Resenhas

Chrissie Hynde – Stockholm

Gravado na capital sueca, primeiro álbum solo da artista celebra a nova fase de sua carreira

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Ano: 2014
Selo: Caroline
# Faixas: 11
Estilos: New Wave, Rock, Rock Alternativo
Duração: 37:55min
Nota: 4.0
Produção: Bjorn Yttling
SoundCloud: https://www.youtube.com/watch?v=16O3ZKJmol4

Uma mulher-vinho. Podemos cravar este elogioso termo quando nos referimos a Dona Chrissie Hynde, que se torna melhor à medida que o tempo passa. Uma figura feminina marcante dos anos 1980 em diante, sempre à frente de sua banda The Pretenders , empunhando sua guitarra Fender Telecaster e soltando frases e versos com seu registro agridoce, ela influenciou um grande número de vocalistas ao longo do tempo e mantém-se firme e forte. Stockholm é sua estreia solo após mais de 30 anos de carreira. Ao contrário do que poderiam dizer os chatos de plantão, Chrissie ainda tem muito a dizer.

Stockholm traz a produção de Bjorn Yttling, 1/3 de Peter, Bjorn And John e responsável por uma certa atualização no Rock polido que Chrissie pratica há tanto tempo. Yttling foi sugerido pela gravadora e Chrissie não o conhecia. Os dois se deram tão bem, que ela decidiu gravar na capital sueca e Bjorn ainda coassinou nove das onze composições do álbum. Tal acabamento na produção não modificou a essência da música feita pela veterana cantora/compositora, pelo contrário, conferiu-lhe um frescor só ouvido nos primeiros anos de Pretenders.

As primeiras impressões vem logo na abertura com You Or No One, revestida por um inequívoco arranjo que se banha nas águas plácidas dos melhores momentos do wall of sound criado por Phil Spector lá nos anos 1960. O primeiro single, Dark Sunglasses é uma beleza total, imerso num clima que poderia ser de The Cars ou alguma banda pré-New Wave americana da virada dos anos 1970/80 (The Pretenders? Sim, claro), só que devidamente disfarçada pelos tiques e taques das produções atuais, mas que não impedem um sinuoso fraseado de guitarra lá pelo meio da canção e um balanço convidativo para dancinhas imprecisas. Like In The Movies é uma daquelas músicas em velocidade intermediária, próprias para as estradas e reflexões sobre amores ideais. A inequívoca presença da guitarra de Mr. Neil Young é o grande fator de distinção que Down The Wrong Way ostenta, o que a faz subitamente ser uma canção empoeirada e também forjada para explorar os rincões menos óbvios dos EUA a bordo de um carrão qualquer. Mais um arranjo rapidinho e com andamento quebrado emoldura You’re The One, enquanto A Plan Too Far traz guitarras de por do sol em filme de Velho Oeste e andamento turbinado com violões.

A Chrissie Hynde fã de The Beatles surge em In A Miracle, que poderia ser uma canção de John Lennon feita em 2014, enquanto House Of Cards, logo em seguida, traz bateria sintetizada e revestimento de sintetizadores por todas as partes, sem que se transforme no que se entende por Synthpop. Tourniquet (Cynthia Anne) é uma delicada, porém tensa, balada, mas com um elemento de suspense à espreita. Sweet Nuthin’ é canção de excelência, com teclados e andamento rápido, antecipando o final glorioso com uma típica balada hyndeana, Adding The Blue, nos moldes de acertos do passado, como I’ll Stand By You.

Poucos artistas são reconhecíveis tão facilmente quanto Chrissie, carismática e competente como sempre. Seu disco solo é uma beleza, traz passado, presente e aponta para o futuro sem se apegar a nenhum desses tempos, tornando-os um único elemento neste pequeno e sincero caldeirão de influências que é Stockholm. Belezura.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.