Ouça: HAB

Banda de São Paulo faz Post-Rock orgânico cheio de influências africanas e brasileiras

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HAB é uma experiência sonora idealizada pelo guitarrista Guilherme Valério”. Dentro da simplista, porém objetiva, definição que encontramos na página no Facebook da banda de Guarulhos, São Paulo, podemos considerar o grupo, formado por membros de outros como Hurtmold, Siba, M. Takara e Guizo, como “Experimental com Gingado”. Chamar de Post-Rock é chover no molhado, é considerar o fato de que grande parte de suas músicas são instrumentais, com vozes pontuais em alguns instantes. No entanto, não estamos diante de um quarteto que se propõe ao virtuosismo de acordes crescentes, expansivos e monumentais, mas prefere o suingue e a malícia como contrapartida ao silêncio e deseja fazer o ouvinte dançar de olhos fechados ou convidando o próximo.

Com um disco lançado neste ano e disponível para ser baixado na página de seu selo, Desmonta, HAB pode ser considerado um grupo de mantras e rituais, todos conduzidos a partir dos riffs certeiros de Guilherme, que desconstrói regionalismos globais da música africana e brasileira, os trazendo perto do público sem subjetividade, somente com suor. Tive a chance de vê-los ao vivo pela primeira vez em um das noite do Prata da Casa, evento que ocorre no SESC Pompéia, famoso local da cena independente de São Paulo e do Brasil, sem nunca ter simplesmente ouvido uma música sequer – era a chance de se encontrar com inesperado e ser deixado levar pelo que a música pudesse me proporcionar naquela noite de Julho. Não poderia estar mais satisfeito com o que ouvi, um raro exemplo de música brasileira sendo feita à nossa maneira, sem muitos maneirismos e sistemas estrangeiros.

O disco de estreia, que pode ser ouvido também no Bandcamp da banda, contém seis faixas que passam do Afrobeat (Bugio) expandido por aqui por Bixiga 70 e também por gingas e propostas quebradas, quase que matemáticas, de Conduz e por canções de roda misteriosas em Cratera. Em todos os casos, a proposta nunca é a da experimentação por efeitos necessariamente, mas por tentar levar um som orgânico, tântrico e meditativo realçando a vontade dos quatro em criar algo novo, que dificilmente se ouve por aí. Sustentada por riffs bem pensados, a gravação feita ao vivo e cheia de improvisos como uma boa jam session evidencia esta constante vontade de movimento excêntrico do grupo – saindo do óbvio e rumo a marginalização sonora. Suco é deliciosa, com leves influências da guitarrada paraense, enquanto Em Tempo é a única canção do registro: “O que acontece o tempo no mundo sem parar”, indaga Guilherme para abrir espaço para um crescendo de baixo puxado por um timbre seco e constante, batida seguida pela bateria – é o relógio batendo que não nos deixa esquecer que a vida continua de uma forma ou de outra.

Três Lados finaliza a experiência, deixando em aberto a vontade de que novos sons instrumentais possam surgir no Brasil, mas com características distantes e inovadoras de certa forma, e que consigam realçar shows que, quando são feitos pela experiência sonora, quase sem voz, façam as pessoas dançarem como em uma grande festa. Sem condenar em nenhum ponto a experiência do Post-Rock, experiências audiovisuais intensas e pessoais, HAB surge como um sopro de inovação e coletividade em apresentações empolgantes, cheias de suingue e elementos orgânicos, favorecendo o mantra de tocar constantemente um riff no lugar de um experimentalismo sintético. Temos espaço para ambos, mas o surgimento deste projeto de Guilherme coloca ainda mais em evidência o momento que o estilo vive na cena independente daqui, traço de uma mistura intrínseca própria de nosso país.

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ARTISTA: HAB
MARCADORES: Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.