Dekmantel 2018: Domingo

Segundo dia do festival foi diverso e entregou sets distintos com performances marcantes

Loading

Fotos: Gabriel Quintão

Mais úmido, o domingo do Dekmantel Festival São Paulofoi carregado de artistas com diferentes propostas sonoras, o que trouxe um público ainda mais diverso ao festival. Entre pancadas de chuva e lama que se acumulava, as pistas iam se enchendo desde cedo: o carioca Kinkid trouxe o seu esperado live a São Paulo, set que poderia acontecer em um momento com mais público, porém sua sonoridade contemplativa carregada nas ambiências e era a terapia necessária para se entrar cuidadosamente na festa que se formava.

Em seguida, no mesmo palco UFO, o b2b destruidor de Elena Colombi & Interstellar Funk fez a tenda pegar fogo com tracks pesadas e soturnas de Techno e Electro – quem passava pela região do set entrava de cabeça e dificilmente conseguia sair dali devido à atração magnética da pista. Longo, ele facilmente poderia rolar em qualquer horário do Dekmantel que funcionaria – talvez fosse ainda mais arrebatador à noite. Vermelho, um dos melhores DJs do Domingo, fez um set incrível no Main Stage, mostrando que sua pesquisa sonora e minúcia na mixagem de pequenos loops sonoros o colocam em um nível global que poucos gringos conseguem entregar.

Elena Colombi & Interstellar Funk *foto: Ariel Martini

Posso considerar que Mall Grab era um dos momentos mais esperados por mim no festival. Um dos nomes mais cultuados na cena contemporânea de Lo-Fi House, o produtor iria estrear no Brasil no principal palco do Dekmantel, grande responsabilidade que não foi nem um pouco sentida durante um set inesquecível. Concentrado no House e suas vertentes, o australiano passou por suas composições em momentos chave e fez um sorriso aparecer no rosto de todos que compartilhavam a pista. Set ideal para ser tocado no fim de tarde, o DJ aparentemente abriu alas para voltar ao país mais vezes, dada a interação entre sua apresentação e a audiência presente – carinho mútuo que o fez se emocionar nas últimas músicas tocadas.

Outro nome muito esperado na noite era Four Tet. Se a performance como DJ-set pode caminhar para lados que fogem da produção autoral, a escolha de Kieran foi por fim criar uma narrativa que privilegiasse seus fãs e o seu excelente último disco, New Energy – com espaço para, inclusive, tocar Selena Gomez e tudo ainda fazer sentido. Apesar de uma pausa inesperada após a segunda música por conta de problemas técnicos, seu set seguiu coeso, viajante e muito bonito – estética particular que colocou o público em transe. Certamente um dos momentos mais emocionantes de todo o festival.

Entre o palco Gop Tun e Selectors, escolhas certeiras para quem queria ouvir misturas de Música Brasileira, Disco, Soul e ritmos globais. Passaram por lá nomes já consolidadas pela audiência do festival e das festas da Gop Tun, como Selvagem e Dekmantel Soundsystem, mas também havia espaço para novidades, como o belíssimo live entre Azymuth e DJ Nuts e também o set do seletor musical John Gomez, autor de uma coletânea sobre a música Eletrônica brasileira.

Four Tet *foto: Gabriel Quintão

Vale destacar o show da mítica Os Mulheres Negras, dupla vanguardista de Música Brasileira Experimental/Não Usual que fez uma apresentação teatral, divertida e com um BPM mais baixo que o restante do festival – propiciava assim um show compreensível e cativante para renovar as energias dos presentes. Ao mesmo tempo, no palco Selectors, rolava o dançante e maravilhoso set de Jayda G – para muitos, a melhor seleção musical de todo o festival, com faixas cremosas de Disco, Soul e preciosidades brasileiras. Dançando freneticamente a cada nova track, a DJ poderia ser facilmente confundida com qualquer pessoa que estivesse no front de sua apresentação: sua entrega é igual à do público e a empatia é notória.

Floating Points, músico com trabalhos autorais chocantes, entregou no encerramento do Palco Gop Tun um DJ-set que pouco tem a ver com sua discografia e que parte para ritmos dançantes como House e Disco ao invés de seus sintetizadores elaborados e sua música Eletrônica jazzística. Para os fãs, a fuga de seus discos pode ser um pouco decepcionante, ainda mais depois da performance de Four Tet, porém, a partir do momento em que se abstrai e entende a diferença, a entrada de cabeça na pista se faz certeira.

Mall Grab *foto: Gabriel Quintão

Por fim, Nina Kraviz colocou a fritura necessária na frigideira e fez um set digno de encerramento de Main Stage. Com muito mais público que sua apresentação no Dekmantel 2017, justificou a sua ascendência no cartaz do evento, fez um DJ Set de Techno simbiótico com as luzes do palco – paleta de cores que lembrava um arco-íris surgiria em diversos relatos do público nas redes sociais – e encerrou a bem sucedida segunda edição do festival em terras brasileiras.

Loading

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.