Anderson .Paak: A Califórnia vem ao Lollapalooza Brasil

Rapper, produtor e baterista promete roubar a cena no Festival

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Quando a gente musicalmente pensa no “Golden State”, o estado mais progressista dos Estados Unidos, a terra prometida ideológica, o lugar onde habitaram os hippies, o que vem à mente são as melodias e vocais dourados de The Beach Boys. Bem, pelo menos para este que vos escreve. É preciso fazer justiça e dizer que muita música boa foi e é feita por lá. De grupos soul/funk veteranos – e ainda na ativa – como Tower Of Power, passando pelo próprio Brian Wilson e uma infinidade de gente, de Eagles Of Death Metal a Grandaddy. A partir do início dos anos 1990 para cá, o Rap tornou-se uma força criativa californiana e gente como Dr.Dre e sua banda original, N.W.A, começaram a surgir com grande força, pavimentando o caminho para uma galera jovem e muito talentosa ter espaço. Entre essa turma está o baterista, produtor, cantor e multitalentos Anderson .Paak.

Nascido Brandon Paak Anderson em 1986, o sujeito trabalhou em toda sorte de lugares e buracos até se dar conta que a música era seu caminho natural. Tocou bateria, participou de bandas mixurucas, assinou um álbum como Breezy Lovejoy – em 2012 – e mudou seu nome e estilo com uma gloriosa estreia em 2014, a bordo de um discaço chamado Venice. Pra quem não sabe, este é o nome de uma famosa praia californiana, com um calçadão que já foi palco até de episódio de Star Trek: Voyager. Ali, com toda fauna humana possível, estava a inspiração para Anderson sair-se com uma música elástica, articulada, com referências hip-hopescas tornadas novas por toda uma abordagem de estúdio e composição fluida e moderna. Fundindo o moderníssimo R&B, rotulado também como Urban, com outros estilos de música negra estadunidense, Paak chamou a atenção do próprio Dr. Dre, que o convidou para participar do time que compunha e produzia seu terceiro disco, que chamaria-se Compton.

A partir daí, Paak mudou de prateleira no cenário musical. Tornou-se alguém em quem prestar atenção e esta expectativa foi totalmente correspondida com outro álbum com nome de praia californiana: Malibu, lançado em 2016. Melhor, mais plural e amplo que o antecessor, Malibu foi um dos grandes discos de 2016. Diverso, com samples cheios de ousadia, pisando no Jazz e na psicodelia, abrindo os braços para o R&B noventista e reempacotando tudo isso com uma autonomia e senso estético raros, Paak, como se diz por aí, mandou muito bem com seu segundo álbum. A abertura com The Bird coloca as coisas em termos muito diferentes do que ele estava acostumado a oferecer como músico e produtor. Ainda que tenha participação de gente como Madlib, Kaytranada, BJ The Chicago Kid, além dos teclados e pianos de Robert Glasper, é possível ver o amadurecimento de Paak em meio a tudo o que se propõe a fazer.

Outras faixas com destaque no panorama de Malibu são a dolente Heart Don’t Stand A Chance, a psicodélica The Season/Carry Me e a pulsante e sensacional Am I Wrong?, provavelmente sua melhor gravação até o momento. Anderson ainda lançaria outro disco no fim do ano, com parceria de NxWorries e Knxledge, intitulado Yes Lawd!, mais eletrônico e experimental, mostrando que o interesse do sujeito vai muito além de uma suposta rotina de lançamentos, hits, singles e tudo mais. Paak parece interessado em criar um estilo que não abra mão da relevância artística mas que também seja igualmente capaz de chegar aos ouvidos do público com facilidade e interesse. Parece estar no caminho certo.

Podemos dizer que ele está quase no mesmo patamar de gente grande como Kendrick Lamarr e Frank Ocean, com uma capacidade de gravar e compor com mais acento pop que estes. O público terá duas chances para vê-lo ao vivo: no dia 20/03, quando será a estrela de uma das Lolla Parties, a ser realizada no Cine Joia e no Lolla propriamente dito, em cujo palco subirá, ao lado de sua banda Free Nationals, no dia 24/03. Paak não deverá deixar ninguém parado e talvez roube a cena de muito figurão mofado que faz parte da escalação do tival. Vamos acompanhar.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.