Quantas foram as vezes que você terminou um álbum/EP e ficou olhando para o vazio vagando em seus próprios pensamentos? Quantas foram as vezes que após o término de uma obra você soltou um sonoro (ou mesmo mentalmente) “Uau!”? Eu posso contar nos dedos as minhas experiências sonoras que se encerraram assim e posso afirmar que A Lifetime a Minute, novo EP do grupo paulistano The Soundscapes, foi uma dessas.
Falar da sonoridade da banda sem recorrer aos bastiões do Rock Alternativo dos anos 90 é bem difícil, mas, ao mesmo tempo, se limitar em o quanto o som do grupo em alguns momentos pode lembrar o de nomes como Teenage Fanclub, Superchunk, Yo La Tengo ou Pavement é muito pouco perto de tudo o que grupo tem a oferecer. Limitar esse som como o simples eco do que já foi feito no passado me parece uma simplificação exagerada e no mínimo errada.
Em apenas cinco faixas, o grupo consegue levar o ouvinte para passear por um Rock leve, agradável e altamente melodioso. São músicas que tomam seu tempo para crescer em volta das guitarras (sempre em timbres interessantes e dosados, mesmo nos solos mais abrasivos), batidas certeiras e vocais hipnóticos, mistura capaz de transportar o ouvinte para aquele estado contemplativo catatônico logo com os primeiros acordes de Shooting Stars.
Os poucos mais de 21 minutos que formam a curta obra mostram interessantes interesseções entre sonoridades roqueiras, mas, ao que parece, mostram também algumas pitadas de Dream Pop e algo próximo ao Shoegaze. Dosando cada um desses elementos em suas canções, resultando em canções completos e autênticas – como Bright Young Hope e Snake Charmer podem muito bem mostrar.
Se lembra do final com aquele fator “Uau!”? Ele vem em Boys ‘n’ Girls, melhor faixa do EP e que, em seus mais de cinco minutos, parece unir nomes como Craft Spells, DIIV e Wild Nothing em uma só canção. Uma mistura incrivelmente onírica e que fecha a obra oferecendo um convite para o ouvinte poder viajar por alguns instantes dentro de seus próprios devaneios.
Não fosse só isso, o EP é um passo (e tanto) adiante em relação ao disco Freestyle Family (lançado em 2008). Mais refinado (não só instrumentalmente, mas liricamente) A Lifetime a Minute se prova uma grande conquista na carreira do grupo e espero que ponto de partida para um futuro nesse caminho.