RHR: O Som da Quebrada

DJ conta seus planos na OMNIDISC, novo projeto com Zopelar e traz mixtape exclusiva

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Fotos: Leonardo Faria (Gowpe)

Se existe um DJ para ficar de olho, esse cara é o RHR. Foi numa troca de mensagens via Facebook que ele conheceu Danny Daze, aproveitou para se apresentar e mandar seu som para o produtor da OMNIDISC conhecer. Tudo na humildade.

Bateu na hora. O menino paulistano, criado nos bairros Vila Joaniza e Morro Grande, em São Paulo, , caiu no gosto do norte-americano de espírito latino, que curte um Electro cravado por bons grooves, mas de alma do gueto. Essa liga está na alma de Roni, criado numa família de professores de capoeira.

Em 2015, ele fez duas faixas com Danny Daze. Em 2018, ele já faz parte do selo OMNIDISC, é residente da festa Tantša, onde surpreende o público a cada edição. Recentemente, ele teve uma track lançada na coletânea Escape From Sao Paulo e um remix no EP Rock the Box, do duo formado por Márcio Vermelho e Ivana Wonder, o Vermelho Wonder.

RHR já se apresentou no festival TribalTech, está escalado para se apresentar no Dekmantel durante a versão noturna, que rola na noite de sábado (dia 3) no Sambódromo do Anhembi, à 1h30 da manhã na Área 2. Em maio, ele está confirmado no festival holandês DGTL, que deve acontecer novamente em Barueri.

Neste bate-papo, ele contou um pouco sobre os planos para o futuro, a parceria com Zopelar e nos presenteou com uma mixtape exclusiva.

Monkeybuzz: Como o ambiente ao seu redor influencia sua produção musical? Você nasceu e foi criado no caos urbano de São Paulo, com trânsito, barulho infernal na rua, concreto… mas depois foi para Londrina, outra vibe. [você fez uma música no In Their Feelings chamada Quebrada …] Quais elementos ao seu redor, em cada uma dessas cidades, foram marcantes na sua percepção sonora e criativa? RHR: A construção dos meus sons não depende exatamente do meu humor, mas sim do que eu vivi nos dias em que eu começo a fazê-lo. Meu som geralmente é muito sujo, cheio de distorções e alguns aspectos não tão convencionais. Eu faço esses “aspectos” por algo subjetivo na minha cabeça de experiências na infância ou dos lugares em que vivi. Sobre a mudança de cidade, por mais que hoje meus pais vivam num lugar tranquilo numa casa própria deles, logo que fui para Londrina eu morei em uma Cohab condomínio Santos Dumont, apelidado de Carandiru. Como eu não saía muito dali, ficava jogando futebol o dia todo ou brincando pelo condomínio. Eu vivi até meus 15 anos aquele mundo que não era tão diferente dos lugares que eu morei em SP. Nos prédios, a galera ficava escutando som alto toda hora, molecada jogando bola na quadra (em São Paulo eu jogava bola na rua ou num campinho de areia feito pelo pessoal da rua atrás de casa), tráfico rolando… enfim, não era tão diferente o ambiente. O nome Quebrada é exatamente esse duplo sentido e subversão que eu gosto de dar nas coisas. Quebrada pelo som ter a síncope nos kicks e hi hats, e Quebrada por causa dos lugares que já vivi.

Mb: Sua família é envolvida da capoeira. Que tipo de som você costumava ouvir por conta deles? Você sente reflexos dessa convivência na alma do seu groove? Quais canções você mais curte desse universo? RHR: Quando eu morava em São Paulo, a família da minha mãe morava praticamente todo mundo na mesma rua. Então nos churrascos ou reuniões de família tinha caruru, essas coisas… sempre rolava muita música desde de Reggae, Forró, Lambada, Breg,a essas coisas (risos). Até hoje minha mãe direto escuta uns forrózões, uns sons do norte e nordeste cheios de movimento. Quando eu comecei a tocar eu não tinha essa concepção de que realmente isso me influenciava.. do que de fato tinha me influenciado.

Mas, conforme eu fui aprendendo coisas novas e terminando alguns trabalhos eu via nitidamente como tudo que eu tinha vivido com meus familiares me influenciava muito em tudo que eu fazia. Desde sets a músicas que eu costumo ouvir. Minha mãe também gosta muito de uns CDs de flashback (risos). Eu não conheço muito do universo e não sei tantos nomes mas eu lembro de um hit que eu eles escutavam muito quando eu era pequeno nas festas do Kaoma , Chorando Se Foi. Uma música que realmente me influenciou e isso eu sempre soube é a do Mc Primo Diretoria. Eu lembro que quando eu tinha oito anos de idade, eu ganhei um CD que tinha esse som e uns funks da Baixada Santista. Eu escutava essa música no repeat o dia inteiro, num radinho que minha mãe tinha. Como eu ficava sozinho o dia todo, pois ela e meu pai trabalhavam, eu ouvia esse som o dia todo. Então, se tem uma música que acho que me influenciou desde de sempre é essa.

