As Aventuras de John Gómez no Brasil

Exímio seletor musical conta sobre como encontrou artistas da coletânea “Outro Tempo”

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Fotos: Divulgação

Graças ao apuro do selo holandês Music From Memory, o mundo ganhou um verdadeiro presente para colecionadores de discos de vinil brasileiros. A coletânea Outro Tempo: Electronic And Contemporary Music From Brazil 1978-1992, capitaneada pelo DJ John Gómez deu luz a diversos artistas que estavam a frente do seu tempo quando produziram suas músicas.

Em comum, todos nadavam contra a corrente de uma época em que o mercado musical era dominado pelo monopólio de rádios FM e poucas gravadoras. Outra característica peculiar era o uso de alguns recursos eletrônicos, praticamente desconhecidos na época. A compilação abarca um período especial da história brasileira, abrangendo o final da Ditadura Militar e os primeiros passos do regime democrático, são musicos que preferiram atuar com uma visão alternativa, utilizando elementos de Ambient, Jazz e referências de elementos tribais amazônicos.

John Gómez contou ao Monkeybuzz como foi encontrar os artistas, a maioria desconhecido até mesmo aqui no Brasil. No Dekmantel Festival São Paulo, ele se apresenta no domingo (4 de março) no palco Gop Tun, a partir das 15h.

Monkeybuzz: Você poderia nos contar um pouco sobre por que você escolheu cada uma dessas músicas? John Gómez: Eu queria criar uma experiência auditiva consistente, porém, cheia de movimento, como um álbum. Acho que não basta pensar na programação de muitas compilações, para que elas soem simplesmente como coleções de músicas desarticuladas. Eu queria que as pessoas pudessem sentar e ouvir Outro Tempo do começo ao fim, por isso, era importante incluir músicas que inspirassem de diferentes modos.

As músicas que eu selecionei refletiram também os diversos modos pelas quais diferentes cenas de música no Brasil – desde a New Age e a fusão de Jazz, até a música Pop e artística conceitual – experimentaram a integração de elementos eletrônicos em suas músicas. Assim, o registro, em certo sentido, está estruturado para traçar um movimento entre essas cenas e seus pontos de referência dominantes.

O álbum está organizado em quatro partes e isso foi condicionado, obviamente, pelos quatro lados das seleções musicais disponíveis. Eu abri com algumas das músicas mais imediatas no primeiro lado, para que possamos definir a cena e chamar a atenção do ouvinte antes de avançar muito mais nos lados B e C. Eu gosto de brincar com contrastes, então, se uma música definir um humor muito intenso, eu acho melhor compensá-lo com algo mais leve depois para dar ao ouvinte um pouco de espaço para respirar. A última faixa, por exemplo, foi selecionada por esse motivo. Há muita música obscura na compilação, então eu queria terminar com algo que adicionou uma nota mais brilhante e um toque de otimismo.

Mb: Como você entrou em contato com artistas [ou familiares]? John Gómez: Eu precisava de muitas estratégias, pois apenas alguns dos artistas estavam no Facebook na época e não estavam aceitando mensagens de estranhos. Eu persegui muitos becos sem saída para alcançá-los, mas acabei por encontrar pessoas fazendo um pouco de trabalho de detetive… Por exemplo, entrei em contato com um bar onde eu li que Carlinhos Santos costumava atuar em Porto Alegre, o organizador de uma conferência na qual Priscilla Ermel já havia participado, encontrei o produtor em um teatro na Bahia, onde Andréa Daltro havia se apresentado em um show, achei a estação de rádio onde Ronaldo Tapajós do cinema havia trabalhado como interlocutor… Fernando Falcão faleceu, então encontrar sua família era difícil, mas eu encontrei uma mensagem nos comentários num blog sobre sua música de alguém que afirmou ser o seu sobrinho. Encontrei-o no MySpace e, eventualmente, ele me colocou em contato com a filha de Falcão. Então, cada licença tem sua própria pequena história por trás, em que segui as pegadas involuntárias que todos deixamos para trás.

Mb: Algum artista que conheceu pessoalmente? John Gómez: Claro! Eu considero muitos deles amigos agora … Além disso, em junho passado, eu produzi um show ao vivo para o Red Bull Music Academy Festival, em São Paulo, com muitos artistas tocando juntos pela primeira vez [como a Maria Rita Stumpf e os Mulheres Negras, atrações do Dekmantel Festival São Paulo]. Foi uma noite incrível.

Mb: Quanto tempo demorou você a fazer essa seleção? John Gómez: Desde o momento em que tive a ideia e comecei a procurar os artistas até o dia em que o disco estava pronto, demorou um ano e meio.

Mb: Você visitou muitas cidades no Brasil? John Gómez: Sim, quero dizer, o Brasil é enorme, então sempre há muitos mais para visitar, mas fui a São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Salvador, Paraty… Ainda não explorei a área do Rio Grande do Sul, então talvez seja o próximo destino.

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