Resenhas

Justin Townes Earle – Absent Fathers

Cantor e compositor americano lança disco gêmeo de seu trabalho anterior

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Ano: 2015
Selo: Vagrant
# Faixas: 10
Estilos: Alt. Country, Indie Rock, Rock
Duração: 31:31min
Nota: 3.5
Produção: Adam Bednarik

E aqui está Justin Townes Earle novamente. Após lançar em setembro o bom Single Mothers, o cantor, compositor e guitarrista americano disponibiliza outras dez canções das mesmas sessões de gravação. Com malandragem e sensibilidade, batiza o novo ramalhete musical de Absent Fathers, para ressaltar que estas 20 músicas são representantes do mesmo momento e versam sobre o mesmo tema, a saber, as relações sentimentais entre gente simples no meio da cidade grande. Não é só lamento e música para a estrada propriamente dita, mas para os quilômetros de memórias e sentimentos que temos todos em nós, tudo encapsulado no verso: “Single mothers, absent fathers, broken home”. Na verdade, Justin pensava em lançar um álbum duplo, mas, ao ver o rumo que as gravações tomaram, achou que os dois conjuntos de canções tinha personalidade suficiente para o formato de dois discos simples.

O Alt Country que Justin apresenta é menos entristecido e hypado, é herdeiro direto da faceta mais Rock do estilo, mas com espaço suficiente para lamentos e choros contidos pelo amor que se foi ou pela saudade de casa e da idade que já passou. Ele também tem habilidade suficiente para ser sensível sem lançar mão de algum subterfúgio. A abertura com Farther From Me não é nada frouxa, constituindo canção dentro da noite da alma, especialmente endereçada a seu “pai ausente”, o cantor e compositor Steve Earle. Why vem em seguida, ocorrendo em meio a uma levada brejeira, na qual se destaca a slide guitar de Paul Niehaus, que também dá as caras em gravações de gente legal como Calexico e Lambchop. Earle vai discorrendo sobre a ressaca moral que surge após o fim de um relacionamento.

Least I Got The Blues poderia ser mais uma canção sobre coitadismo e fracasso, mas seu andamento lento e seu canto declamado com ares clássicos e sessentistas faz com que nos identifiquemos com o protagonista da letra e embarquemos no lamento. Call Ya Momma tem palhetadas no violão, bateria fluida e baixo sinuoso, novamente para emoldurar diferenças entre pai e filho, desaguando em Day And Night, mais uma clássica e terna canção Country, dessa vez sobre as benesses e vantagens de pisar no freio da vida às vezes. O Rock no estilo Memphis-Tennessee surge em Around The Bend, com levada aerodinâmica e malandra, levando o ouvinte para When The One You Love Loses Faith, com um arranjo muito próximo das canções mais lentas e contemplativas da Soul Music sulista dos anos 1960. A interação entre Earle e Niehaus surge na brejeira Slow Monday, trazendo apenas os dois músicos em meio a mais abordagem tradicional. A rapidinha Someone Will Pay e a pungente Looking For A Place To Land encerram o percurso musical.

Ainda que Absent Fathers repita a mesma estrutura musical e divida com Single Mothers o tema e a inspiração, podemos notar que ambos os discos têm vida própria e se sustentam em separado. Um álbum duplo traria a perda de importância e esvaziaria o significado de algumas canções. Townes Earle segue imprimindo sua versão urbana, sentimental e sincera da música tradicional americana nestes tempos corridos e líquidos. A julgar por ambos os trabalhos, o rapaz se sai muito bem.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.