Pearl Jam: Nós Passamos, A Música Fica

Grupo seminal do Grunge foi capaz de entender a angústia de seu tempo

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Dirão alguns teóricos da arte que as obras mais potentes são aquelas capazes de responder às perguntas de seu tempo. No entanto, se manifestam com mais força ainda aquelas capazes de transcender a sua época e continuar atuando em outros contextos.

Pearl Jam, banda vinda de Seattle e exemplo seminal do Grunge dos anos 90, foi uma banda capaz de antecipar os problemas contemporâneos ainda antes da virada do século. E enquanto seus pares perduram no imaginário afetivo do público – as mortes trágicas de Kurt Cobain (Nirvana) e Chris Cornell (Soundgarden) ainda haverão de ser lembradas pela universo da música no decorrer dos anos -, Pearl Jam assumiu o papel de agente, e continua na ativa disseminando o espírito do tempo que gerou sua arte.

Seria possível resgatar inúmeros exemplos de como o olhar atento de Eddie Vedder foi capaz de traduzir em poesia angústia que até hoje nos dizem respeito. Como ouvir Jeremy, por exemplo, e não pensar nos [tiroteios em massa que até hoje afligem os EUA? Se, no entanto, a banda sempre teve esse clima grave e frio sobre a realidade – típica do Rock noventista e em especial da turma de Seattle dessa época – tudo sempre funcionou em favor de uma consciência coletiva, uma catarse emocional que se refletia nos shows da banda.

Quando a banda lançou o álbum Lightning Bolt em 2013 e, veja só, apareceu para tocar no Lollapalooza do mesmo ano no Brasil, dissemos que “muito já foi dito e ainda será sobre Pearl Jam, mas sua obra fala e se explica por si só mais do que qualquer frase sobre essas qualidades.” É verdade, e a única vantagem que eu tenho de escrever em 2018 sobre o grupo que está prestes a completar sua terceira década de existência, é meu olhar sobre o tempo: assisti, ao longo de minha vida, a alguns shows cujas próprias canções eram mais velhas do que eu. Se esta não é a minha situação específica no caso de Pearl Jam, certamente será verdade para grande parte do público do Lollapalooza deste ano, que poderá experimentar uma verdade fundamental: nós passamos, a música fica.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte