Ouça: Muddy Brothers

Banda capixaba bebe da fonte do Blues Rock norte-americano e cria mistura explosiva

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Quem poderia dizer que o Rio Mississipi se conectaria com a Baia de Vitória? Confuso? Explicamos para você: a banda do nosso Ouça (que agora acontece não só às sextas-feiras mas também às terças-feiras) vem de Vila Velha, cidade conurbada à capital do Espiríto Santo, Vitória. É de lá que vem o Muddy Brothers trio com influências do Rock’n’Roll dos anos 1970 misturada ao Delta Blues, famoso estilo musical norte-americano que nasceu na nascente do conhecido rio e que percorreu grande parte do sul dos EUA, se popularizando regionalmente para depois alcançar o país inteiro. Inspirações a parte, a banda formada por João Lucas, voz e gaita, Will Just, guitarra e Renato Just, bateria, faz um som nervoso que nos faz lembrar logo de cara diversos nomes antigos e novos da música.

Com um disco na carreira – o artesanal, gravado em dois dias e de forma totalmente independente -, Handmade do final de 2013, somos jogados a um caldeirão efervescente que troca a ausência de um baixo por um peso nos riffs de guitarra e suíngue constante ao longo de doze faixas. Inevitavelmente, somos jogados a comparações ou percepções de inspiração logo de cara, como Last Chance Trip, que bebe no instrumental de Black Sabbath, mas com belo acréscimo de voz de João, que alcança timbres agudos incomuns e que dá uma interpretação diferente e interessante a todo o trabalho.

Apesar de seguir uma mesma estrutura devido à cozinha constante de guitarra e bateria, temos conduções e variações que nos lembram bastante os primeiros trabalhos de The Black Keys, quando ainda em seu início era puro Blues Rock suingado, como na ótima Ramblin’ Down My Soul, uma das faixas mais Pop do trabalho junto da sexy Twelve Bars Poem. No entanto, é quando escutamos resquícios de um Led Zeppelin que os olhos começam a ficar atentos para as interpretações de João, sempre bem estruturadas pelos irmão Just – Let My Hair Hang Down nos lembra quando o grupo britânico ainda fazia versões de clássicos do Blues em seus dois primeiros discos, I e II. As notas alcançadas pelo vocalista também favorecem uma comparação, mas a energia do grupo com um todo chama atenção, mostrando-se acima de tudo um Stoner Rock para fazer o ouvinte balançar a cabeça e os pés ao som do groove criado.

Se engana quem pensa que as influências os deixam com um som genérico. Ouça Love Won’t Bring You Down, por exemplo, para entender que todas inspirações só poderiam eclodir quando o trio decidiu seguir essa sonoridade e criar o Muddy Brothers. A gaita finalmente aparece em Wanna Love You All The Way Down – exemplo do som cru, cheio de energia e efervescente do grupo e que nos leva a pensar por que não o vemos tocando em locais como São Paulo ou Goiânia, epicentros do Rock’n’Roll. Aliás, o vimos no Planeta Terra de 2013, quando abriu as portas para um festival que acabou não valorizando tanto o som nacional deles. A exposição, mesmo que discreta, lhe concedeu um contrato com a Club NME Brasil para a gravação de um EP na Red Bull Station.

Com previsão de lançamento para dezembro, tivemos uma audição prévia ainda secreta ao público e pudermos perceber uma leve alteração na sonoridade, no sentido de descoberta e experimentação. Um sintetizador foi acrescentado, dando maior ímpeto para a Psicodelia que, se antes aparecia sob a forma de Stoner Rock para agora se consolidar em nomes como Todd Rundgren e Tame Impala. No entanto, não fique ansioso e se deixe levar por um Rock’n’Roll de raiz – aquele que tem a sua origem pura no Blues – em um disco que deve agradar bastante os fãs de The Black Keys, Black Sabbath e, sim, Led Zeppelin.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.