Kero Kero Bonito é chiclete sabor tuti-frutti que demora a perder o sabor, ao contrário de marcas baratas. O trio londrino formado por Sarah, Gus e Jamie (todos compartilham do sobrenome “Bonito”) faz uma mistura digna de cientista maluco, que consegue atingir o centro de prazer no cérebro na primeira audição.
O nome vem da inesperada junção da onomatopéia japonesa utilizada para representar o som de sapos com o popular peixe da família do atum. Se a designação causa estranheza, a amálgama de influências pode espantar ainda mais: J Pop, Dance Music e Hip-Hop são costurados a letra cantadas em inglês e japonês.
Build It Up
Built It Up, que possui apenas dois meses de idade (no SoundCloud oficial do trio, pelo menos), foi meu primeiro contato com eles. Me lembrou minha versão criança brincando no teclado de meu avô, mais interessado nos efeitos sonoros que vinham no instrumento do que nas teclas em si. O trio faz isso, porém, com mais consciência da alquimia que produz do que eu tinha na época, mas sem deixar de lado uma curiosidade quase infantil por sons incomuns.
Os temas que estão no trabalho Intro Bonito são tão variados quanto suas influências, com títulos ingenuamente criativos: Babies (Are So Strange), Pocket Crocodilo, I’d Rather Sleep e Sick Beat são só algumas das faixas com letras inteligentes feitas por uma perspectiva de quem estranha coisas triviais e se diverte com isso.
Kero Kero Bonito – Sick Beat
A impressão é que todos os espaços estão preenchidos com notas, efeitos e comentários sonoros, uma torrente de sons como um comercial de descontos. Mas o resultado está longe de ser barulhento e a leitura não é óbvia: você pode passar um tempo tentando entender se o que ouve é futurista, mas não pode ignorar o diálogo com toda uma geração acostumada ao 8-Bit.
A (aparente) simplicidade da música de Kero Kero Bonito me fez lembrar um professor que uma vez disse, se referindo ao trabalho do pintor modernista Mondrian: “Parece fácil depois de pronto, mas chegar nesse resultado é exatamente onde está o mérito do trabalho do artista”.
