Resenhas

Pato Fu – Não Pare Pra Pensar

Novo disco da banda mineira é cheio de melodias Pop perfeitas

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Ano: 2014
Selo: Rotomusic/Sony
# Faixas: 11
Estilos: Pop, Rock Alternativo, Rock
Duração: 42:00min
Nota: 4.0
Produção: John Ulhoa

Não parece, mas já se vão sete anos desde o lançamento de Daqui Pro Futuro, o último álbum de inéditas gravado por Pato Fu. Neste intervalo, Fernanda Takai investiu em sua bem sucedida carreira solo e a própria banda lançou o projeto Música de Brinquedo, cheio de regravações arranjadas por John Ulhoa pensando na utilização de instrumentos infantis, com um resultado igualmente legal. Poucos meses depois do lançamento de Na Medida do Impossível, disco de Takai, produzido por John, a banda está de volta com Não Pare Pra Pensar, um belo exemplar de Pop brasileiro.

Antes de mais nada, Pop brasileiro não precisa ser dançante, erotizante, cafetão, eletrônico ao extremo, ou pobre. A regra atual nos aponta estas direções para o mercado da nossa música, o que é revoltante e privilegia os músicos pouco talentosos. John e Fernanda são a antítese dessa lógica e, ainda assim, se assumem como compositores populares neste décimo-segundo álbum de Pato Fu. A matriz inspiradora é a interseção entre o Rock oitentista de gente como The Cure, Duran Duran e Culture Club, pegando algumas inspirações mais roqueiras aqui e ali, misturando sob a égide da inquietude de estúdio de John e o resultado é um clássico e maduro álbum patofuniano, com um diferencial, que só o tempo pode trazer: a dupla está mais afiada do que nunca no quesito composição e se equilibra na diferença entre eles, com Takai pendendo mais para a canção popular revisitada, com John mantendo-se mais próximo do bom e velho Rock. Há umas cinco ou seis faixas prontas para tocar no rádio, caso este meio de comunicação ainda fosse gerenciado e encarado como algo minimamente racional e relevante. Ainda que estejam presentes as experiências com computadores e engenhocas de estúdio, as canções são o forte deste novo trabalho. E todas elas são cheias de detalhes adoráveis e que conferem a dose certa de crocância e cremosidade à audição.

Guitarras resfolegantes e setentistas abrem Cego Para As Cores, primeira canção do disco, que engata logo numa batida eletrônica com vocais que lembram a dinâmica Tears For Fears de Pop clássico. Crédito Ou Débito traz introdução suingada do início dos anos 1980, com guitarras de Surf Music à la Tarantino e andamento com batida Motown, tudo ao mesmo tempo, mas nunca abarrotando o ouvinte com informação em excesso. John assume os vocais e o comando da próxima canção, Ninguém Mexe Com O Diabo, um Rock moderno e cheio de intervenções eletrônicas no estúdio. A canção título é dançante e arrojada sem ser exagerada e vinculada com qualquer corrente modernóide de Pop brazuca. A melodia é bela e Fernanda canta com personalidade e leveza necessárias. A adorável Eu Fui Feliz é mais uma maravilha dourada. Tem batida decalcada de Why Can’t I Be You (The Cure safra 1987), que, por sua vez, pega emprestada do cânon dourado da Motown sessentista. A letra é um primor, com o versinho dói no peito o amor que, de mim, aos poucos se desfaz.

Um Dia Do Seu Sol é uma canção mais convencional e com letra falando de amor, chuva, sol e as metáforas meteorológicas cabíveis entre estas três palavras. You Have To Outgrow, Rock’n’Roll é John no vocal em meio a uma levada ensolarada e herdada de bandas Punk Pop dos anos 1990, como The Offspring, mas com o cuidado de arranjar no meio da maçaroca sonora um indefectível órgão Farfisa. Sigo Mesmo No Escuro já traz Fernanda refletindo sobre a vida em meio a uma melodia com piano, guitarra e baixo em perfeita sintonia. Pra Qualquer Coisa tem arranjo instigante e levemente jazzístico, com participação vocal do indefectível Ritchie, de quem Takai é fã assumida. A canção seguinte, Mesmo Que Seja Eu, originalmente de Erasmo Carlos, tem arranjo parecido com o da clássica Eu (de Ruído Rosa, álbum de 2001 da banda) e resultado satisfatório, apesar de levemente deslocada em relação ao restante do álbum. Eu Ando Tendo Sorte é balada dramática ao piano, com tempero de efeitos especiais e cordas sintetizadas.

É bom ouvir um álbum tão legal como Não Pare Pra Pensar. Bem dosado, bem gravado, com personalidade, melodia, relevância. Quase é uma novidade em tempos tão obtusos para a música popular brasileira. Bravo.

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BOM PARA QUEM OUVE: Ludov, Os Mutantes, SILVA
ARTISTA: Pato Fu

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.