Resenhas

Röyksopp – The Inevitable End

Novo trabalho da dupla norueguesa é competente, mas monótono

Loading

Ano: 2014
Selo: Dog Triumph
# Faixas: 12
Estilos: Eletrônica, Dance Alternativo, Synthpop
Duração: 61:47min
Nota: 3.0
Produção: Svein Bergen e Torbjorn Brundtland

Antes de mais nada, aqui vai uma pequena e pretensiosa reflexão filosófica, suscitada pela audição deste The Inevitable End, novo trabalho dos noruegueses Röyksopp: é engraçado que um gênero musical tão sintonizado com o presente/futuro, caso da música Eletrônica, tenha se tornado presa fácil do loop temporal deste início de século 21. Chovem trabalhos em que o Synthpop, aquela variação criada no início da década de 1980, é a influência dominante. Não se trata de detestar o estilo, mas já começa a irritar um pouco a devoção cega pelos sintetizadores datados, sobretudo no caso de uma dupla como Röyksopp, que iniciou a carreira muito mais sintonizada com a releitura espacial retrô que bandas como Air ousavam fazer no início da década de 2000. Essa olhadela para um passado que sonhava com um futuro nunca realizado, em que teríamos naves espaciais para Marte, engenhocas à la Jetsons e carros anti-gravidade foi abandonada por uma interminável vontade de estar em 1984. E não sair nunca mais de lá. E o trocadilho com o ano escolhido por George Orwell para situar no tempo a sua crônica distópica também não é por acaso.

A dupla anunciou, logo após confirmar o lançamento deste novo trabalho, que não pretende mais usar o formado “disco” para novas criações daqui pra frente. “Estamos pensando em novas formas de compartilhar nosso trabalho”, disse Bergen em entrevista. Seja como for e apesar do primeiro parágrafo incisivo, The Inevitable End tem méritos e o maior deles é, justamente, parecer com algo feito naquele início de década de 1980. Tem uma apropriação do zeitgeist num nível Daft Punk de esmero e recriação de climas.

Logo na primeira faixa, Skulls, já é possível perceber que Bergen e Brundtland tem conhecimento de causa. A batida sintética emulando bumbo, os fraseados robóticos dos synths, tudo funciona, com o bônus do andamento arrastado, que lembra One Night In Bangkok, clássico obscuro de Murray Head. O nível é mantido na segunda canção, Monument, que tem participação da cantora norueguesa Robyn (com quem a dupla lançou o bom Do It Again há poucos meses), cheia de vozes sintetizadas e processadas em meio ao turbilhão sonoro dançante. Sordid Afair tem início lembrando alguma canção do músico grego Vangelis, ganhando em crescendo e dramaticidade enquanto acena para paisagens atmosféricas e exibe a participação de Ryan James, de Man Without Country. You Know I Have To Go já transporta o ouvinte para ambientes noturnos e solitários, com a voz intencionalmente monótona de Jamie McDermott, de The Irrepressibles. Save Me e Rong têm batida mais moderna e repetem os vocais de Robyn, devidamente modificados por vários efeitos especiais. Mesmo destoando um pouco do clima reinante, a primeira parece com um suposto remix de alguma canção esquecida do quarteto sueco Abba, restando à segunda um gosto de estranheza minimalista destoante.

I Had This Thing volta à carga com mais flertes explícitos com a aurora dos anos 1980, mantido com a canção seguinte, Here She Comes Again. Pianos elétricos e a voz elemental da cantora/compositora norueguesa Susanne Sundfør conferem destaque a Running To The Sea, bela e dramática, preparando o ouvinte para o trio final de canções: Compulsion, subterrânea e sutil; Coup De Grace, totalmente instrumental e com pinta de canção de final feliz e Thank You, que retoma os vocais sintetizados e o approach sonoro do álbum.

The Inevitable End é um grande exercício de estilo, uma coleção de canções bem feitas, bem produzidas mas que padecem dessa devoção ao Synthpop como saída para a descolância sonora absoluta. Nos resta aguardar os novos lançamentos e ver como a dupla vai se inserir nessa novíssima maneira de compartilhar seu trabalho com o público.

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Air, Groove Armada, Four Tet
ARTISTA: Röyksopp

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.