a história da Fabriketa? Veja um apurado histórico que fizemos no final da resenha.

Pertinho da entrada, Gop Shop virou um ponto interessante para dar uma orelhada no repertório de ávidos colecionadores de vinis, como Petri Glad, e ver o que eles selecionaram para esquentar o clima até a pista principal.

Na Danceteria, grande expectativa para ver Justin Carter e Eamon Harkin, os caras do Mister Saturday Night, festa nova-iorquina que também se desdobra em selo, cujos lançamentos incluem Anthony Naples, Keita Sano e Lumigraph. A dupla reside um interessante programa na The Lot Radio. Vale destacar uma curiosa série protagonizada pelo duo no Boiler Room, em que os caras tocaram até numa escola de dança.

Na ativa há mais de uma década, a Mister Saturday Night tem uma versão diurna feita ao ar livre chamada Mister Sunday, ambas seguindo a missão do amor pela boa música e o desejo de unir pessoas numa experiência que seja divertida para todos envolvidos nos rolês – dos festeiros aos DJs e staff . Então, provavelmente, Justin e Eamon se sentiram em casa na Gop Tun.

Mas… vamos ao que interessa de verdade? Os aniversariantes! Esticando a Danceteria até de manhãzinha (o público fazendo jus ao nome da pista), uma sucessão de B2B entre Gui Scott, Caio T, TYV e Nascii. Brisa garantida com clássicos em versões deliciosas, de Technotronic a Crystal Waters e até Pet Shop Boys, numa trilha sonora perfeita para reencontrar amigos ou fazer novos.

Gosta de climão? Então você ficaria hipnotizado pela Supernova, cheia de sonoridades mais obscuras, porém, altamente dançantes. Decifrando enigmas sonoros, o duo Sphynx, formado por Vermelho e Zopelar, numa composição Acid altamente cósmica, num elo perdido entre o lo-fi e mais um monte de referências capazes de desnortear.

Na sequência Techno primorosa, destaque para a chilena Valesuchi e a DJ colombiana Julianna, que integra o coletivo NÓTT, uma importante iniciativa de incentivo à mulheres DJs sediada em Medellin.

Se houve algo para lamentar, foi não ter conseguido chegar a tempo de ouvir Moretz e sua seleção de House.

Aliás, já está marcado o próximo encontro da Gop Tun. Neste sábado (24/11), rola a última edição da festa no ano em São Paulo. Mais informações: clique aqui

MOINHO MATARAZZO – FABRIKETA

Projetado pelo arquiteto Nicolau Spagnolo e executado pelos engenheiros britânicos Henry Simon e H.A.Jordan, o edifício, inaugurado em março de 1900, é claramente inspirado na arquitetura industrial inglesa, todo construído em alvenaria de tijolos, e figurava no ano se sua inauguração como o maior estabelecimento industrial da Cidade de São Paulo. Concebido por Francisco Matarazzo, o Moinho Matarazzo nasceu da necessidade de se produzir no Brasil a farinha de trigo e as massas, principal insumo alimentício da numerosa colônia italiana. O produto, antes importado, era agora produzido aqui mesmo em larga escala, o que contribuiu para baratear enormemente os produtos.

Fabriketa

O tamanho do edifício contrastava totalmente com o padrão do bairro do Brás a época, repleto de casas baixas, quase todas de propriedade do operariado. Ocupa uma área total de 5800m2 em um terreno de formato triangular, delimitado pelas Ruas do Bucolismo (antiga Florida), Monsenhor Andrade e pela estrada de ferro São Paulo Railway (depois, EF Santos a Jundiaí, e atualmente, CPTM).

Seu corpo principal, que caracteriza o edifício, tem 42,2 metros de altura, divididos em quatro pavimentos, contendo 13 janelas de 2,2 metros de altura por 1,3 de largura, além do torreão, cinco metros mais alto do que o restante do conjunto.

Fabriketa

Quando em operação, abrigava cerca de quinhentos operários, com as dependências divididas, logo após a inauguração, de acordo com a seguinte descrição, feita pelo extinto jornal “Correio Paulistano”:

“O edifício principal em secções de força motora, da limpeza do trigo, e em seccção da moagem propriamente dita do trigo, farinha e de depósitos para o carvão. A seccção de força motora contém poderosas caldeiras de força de 340 cavalos, de onde o vapor é conduzido com a pressão de 140 libras para a máquina a vapor, colocada em outro salão… A secção de limpeza de trigo é a segunda e ocupa uma parte inteira do edfício, que é de quatro andares. Subindo do primeiro até o último andar se encontram os grandes depósitos de trigo, servidos por grandes elevadores que recebem trigo de uma balança automática. Daqueles depósitos passa o trigo para numerosos ventiladores e separadores destinados a apartar corpos estranhos… A capacidade produtora do estabelecimento é de 1000 sacas de farinha por dia e representa apenas uma terça do consumo de todo o Estado de S. Paulo. O Estabelecimento está construído para receber mais um número igual de maquinismo que já existem ali, para desse modo dobrar a sua capacidade”

Fabriketa

Além de sua importância industrial e arquitetônica, o edifício também foi palco, em 1906, dos primeiros movimentos grevistas de São Paulo. Em 1907, seus funcionários paralisaram as atividades pedindo reposição salarial e jornada diária de dez horas. Duramente reprimidos pela própria direção do Moinho e pela Polícia, só ao final do ano os funcionários tiveram suas reinvindicações atendidas pela direção.

Em seu auge, produziu diariamente cerca de 6000 sacas de farinha e de farelo de trigo, produtos antes importados. Embora esteja num estado de conservação apenas razoável, o conjunto arquitetônico guarda ainda todas as suas características construtivas e elementos arquitetônicos. Funcionou como unidade fabril até 1978, e foi tombado pelo DPH (atual COMPRESP) em 1990.

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ARTISTA: Gop Tun
MARCADORES: Resenha

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