Entrevista: Ventre

Baixista Hugo Noguchi comenta trajetória do grupo até chegar ao palco do Lollapalooza Brasil

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Fotos: Foto por I Hate Flash

Apesar de ainda somar poucos anos de vida, o trio carioca Ventre vem conquistando espaços cada vez maiores, principalmente nos últimos três anos, e chega finalmente a um dos maiores palcos do Brasil trazendo seu Rock em formato de power trio.

O grupo trará ao Lollapalooza Brasil 2018 o repertório de seu disco de estreia, Ventre (2015), além de algumas novidades. O baixista Hugo Noguchi conversou por telefone ao Monkeybuzz sobre o atual momento da banda, bem como sua trajetória até chegar aos palcos desse que é um dos maiores festivais do país.

Vale lembrar que Ventre se apresenta no sábado às 11:50 no Palco Onix.

Monkeybuzz: Quase três anos depois do lançamento de disco, como as músicas evoluíram ao vivo em relação às versões de estúdio?

Hugo Noguchi: Agora talvez esteja um pouco estagnado, mas, no ano passado e retrasado, mudou muita coisa tanto em relação aos arranjos, quanto em relação às passagens de uma música pra outra, a gente compôs muita coisa. Mudaram também algumas letras e as mensagens. Acho que algumas coisas não seriam ditas hoje em dia, em questões de sexualidade, por exemplo. Como estamos fechando um ciclo, as músicas ganham um outro significado, que não tem mais nada a ver com o arranjo, mas tem a ver com a relação pessoal que temos com elas, são muitas músicas que falam de despedida e tempos difíceis; esses três anos que passamos de banda de um jeito meio metalinguístico, engraçado e irônico em algum nível fazem sentido com o momento que estamos passando agora. Aperto e um Beijo e A Parte acho que já completaram uma outra volta no ciclo e vão ter significados diferentes daqui pra frente. Mas isso que é legal da canção, ela se renova.

Mb: Faz relativamente pouco tempo que Ventre começou a despontar, e agora já está em um dos maiores palcos do país. Como você enxerga essa trajetória? Tocar no Lolla era algo que vocês imaginavam que aconteceria logo?

Hugo: Vou falar por mim e não por eles, porque são três pontos de vistas bem diferentes. Eu acho muito louco, porque tudo começou como um som que a gente ia fazer entre brothers e sisters depois do trampo, cada um fazendo sua parada. Aí para gravar o disco foi um processo enorme, foram quase dois anos, mas no meio disso tudo teve o lance do estúdio que a gente compartilhou, fez diversos shows e eu produzi outros discos lá. Logo depois, a gente começou a tocar fora do Rio e passou a ter outras vivências e criar uma rede de amigos e amigas, pessoas muito incríveis de vários lugares do país. E agora tem o Lollapalooza e esse futuro meio incerto. É muito doido, uma parada que começou com a gente tocando quando tinha tempo livre e se tornou uma coisa que mobilizou tanta gente. Fora a evolução pessoal de cada um dos três, mudamos muito e aprendemos muito um com o outro, não só na parte musical, mas de convivência mesmo, de entender o lugar o outro, sabe? Além de mérito nosso, de ter trabalhado bastante, existe também uma coisa de sorte, de você não acreditar que isso aconteceu.

**Mb: Como essas amizades, além dos projetos paralelos e os shows com E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante influenciam na maneira com que vocês veem o som de vocês hoje?

Hugo: Cara, cada um influencia de uma maneira diferente; é igual Rockman, que tu mata um vilão e ganha o poder dele. E A Terra tem um negócio de movimento que é bem legal, eles não têm essa coisa de power trio, de ter que todo mundo tocar direto, essa alternância eu acho foda. Meu encontro com o pessoal de Minas, do Geração Perdida, artisticamente pra mim é imensurável. Eles são pra mim uma referência de como lidar com uma mensagem, com uma verdade sua e realmente assumir que ela é sua, lutar por ela independentemente de qualquer coisa que esteja a sua frente. Exatamente por isso que eles são mais dichavados e menos que ouvidos que outras bandas menores e menos importantes, com mensagens mais fugazes. Inclusive, eu comecei a escrever por causa deles. Aí tem a galera do Espírito Santo, pessoal do My Magical Glowing Lens, Casa Verde e Mango, que têm lições incríveis a dar pra todo mundo em relação à seriedade do trabalho, de fazer uma parada na raça, mas muito bem feita, com todos detalhes amarrados e muita energia em volta. Tem a galera de Curitiba, em especial o Jean [Machado], do Tuyo, que eu considero muito meu amigo, e que me ensinou muito em estúdio em relação à produção. As coisas que aprendi com ele, não vou aprender em mais nenhum lugar.

