Resenhas

Atalhos – Onde A Gente Morre

Novo registro da banda paulista surpreende pela exploração lírica

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Ano: 2014
# Faixas: 12
Estilos: Pós-MPB, Post-Rock, Folk Rock
Duração: 67:48
Nota: 3.5
Produção: Alexandre Fontanetti

As narrativas da banda paulistana Atalhos foram grandes demais para ficarem contidas no Brasil. O lançamento de seu novo registro contou com a participação de um time gringo bastante potente. A mixagem ficou por conta de Mark Howard, que já havia trabalhado com grandes nomes, como Bob Dylan, Joni Mitchell e R.E.M, além de chamar Lucky Paul (que toca com Feist) para gravar uma das faixas de bateria. Entretanto, vemos que a maior parceira estrangeira se encontra nas influências expostas durante os mais de sessenta minutos, tendo como um nome principal a banda Wilco e o imortal Yankee Hotel Foxtrot, disco considerado fundamental pelo vocalista Gabriel Soares.

Onde A Gente Morre traz à tona um imaginário que ora se confunde com fantástico, ora se afirma com real. Com uma exploração lírica bastante intensa, o grande número de temas acaba se justificando a partir do momento que analisamos o disco como um grande sonho, onde não sabemos exatamente o momento em que estamos ainda acordados ou sonhando. Ora as composições tem uma aura mais concreta, como em Onde A Gente Morre e Só O Amor No Fim, ora elas são dotadas de uma psicodelia grande, como, por exemplo, nas faixas Coroados 3666 Km e Ínsula. O curioso é que este momento de transição é tão sutil que mal podemos perceber, da mesma forma como o universo lúdico se transforma.

Com uma base instrumental extremamente variável, as narrativas contadas por Atalhos encontram uma base confortável o suficiente para a criação destes universos interessantíssimos. Desde o relato de um caso de homicídio na música José, Fiquei Sem Saída, passando pelas descrições de cotidianos interioranos com um toque de lisergia em Cowboy da Estrada de Terra, até chegar à desilusão de Agorafobia, o disco é uma viagem no sentido mais profundo da palavra: você não é mesma pessoa que era quando o disco acabar.

Desta forma, Atalhos produz uma obra que marca uma evolução em sua relativamente curta carreira, preocupando-se mais com o controle da produção como um todo e fazendo com que ela se adeque à interessante proposta temática que permeia Onde A Gente por completo. Bom saber que temos este tipo de preocupação no cenário brasileiro. Com certeza, vale a pena ficar de olho nesta banda em 2015.

Uma realidade completamente imprevisível que passará rapidamente por sua mente.

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BOM PARA QUEM OUVE: Deerhunter, Bob Dylan, Wilco
ARTISTA: Atalhos

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique