Resenhas

Pink Floyd – The Endless River

Novo álbum da banda tem personalidade e brilho próprios

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Ano: 2014
Selo: Sony
# Faixas: 18
Estilos: Rock Progressivo, Rock, Rock Psicodélico
Duração: 65:05min
Nota: 3.5
Produção: David Gilmour e Phil Manzanera

Quem pensaria que veríamos o lançamento de um novo álbum com a assinatura Pink Floyd em pleno 2014? Quem poderia imaginar que este novo grupo de canções faria conexões estéticas com uma faceta da banda deixada de lado há quase quarenta anos? E, finalmente, quem desconfiaria que este trabalho, composto por sobras instrumentais das sessões de gravação do disco de 1994, The Division Bell e algumas novas progressões musicais, seria capaz de sustentar-se com luz própria e propósito definidos? Pois bem, tudo isso é verdadeiro em The Endless River, para a sorte dos ouvintes.

Antes de ouvir o novo disco, aqui vão alguns pequenos avisos. Não adianta esperar um novo clássico do Rock, na esteira de Dark Side Of The Moon (1973) ou The Wall (1979). Também não vale a pena imaginar que a sonoridade perpetrada pelo trio remanescente da banda, a saber, David Gilmour (voz, guitarras), Nick Mason (bateria) e Ricky Wright (teclados, falecido em 2008) seja muito diferente do que o grupo realizou no período pós-1987, quando retomaram a carreira após o anúncio da saída de Roger Waters, baixista e mente brilhante do então quarteto. O que vemos/ouvimos em The Endless River é uma sucessão de canções instrumentais, algumas pouco maiores que um minuto e meio, outras chegando aos três, quatro minutos, que funcionam perfeitamente bem como uma única peça musical de pouco mais de uma hora de duração. A voz de Gilmour, traço marcante da sonoridade floydiana, surge apenas no final, em Louder Than Words, no modelo Pink Floyd anos 1980, com riffs e solos atmosféricos, porém fortes, bateria marcial e precisa de Nick Mason e teclados delicadíssimos de Wright. Podemos dizer que este é o disco mais progressivo gravado pela banda desde o início dos anos 1970. Não é pouco, gente.

Seguindo a lógica das gravações para The Division Bell, participam deste novo trabalho, o baixista Guy Pratt, o tecladista John Carin e o percussionista Gary Wallis. Há momentos de autorreferência explícita, seja em título das canções como em Autumn 68, lembrando Summer Of 68, de Atom Heart Mother, o “disco da vaca”, (lançado em 1970) ou na abordagem musical das próprias composições. Anisina recorda o piano de Us And Them (de Dark Side Of The Moon), The Lost Art Of Conversation tem a placidez de teclados à beira mar de Shine On You Crazy Diamond (de Wish You Were Here, 1975) e há certo groove de baixo/bateria em On Noodle Street em parâmetros semelhantes a Another Brick In The Wall (de The Wall, 1979). Apesar da familiaridade, há algum espaço para surpresas. Talkin Hawkin tem samples da voz do físico britânico Stephen Hawkins e Skins acena para certa fúria guitarreira/percussiva bastante incomum no repertório de David e Nick.

Não haverá show, turnê, absolutamente nada além do próprio lançamento do álbum. O disco sai na versão simples em CD e em combos CD/DVD e CD/BluRay, trazendo cerca de 40 minutos de material inédito, entre outras canções (entre elas, a pesadíssima Nervana, momento de glória guitarrística de Gilmour, outra surpresa para ouvintes acostumados à dinâmica da banda), livreto, postais e mais crocâncias colecionáveis.

Muitos dirão que este é um lançamento desnecessário e burocrático de Pink Floyd, mas estarão enganados. The Endless River é excelente para uma audição noturna, com fones de ouvido e em volume considerável para conferir uma série de detalhes sonoros que serão ainda mais celebrados nas versões com DVD e Blu Ray 5.1. Não é um disco que vai mudar o mundo, influenciar gerações ou desencadear processos, mas é uma bela peça musical de Rock Progressivo, feita por quem entende do assunto e está na estrada há, vejamos, 47 anos. Ouça.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.