Já Goiânia é o circuito mais organizado do país. É muito independente, é muito autônomo, mas é uma mistura de eficácia com paixão que dá uma liga sinistra, e não é toa que tem Carne Doce e Boogarins. Tem um contexto ali que vai de todas as etapas de produção, desde a galera ensaiando, até gravar, masterizar e distribuir que tá tudo bem fechadinho e é muito bem feito e muito transparente. Lá é uma galera mais rockista mesmo, não nesse sentido clube de motocicletas que rola aqui no sudeste, mas num sentido que está mais alinhado com o resto do mundo.

Aí tem nordeste, que só de eu estar lá pela música já um privilégio. Não vou cometer essa coisa de sudeste de colocar tudo num saco só, né! Recife é a vanguarda do país também em relação a produção independente, feita na raça e na vontade. Lá tem as meninas da PWR Records e só delas estarem ali já é uma lição pra todo mundo, sabe? Elas são ótima em relação à distribuição, marketing e articulação. Não só de ter contato, mas de ser amigo delas, você já aprende muito e são pessoas bem mais novas que eu. Tive o prazer de produzir uma galera de Natal, o Tertuliê, mas isso são outros quinhentos. Isso sem contar a Mahmed que são amigos queridíssimos de lá e tem uma coisa de lidar com a vida de um jeito sereno. Enfim, sou muito sortudo de ter conhecido toda essa galera e ainda poder chamar eles de amigos.

Mb: Dá pra ver que vocês fizeram várias conexões e que isso tem se tornado comum na música brasileira, ao contrário do que parecia acontecer há algumas décadas. De onde será que surgiu essa amizade mais forte na cena atual?

Hugo: Tem gente que eu nem falei ainda (risos). Mas é isso e acho que nem é uma questão musical. É uma parada que você olha e o cara tá ali passando os mesmos perrengues que tu. Aí rola uma conexão, sabe? E se rola uma conexão musical ai a parada vai para outro nível.

Mb: Podemos esperar alguma novidade no show do Lollapalooza?

Hugo: Sim, pode esperar! Tô em duvida se eu explano, mas vai ter novidade sim.

Mb: Vamos manter em segredo então, pro pessoal chegar cedo e curtir o dia todo.

Hugo: A gente toca bem na hora do almoço e concorrer com o almoço é foda. Ninguém concorre com o almoço. Enfim, tem novidades da banda e tem novidades minhas, algo mais cênico, podemos dizer.

Mb: Além de ir como artistas, vocês também devem ir ao festival como espectadores. O que vocês pretendem assistir nos três dias de Lollapalooza?

Hugo: Não sei muito o que vai rolar, mas quero muito ver Anderson .Paak e Tyler, The Creator. Às vezes, posso até dar um perdido e ver o Liam [Gallagher] tocar. Quando eu era moleque, ouvia Liam pra caralho, então posso ver. Tem Chance The Rapper também, que queria ver mais pela curiosidade de ver o artista ao vivo, sabe? Acho que um show do Pearl Jam deve ser divertido. Red Hot Chili Peppers também. Mas o Anderson eu to passando mal só de imaginar que vou ver um show desse homem. Inclusive, quando saiu o lineup do Lollapalooza eu e minha namorada vimos todos os nomes pra ver se tinha mais algum outro asiático que não fosse eu. A mão de Anderson .Paak é filha de coreanos e por isso que Paak, né. Acho que eu e o Anderson somos os únicos asiáticos tocando nesse Lollapalooza (risos) então eu to feliz pra caralho.

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Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts