Resenhas

Primos Distantes – Primos Distantes

Disco de estreia da dupla paulistana é sincero, irônico, leve e divertido

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Ano: 2014
Selo: Independente
# Faixas: 13
Estilos: Pop Rock, MPB
Duração: 41:00
Nota: 3.5
Produção: Rafael Castro

Qual a distância entre um parentesco sanguíneo e um de vida? Segundo Primos Distantes, nenhuma, é simplesmente a mesma coisa. Como filho único, não poderia concordar mais com isso, pois a família é o que se constrói ao longo de suas amizades, não necessariamente o que está ligado ao seu berço. Caio Costa e Juliano Costa não são primos, apesar de seu sobrenome em comum. São na verdade amigos-irmãos que se conheceram em uma bandinha de colégio há treze anos, mas que, apesar da música nunca ter sido deixada de lado em sua jornada, só resolveram criá-la e materializá-la recentemente.

Primos Distantes é um disco que não tenta se encaixar em nenhum estilo ou rótulo, mas que somente pode ser enquadrado a partir da sua audição. Tem Rock, Pop e MPB? Sim, mas tem humor, bastante ironia, reflexões mundanas e uma inocência pueril simpatizante. Por exemplo o Rock simples Dragão, que coloca o baterista Juliano e seu timbre icônico para cantar sobre si mesmo: “Ah eu preciso parar de cantar!/ Todo mundo tentou me avisar/ que eu tenho essa voz de dragão” – ganha o ouvinte no riso, mas conquista na acessível arquitetura sonora, fácil e divertida de se perder escutando.

Como também Idiota, um Samba Rock, que pega as origens do estilo brasileiro em compasso na caixa e letra que parece falar de um tema sério. Embasa-se nas vozes mais “focadas” de Caio e Juliano, mas sem se esquecer nunca do humor sagaz, mecanismo mais eficaz para toda a condução do disco. “Mas, meu amigo, aonde você vai com essa marra? Um ar superior preso na cara tentando esconder alguma mágua” – quantas vezes você não quis dizer isso para aquele seu colega pedante? Seus toques rítmicos e, principalmente, a dissonância de voz entre grave e agudo da dupla fazem com que a primeira banda que venha à cabeça seja Móveis Colonias de Acaju, sem a mesma apoteose, mas com igual ironia serena; Feio com Rafael Castro, seu produtor e orquestrador de grande parte dos instrumentos do álbum, traz uma festa sessentista divertida ao todo da obra – sintetizadores divertidos, riffs rápidos de guitarra e uma levada que convida a fanfarra – talvez o grande momento que torne mais fácil a assimilação entre os paulistas e os brasilienses.

Aprecio os momentos que trazem inocência na voz de Caio, mas somente na voz, pois as letras que parecem bobinhas na primeira instância, são riquíssimas em detalhes, como em Só Pra Você: “Meus versos fraquinhos, são só pra você/ tão pobre, batidos mas só pra você”. A faixa melancólica com uma bela levada nos teclados, um Rock romântico de interior, nos fazem lembrar o porquê de O Terno ter recentemente indicado a banda em uma entrevista para o Monkeybuzz – as similaridades tampouco estão restritas ao humor ou à levada musical, mas também por compartilharem ao vivo o baterista Victor Chaves.

A diversão deste disco levíssimo passa por músicas como Canastrão (“Mentir é impossível para mim/Só uma vez eu fui assim”), Aniversário (“Eu sou tão velho e você tão nova/ Eu quero Whisky e você Coca-Cola”) ou Silêncio (“Quando a conversa acaba e ninguem tem o que dizer/ Falo baboseira se não o tal bicho vem”). Em cada caso, a dupla quer abordar temas sérios sem seriedade, rir de si mesmo sem se tornar depressiva – prefere sempre entrar na brincadeira antes que alguém saia machucado por uma palavra mal interpretada.

Essa vontade intrínseca de ser sincero sem ser duro é que torna a estréia do duo tão universal, seja você alguém na casa dos 20 poucos anos ou na adolescência vai acabar rindo de suas besteiras/inocências passadas ou presentes. Revela também que seus concertos acompanhados de Victor, Renato Medeiros e Thales Othón devam ser divididos entre uma interpretação rica de vozes e um peso instrumental que pode ser percebido no melhor momento do disco, o Rock de Conjuntivite (“Eu quero uma conjuntivite pra eu poder te evitar/ e mesmo que o acaso nos coloque frente a frente, eu não possa te comprimentar”). Em todo caso, se o segredo da vida é formar famílias alheias, dar risada da tristeza e levar a vida de forma leve, podemos dizer que Primos Distantes é um prato simples, mas cheio pra alegrar o seu dia e pelo menos enxergar os seus problemas de outra forma. Não deixe de baixar o disco no site oficial da banda e ver o belíssimo encarte feito por Andrício de Souza.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.