Em um ano repleto de figurões do Rock Psicodélico lançando discos memoráveis, como David Gilmour, Tame Impala, Boogarins, Unknown Mortal Orchestra e Supercordas além de outros seguindo o vácuo com bons discos (GUM, O Nó, BIKE e King Gizzard & The Lizard Wizard), é normal que algumas coisas acabem se perdendo no caminho. Dentro dessa imensidão lisérica de 2015, existe uma banda que estreiou sem tanto alarde e alcance, mas tem facilmente um dos melhores discos do gênero no ano.
Talvez, Timeline não seja objetivamente um disco de Rock Psicodélico semelhante a muitas das bandas citadas acima, mas é inegável que a proposta de Mild High Club é fazer o ouvinte viajar. De uma forma mais calma e largada, obviamente, o grupo liderado por Alexander Brettin tem onze músicas desaceleradas com doses carregadas de influências de The Beatles, Soft Rock e tantas outras coisas. São faixas que fazem pensar que sua gravação nasceu no vinil e que sua transformação digital lhe conferiu um ar nostálgico dos anos 1960.
Essa estética os coloca, na verdade, mais próximos a nomes como UMO, White Fence, Ariel Pink e principalmente Connan Mockasin – artistas que quase sempre transportam o ouvinte para décadas distantes e alegram puristas de um gênero bastante transformado nos últimos anos. Ouvir a sequênia Club Intro/Windowpane pode ser o suficiente para o entendimento do som do quinteto – leve, como indica seu nome, e “chapado”. No entanto, o poder da banda vem de sua capacidade em criar riffs simples e viciantes, tipo de trabalho minucioso e nada usual, que permite que faixas como Note to Self ou Undeniable tenham seus instrumentos cantados como letras.
Essa última, aliás, é uma viagem de ácido nos traz perto da trilha sonora de Laranja Mecânica em sua metade – a progressão de teclas quase erudita tem o mesmo timbre sintético e rústico de Wendy Carlos, principal compositora do filme. Além da sonoridade semelhante, seu acréscimo no meio da música poderia facilmente cair na ironia que permeia a obra clássica de Stanley Kubrick. A coleção de canções irrestivéis segue pela descompromissada faixa título, com uma abertura que nos lembra Heroes de David Bowie e logo se transforma em algo novo. Todas as referências pinceladas ao longo do disco parecem apenas adereços ao esfumaçado e idiossincrático som da banda – como as vozes “pink floydianas” no fim de Club Intro, por exemplo.
A sonoridade alegre, conduzida principalmente pelas teclas, segue nos clipes do grupo encontrados na Internet e tem ainda contornos de um preciso humor (casos comos os vídeos de Undeniable e Windowpane). É curioso perceber que nenhuma das estéticas vistas tanto no disco, em apresentações ao vivo ou nos videoclipes parece forçada, mas sim influências naturais. Alexander, por exemplo, tocou e gravou com nomes como Ariel Pink e Silk Rhodes, o que se materializa a sua maneira no disco – aliás, The Chat tem participação de Pink na única música com uma voz “limpa” no disco.
Assim como muitas pessoas se prendem ao passado para afirmar a sua superiodade, outros incorporam um espiríto perdido e o transformam em algo contemporâneo. Não tem como negar que a existência da banda de Brettin se deve tanto a um passado sonoro, mas também a memética do presente que transforma imagens e conceitos em metonímias: acaba se visualizando a parte como o todo – nesse caso, um bloco de informações e influências que se transforma em um irrestível e nostálgico disco de Rock Psicodélico – leve, sem explosões e somente contemplações. Mild High Club é extremamente lisérgico à sua maneira e não pode ficar de fora de sua lista de músicas do verão – principalmente para aqueles momentos em que não se quer pensar em mais nada além de viajar consigo mesmo.