Mb: O que rola de interessante na cena de Londrina? Quais rolês e gente fazendo som estão por lá? RHR: Olha, Londrina tem várias coisas rolando. A cidade tem vários produtores de diversas áreas. Quando eu ainda estava por lá eu eu estava produzindo umas festas pequenas, com o coletivo em que eu faço parte, o Subcutâneo. É formado pela Edy Savage, Katy Kakubo, João Vezzozo, Rafael Vansan, Natália Franzon na parte da moda, o Caio D Andrea, da Pornographitti, que tem um estúdio de design voltado pra moda. Tem uma galera que veste roupas dele, L_CIO, por exemplo, sempre está vestindo algo. Falando em Moda, o Leonardo Faria me convidou para fazer parte da GOWPE que é um selo de design, música e moda. Nós estamos fazendo um trabalho conjunto a uns meses. Vamos dar start no selo de música, no qual o Zopelar também deve colar junto. Edy Savage trabalha na cena alternativa e LGBT há mais de dez anos, produzindo diversos tipos de festas como a Puppets. Ele foi uma das primeiras pessoas a me bookar em Londrina. O Thiago Campos que sempre produziu as raves da cidade, uma das primeiras festas que eu fui na minha vida foi uma festa dele. Agora, falando de produtores e DJs, a Katy tem um live P.A. sensacional! Com o passar dos anos, na minha opinião, ela vai ser uma das mina TRETA nacionais. Ela já é, mas com o tempo geral vai conhecê-la. Também tem o LEsum(João Vezzozo), O Ego 404 (Gustavo Borin), ele é um produtor excelente que logo menos vai começar a soltar os sons dele. Geral que eu citei aí teve uma grande parcela pro meu crescimento na cidade e na minha carreira. Eu sou muito grato a todas essas pessoas.

Mb: Como rolou sua conexão com a Tantsa? Qual seu sentimento mais é mais aflorado quando vc toca nessa pista? RHR: Os meninos que são responsáveis pela Tantsa são meus amigos de longa data. Victor Senedesi, quando me conheceu, gostou muito do meu som. Ele botou bastante fé em mim, e sempre me disse: “neguin, quando eu tiver uma festa, você vai ser residente”. Ele fala isso pra mim há mais de cinco anos, desde que nos conhecemos. sempre rolou essa admiração.

Aí quando ele e Marcelo Madueno criaram a Tantsa, logo me convidaram. Eu fiquei bem contente. Sobre Tocar na Dança (Tantsa), geralmente meus sets na festa sempre são numa paleta mais Techno, mas eu sempre tento experimentar diversos tipos de sons que eu encontrei na semana. E isso é sensacional! A festa acaba me ensinando diversos caminhos a se tomar num set.

Mb: De que jeito aconteceu sua conexão com Danny daze? No que você mais pira no som dele? Você deve lançar algo pela OMNIDISC? RHR: Foi completamente sem querer a forma como meu som chegou nele. Um dia, um amigo dele de infância, Derobter, apareceu na minha timeline para adicionar. E eu o adicionei, mas sem nenhuma pretensão. Eu também não sabia que eles era amigos de infância, mas por algum motivo eu adicionei ele e eu tinha acabado de terminar uma música. Como vi que ele também era DJ, tinha escutado uns sets dele e gostei, falei que tava a fim de enviar uma música. Como ele não me conhecia, ele só me mandou o email dele e não falou mais nada. Mas eu mandei a faixa sem nenhuma pretensão… Deu, sei lá, uns cinco minutos, ele me respondeu: “BROO THIS IS DOPE I THINK THIS IS CAN BE GOOD FOR DANNY LABEL”!

Eu fiquei pensando: “Ué, mas que Danny”?. Eu nem sabia que o Daze tinha um selo. Aí ele me explicou, eu fiquei pensando, tipo, “caralho”. Mas imaginei que o cara ia ouvir e já era, né, nem vai falar nada. Eu levantei, fui na cozinha e voltei. Tava lá: “Daniel Gomez falou com você”. Eu fiquei “wow”! Conversamos sobre a música. Desde então, começou essa conexão. Rolou a colab e eles me consideram parte da OMNIDISC sem nem ter lançado ainda. Sobre o som do Daniel, eu gosto de como ele leva as influências dele pra música. Como a influência de música cubana, a vida dele com a mãe e os amigos. E também o fato de ele nunca fazer um som reto, pode ser um som constante, mas alguma síncope no meio ou vai ter ou algo quebrando o groove. Eu me identifico muito com isso. Eu estou trabalhando num EP pra OMNIDISC já faz uns dois anos, não sei quando o release vai acontecer, mas no momento certo vai rolar.

Mb: Você está com um projeto novo com Zopelar? Conta pra gente! RHR: Em algumas idas minhas a São Paulo, eu visitei o estúdio do Zop, para produzirmos juntos algumas coisas. O Colateral surgiu depois que o Danny Daze ouviu a Acid Republic, colab nossa que saiu na compilação do In Their Feelings, a Escape From São Paulo, e nos pediu pra fazer um EP juntos para OMNIDISC. Então, nós pensamos, por que não criar um nome para quando fizermos essas colaborações? Assim demos o start! Já fizemos algumas músicas, acho que umas 12 ou mais. Estamos trabalhando em um EP, logo menos devemos soltar alguma coisa.

Mb: Qual é a sua expectativa em tocar no Dekmantel? O que você está preparando? RHR: Essa é uma das minhas gigs mais importantes, assim como o DGTL, que rola daqui uns meses. Eu estou trabalhando em uns sons meus. Serão lançados em breve pela GOWPE. Estou pesquisando muito. Eu não sei exatamente que eu vou tocar, depende muito do momento. Vou fazer o warm up para TETO PRETO. Estou ansioso.

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