Resenhas

Viet Cong – Viet Cong

Poderoso relato experimental dos canadenses é barulhento, enérgico e inesperado

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Ano: 2015
Selo: Jagjaguar
# Faixas: 7
Estilos: Post Punk
Duração: 37:03
Nota: 3.5
Produção: Viet Cong

Diferentemente do que somos forçados a acreditar em filmes hollywoodianos, a vida não revela sua beleza por causa de eventos pré-estabelecidos ou por uma cadeia de ações e reações, ou “destino”. Ao contrário, no entanto, grande parte dos maiores acontecimentos da humanidade aconteceram devido ao acaso, seja a inesperada reação de placas bacterianas ao tempo revelando o que viria a ser a penicilina de Fleming, seja a ida a uma apresentação da banda de amigos, ocasionando na formação de uma parceria do tipo Lennon e McCartney. Longe de linhas traçadas anteriormente, mas pela tomada de riscos por seus agentes que grandes acontecimentos ocorreram e os exemplos em relação ao acaso, e não o destino, são infindáveis. Os canadenses do grupo Viet Cong são mais um desses exemplos de como a reação ao acidental pode ser muito benéfica.

No caso, a morte do guitarrista Christopher Reimer, do finado grupo Women, revelaria duas possibilidades para o seu então baixista e vocalista, Matt Flegel: ou ele se abalaria com a chocante morte de um amigo talentoso ou tomaria as cinzas de seu grupo como força motriz. A consequência desta atitude reside em Viet Cong, colérico, barulhento e experimental disco de estreia dos canadenses – um trabalho tão inesperado quando a sua sequência de sete faixas quase que desconexas entre si. Chegar em um som comum em toda a obra é complicado mas podemos dizer que a sua grande inspiração é o Post-Punk, não pontual como Interpol ou Editors, mas mais efervescente e com os pés no Art-Rock.

Entretanto, o grande elo entre todas as inspirações que aparecem aqui, como Drone Music, Punk e Psicodelia, é o Noise, através de distorções de guitarra, loops de sintetizadores e uma percussão bastante agressiva. Seu nome, que tenta se embalar nas referências dos ouvintes em relação a Guerra do Vietnã, não poderia ser mais apropriado para o grupo e reverbera em todo o disco.

Está presente no campo de batalha que se forma no início de Newspaper Spoons para depois a sua total dissolução, como enxergássemos somente as cinzas e ruínas de um conflito violento. O barulho que ressurge na enérgica Pointless Experience, que emana sons de sirene e que ainda assim consegue encontrar seu ritmo em um baixo pulsante e uma guitarra rápida, parece ser o único elemento esperado na obra.

A voz de Flegel nos faz lembrar Paul Banks sem tanta tristeza, mas com impulso e raiva – uma justificativa para sua vida após a morte do amigo. O ambiente bélico é realçado no nome das faixas como Bunker Buster, talvez o Post-Punk mais direto do disco, enquanto Silhouettes, a possível grande explosão do show dos canadenses, ou a épica Death, com seus mais de onze minutos, lembram as famosas veias saltadas do vocalista da banda The Walkmen, Hamilton Leithauser.

Se tais momentos se diferenciam artisticamente, como na utilização de diferentes ruídos, na mudança de tempos ou em formatações musicais menos usuais, o que nos faz atentar os ouvidos para esta estreia atende pelos nomes de March of Progress e Continental Shelf. A primeira é um exercício psicodélico surpreendente: seus primeiros instantes nos levam para expectativas de Drone Music em excesso que não se realizam. Caminham, entretanto, para uma influência “Pink Floydiana” à la White Fence, totalmente inesperada e viajante. A segunda faixa, um single que nos levou a indicar os canadenses entre as nossas apostas do ano é acessível, direta e com ares românticos de Echo & The Bunnymen em seu refrão, sem nunca perder o impeto – força motriz de Viet Cong.

Ao final, o acaso, o inesperado em cada uma das faixas desta estreia, nos fazem considerá-la um grande trabalho, colocando o grupo em mais uma das belezas da vida que só podemos explicar com a tomada de riscos. No entanto, não espere que você irá debulhar e abraçar o disco logo na primeira audição, pois o álbum cresce longe do imediatismo, de acordo com a sua compreensão, seus ruídos e sua vontade de renascer a cada vez que chega ao fim.

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BOM PARA QUEM OUVE: Savages, The Walkmen, Cloud Nothings
ARTISTA: Viet Cong
MARCADORES: Ouça, Post Punk

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.