Resenhas

Tove Lo – Queen Of Clouds

Disco se mostra como uma excelente tragédia Pop, dividida em três atos

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Ano: 2014
Selo: Universal Music
# Faixas: 18
Estilos: Pop Alternativo, Eletrônica,
Duração: 47:48
Nota: 4.0
SoundCloud: /tracks/136458663
Itunes: https://itunes.apple.com/us/album/queen-of-the-clouds/id913743421?uo=4
Livraria Cultura: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?ni

Se eu começasse este texto dizendo que Queen Of Clouds é um disco Pop sobre um fim de relacionamento, provavelmente metade dos leitores já perderia o interesse deduzindo que este é um trabalho leviano e comum, afinal, não faltam exemplos de registros com esta temática pelo mundo. Entretanto, Tove Lo não nos expõe um só caso, mas toda uma história completa e psicologicamente profunda sobre como o que era para ser um episódio de sexo casual se desenvolve em uma grande dor, agonia e um cenário cheio de reflexões. Se você esperava escutar algo superficial, você irá se surpreender.

Tove Lo anda junto da excelente safra de cantoras suecas Pop que mostram ao mundo uma alternativa ao Pop massante das rádios e conhecida principalmente por nomes como Lykke Li e Icona Pop. Em Queen Of Clouds, a cantora resolve contar sua depressão pós-relacionamento em três atos. The Sex, The Love e The Pain mostram como o Pop Sueco é um excelente gênero para comunicar um sofrimento constante e digno de fazer inveja à Sartre, pai do existencialismo moderno.

The Sex narra como, segundo a própria Tove Lo, “a paixão no começo sempre será a melhor parte”. Portanto, o que temos aqui é uma série de quatro músicas bastante agitadas, dançantes e sensuais, seja na instrumentação eletrônica ou em letras que evocam metáforas sexuais muito sutis. Entretanto, já vemos aqui sinais de que a personagem que narra sua história já tem conhecimento do que este ato sexual pode provocar, ao cantar na faixa My Gun, “se você for atirar em mim, faça isso devagar”. É interessante notar este realismo contrário à supervalorização sexual que o Pop mainstream costuma retratar em suas músicas.

O segundo capítulo é um de reflexão, no qual Tove Lo diz “você começa a surtar porque, de repente, você precisa desta pessoa”. A paixão começa a tomar conta de um jeito nenhum pouco feliz e ensolarado. O Pop Sueco aqui vem auxiliar uma ambientação mais fria, como se este amor, na verdade, fosse uma doença que a personagem quer, mas, ao mesmo tempo, evita. Este duelo paradoxal e interior gera ótimas canções como Moments, Got Love e Not On Drugs. Essa última é um aviso ao ouvinte de que ela não está drogada, mas apaixonada. The Love é a mais elaborada e instigante parte das três que compõe o disco todo.

O fim chega doloroso, mas a festa não para. Todos os sintomas de felicidades, êxtase e freneticismo dão espaço a uma depressão que, por conta de ter passado por um sentimento de amor prévio, continua Pop, meio que como se a inércia impedisse a personagem de parar de amar imediatamente. Habits (Stay High) foi uma das faixas liberadas antes do lançamento de Queen Of Clouds e, pensando agora, foi uma excelente estratégia. O ouvinte que escutou esta música extremamente lamentosa deve ter esperado um disco superficial, mas mal sabia ele que este era o último capítulo de uma longa e sofrível trajetória de decepção amorosa.

Temos aqui um capítulo interessante na hisória do Pop, que mostra novos caminhos e que é possível trabalhar um gênero comercial a favor da liberdade criativa. Tove Lo mostra que é um nome de peso entre a cena Pop sueca e que futuros lançamentos são parada obrigatória de todo bom ouvinte de música.

Um lamento Pop doloroso e dançante em três atos. Shakespeare provavelmente tomaria uma cerveja com Tove Lo.

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BOM PARA QUEM OUVE: Icona Pop, Lykke Li
ARTISTA: Tove Lo

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique