Resenhas

Ryan Hemsworth – Alone For the First Time

Álbum vem como continuação de “Still Awake” com faixas que abraçam um tom intimista e Pop

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Ano: 2014
Selo: LAST GANG/SECRET SONGS
# Faixas: 7
Estilos: Eletrônico, Chillwave
Duração: 27"
Nota: 3.0
Produção: Ryan Hemsworth

Ryam Hemsworth nunca soou tanto como um canadense. As sete músicas que dão nome ao terceiro álbum do produtor compilam muito bem o clima frio que tanto Ryan negou em Halifax. Alone For The First Time fala por si só. Vindo de um produtor que chegou no topo por trazer um pouco mais de conceito a batidas de Hip Hop, a obra finalmente soa como uma reclusão, férias para os otimistas. A maioria dos seus trabalhos eram remixes, sintetizadores e batidas 2/2 em rimas compassadas de rappers colaborativos, tudo com muita originalidade, mas que não construia o que era o Ryan sem o “feat”.

O álbum é uma homenagem aos momentos em que temos nós mesmos como companhia e não temos medo disso. Não é à toa que os versos Leave me Alone são tantas vezes lembrados durante Walk Me Home. A faixa, inclusive, lembra muito que vimos recentemente em Worlds, do ex-produtor de EDM Porter Robinson. Essa atmosfera de Synth-Pop cheio de distorção vocal feita pelo Lontalius emana muito aquele sentimento de complacência com uma situação. Estar à vontade, em Alone For the First Time, é uma obrigação.

Hemsworth segura as pontas (e suas datas indisponíveis na turnê) trazendo essa linguagem mais difícil de ser mastigada diante de um cenário cada vez mais superficial na música Eletrônica. E esse trabalho agora foi uma parte extremista de sua carreira em que não se visou um público de pista, e sim um público de cama. Essas sete faixas seguem uma linha intimista que revelam um lado mais emotivo de Ryan e, finalmente, a consagração de um lado autoral.

Mas a “primeira vez que Ryan ficou sozinho”, não foi tão sozinho assim. O álbum é recheado de participações que vão de conhecidos de Soundcloud a anônimos talentosos. As melhores, porém, ficam nas mãos de Dawn Golden, com a melhor do álbum Snow in Newark – que tem um ritmo vocal que remete muito a Death Cab for Cutie -, e Alex G com a orgânica e delicada Too Long Here que lembra muito o que mais amamos nas produções mais melódicas do Hot Chip.

Blemish, por sua vez, produção individual e instrumental, consegue apaixonar com violão com sintetizadores. By Myself vem com notas graves de piano e vocais de GTW & Little Cloud, encantam, relaxam, vestem como um pijama em um dia que se precisa esvaziar a cabeça.

As faixas aqui são duais, ora brigam por individualidade, ora buscam por atenção. Mas o que mais pega em todo álbum é um resgate que o artista faz a si mesmo, à linda jornada que é olhar pra dentro, ao que se sente e não ao que os outros iriam aprovar. Depois de um caráter mais psicodélico e mais festivo em Guilt Trips, no ano passado, chega a hora de subir um degrau e para toda progressão há um amadurecimento.

As boas línguas dizem que aqueles que conseguem e gostam de ficar sozinhos são aqueles que estão bem consigo mesmo. Alone For The First Time soa como a continuação da viagem que iniciamos em 2013 com Still Awake, aquela que Ryan nos convidou, de forma mais tímida, para acompanhar enquanto durava sua insônia. E aqui o trabalho é visivelmente mais adulto, mais completo. E não só de técnica uma resenha se escreve. Hemsworth se mostra mais seguro, jogando uma vulnerabilidade que existira outrora e faz questão de jogar no título que agora anda com os próprios pés. Percebeu que é possível sim fazer música Pop e deixar seus edits para um passado a se vangloriar.

Ryan está sozinho pela primeira vez, mostrou sua verdadeira face depois de anos melhorando faixas alheias. Alone For the First Time é sobre liberdade, sobre se sentir pronto. E quem não para de engatinhar quando percebe força nas pernas?

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BOM PARA QUEM OUVE: Death Cab for Cutie, Hot Chip
MARCADORES: Chillwave, Eletrônico

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King