Resenhas

Ian Ramil – IAN

Primeiro trabalho do gaúcho impressiona ao se mostrar experimental e acessível ao mesmo tempo

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Ano: 2014
Selo: Escápula Records
# Faixas: 13
Estilos: Rock Alternativo
Duração: 52.59
Nota: 4.0
Produção: Matias Cella
SoundCloud: /tracks/113157231

IAN, primeiro disco do gaúcho Ian Ramil, apresenta uma alternativa interessante ao famigerado Rock Gaúcho, seja o iconizado no começo da década passada ou ainda o mais recente, representado exemplarmente por Apanhador Só. O álbum é coeso mesmo que formada por tantos contrastes, se estabelecendo como o vórtex do excêntrico e comercial, do desafiador e fácil aos ouvidos, do experimental e do popularesco. Uma obra ímpar e que desafia o ouvinte a se aventurar por uma vasta paleta de estilos e sonoridades, que vão de The Beatles a Jorge Ben (Entre o Cume e o Pé), passando ainda por Los Hermanos (Segue o Bloco e Pelicano).

E por falar em Beatles, esse parece ser um dos eixos centrais do disco, mas não de forma copiosa. Aqui, Ramil parece tentar emular não a música do quarteto de Liverpool, mas o espírito livre e a vontade de experimentar e ousar dentro do contexto da música popular que o grupo mostrava, de renová-la ao trazer velhas ideias em novos formatos e, mais que isso, conduzi-la a sua própria maneira. Até mesmo a dificuldade em conseguir classificar o álbum nesse ou naquele gênero exemplifica essa aproximação do músico à banda inglesa. Ainda assim, há algumas pontuadas homenagens ao “Fab Four”, como a citação de I Want You (She’s So Heavy) na versão de Nescafé (Apanhador Só) ou ainda o arranjo de Seis Patinhos, que pode lembrar um pouco o espírito de Lucy in the Sky with Diamonds.

IAN é, de certa maneira, uma fuga ao passado do próprio músico. Ele é filho do cantor e escritor Vitor Ramil e sobrinho da dupla Kleiton e Kledir, mas, para seu trabalho, resolveu se isolar de tudo isso e levar as coisas do seu jeito. E nesta intenção de isolar-se, acabou rumando à Argentina para as gravações do álbum e, com a ajuda do produtor Matias Cella e um punhado de músicos argentinos, acabou por criar em sua obra o que parece o reflexo de si mesmo. Fruto de escolhas não muito usuais, a obra se mostra em grande parte acústica, contando com um conjunto de metais e sopros em algumas das faixas e com duo elétrico de baixo e guitarra aparecendo aqui e ali – principalmente nas faixas mais “Rock & Roll”, como em Cabeça de Painel.

Esparso em gêneros, o álbum segue apresentando uma boa variedade deles ao decorrer das treze faixas, como Country Rock (Hamburguer), um quase cabaré (Pelicano) e até mesmo baladas românticas (Over and Over) – às vezes apresentando grandes variações dentro de uma só faixa, caso de Zero e Um, Entre o Cume e o Pé e Transe. Constantemente visitando o misto de suas influências e unindo-as de um jeito muito particular, IAN resulta um disco muito coeso e bem fluído que, mesmo se alongando por mais de 50 minutos (algo não tão usual para discos de hoje), consegue não cansar o ouvinte – por mais que enxugar alguns minutos talvez o fizessem mais imediato e ainda mais fácil.

A parte da lírica do álbum é igualmente diversa, às vezes meio abstrata e desconexa. Como verdadeiros poemas musicados, suas letras por vezes se perdem em suas próprias referências, mas se encaixam muito bem no contexto do álbum e até mesmo mostram alguma semelhança com o teor de Antes que Tu Conte Outra, mais recente álbum de seus conterrâneos e amigos Apanhador Só. E não é à toa que Rota também aparece neste álbum, visto que a composição é uma pareceria entre Ian e Alexandre Kumpinski (o mesmo vale para Nescafé, do primeiro disco do grupo).

Experimental ao ponto de trazer novidades aos gêneros que brinca e ousar liricamente e “Pop” ao ponto de traduzir tudo isto em canções fáceis aos ouvidos, o disco impressiona logo de cara e se destaca dos demais lançamentos por conseguir representar tão bem o ponto médio entre esses dois extremos. Um álbum que denuncia maturidade e sabedoria do músico ao saber como trazer seus experimentos em uma roupagem altamente acessível.

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BOM PARA QUEM OUVE: Apanhador Só
ARTISTA: Ian Ramil
MARCADORES: Ouça, Rock Alternativo

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts