Resenhas

Björk – Vulnicura

Artista se reencontra com sua humanidade em mais um excelente lançamento

Loading

Ano: 2015
Selo: One Little Indian
# Faixas: 9
Estilos: Eletrônico Experimental, Singer-Songwriter
Duração: 58:36
Nota: 4.5
Produção: Björk, Arca, Haxan Cloak

Break-up albums, os álbuns feitos sob a influência dos fins de relacionamento, são um fenômeno musical. Parece que, em geral, a crise provocada por esta etapa difícil e emocionalmente desafiadora na vida de alguns músicos os reconecta com seus sentimentos e, assim, consequentemente, com sua força criativa. Embora esta seja uma hipótese um tanto quanto abstrata, e longe de querer romantizar a dor deste período da vida de qualquer pessoa, Vulnicura parece proporcionar algo que parecia impossível: uma evolução artística em Björk.

A artista islandesa, que vivenciou uma transmutação mitológica ao longo de sua carreira, havia atingido, até a altura de seu trabalho anterior Biophilia (2011), o status sobre humano de um ser misterioso vindo dos contos de fadas, responsável por mediar as forças do movimento cosmogônico – das placas tectônicas até o ciclo dos soltícios – com os fenômenos tecnológicos edificados pelo homem – seja na manipulação eletrônica de sua música ou na elaboração de aplicativos de iPad, exteriores ao álbum em si, mas que estariam necessariamente ligados à experiência completa do mesmo.

A questão é que, do mesmo modo que a relação de Björk com o artista Matthew Barney a transformou neste personagem fabuloso, o término de seu casamento com ele é responsável pelo volta da artista à Björk humana, que fala de si mesma, mais sentimental e, logo, mais tangível para nós. Assim, Vulnicura, o nono álbum de sua carreira (se considerarmos o juvenilia homônimo de 1977) soa mais microcósmico, mas, por isso mesmo, mais orgânico. “Orgânico” não no sentido estrito do termo, (afinal, temos Medúlla, de 2004, um álbum feito apenas com vozes em sua discografia), mas no sentido em que temos um trabalho que aproxima Björk novamente de sua faceta Singer-Songwriter, que aprende a tocar violino e se afasta um pouco da arquitetura mental e obstinada das composições feitas pelo computador.

O que Vespertine (2001) tem de delicado, sensual e libidinoso, Vulnicura tem de sombrio, constrangedor e dolorido. São duas facetas distintas, ainda que correlatas, da humanidade da artista. Björk nos traga sem grandes esforços para dentro dos picos emocionais “pré” e “pós” termino de relacionamento, processo que é bastante facilitado pela cronologia exposta nas letras do encarte (nele, podemos acompanhar a escala temporal “5 months before”, “2 months after” e assim sucessivamente). Já no que diz respeito à produção, a parceria com o jovem venezuelano Alejandro Ghersi (mais conhecido como Arca) parece ter sido, segunda as palavras da própria artista, bastante fluída e intuitiva, o que só reforça a aura mais “natural” deste trabalho.

Narrando o fim de um relacionamento, do sentimento de impotência diante do fim inevitável, até o lento processo de cura posterior, passando pela preocupação com sua saúde e com seus filhos, e, enfim, diante da dúvida e da fé no Amor, Bjork se reencontra em Vulnicura. Finalizo com as palavras da própria artista em Notget, que parece resumir a essência do álbum em apenas dois versos: “Don’t remove my pain. It’s my chance to heal”.

Loading

Autor:

é músico e escreve sobre arte