Resenhas

Yonatan Gat – Director

Trabalho concentrado em guitarras e experimentação tem forte inspiração na música global

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Ano: 2014
Selo: Joyful Noise Recordings
# Faixas: 11
Estilos: Punk Rock, Instrumental, Garage Rock
Duração: 31:00
Nota: 3.5
Produção: Yonatan Gat

Yonatan Gat tem algumas histórias fantásticas para contar. Por exemplo, sobre os inúmeros concertos que fez com sua banda de Garage Rock Monotonix ao longo de pouco mais de três anos. Colérico e com os pés no chão (o grupo era famoso por suas performances no mesmo nível do público, ou seja, abaixo do palco), Gat realizou pouco mais de mil shows entre 2008 e 2011 antes que a vida seguisse e o seu trio chegasse ao fim. No entanto, o término parece ter feito muito bem ao músico, que está abraçando o mundo através de seus acordes de guitarra.

Director, segue as andanças de Gat pelo mundo – atualmente, ele oscila suas moradias entre São Paulo, Nova York e Tel Aviv – o que é muito bem representado em seu som, que pode ser considerado um World Punk, ou seja, música criada com intensidade de guitarras, mas com referências globais. É por isso que o sucessor de Iberian Passage, disco de 2014, flui muito bem: ele se move verticalmente e horizontalmente pela superficie de suas inspirações, conduzindo o ouvinte ao encontro de diferentes paisagens.

Faixas como East to West e Gold Rush trazem harmonia e agressividade em quantidades semelhantes, tanto pela sua abordagem de um Rock de garagem, quanto pelas suas nuances e texturas. Na gravação deste disco, por exemplo, Gat usou trechos de ambiências capturadas em suas viagens pelo mundo, os quais são complementados por riffs, solos e jams sessions que transpiram muitas vezes uma espiritualidade incomum. Não temos aqui a experimentação pelo simples gosto do diferente mas também como meio para se chegar em músicas extremamente consistentes – instrumentais sem história mas com essências próprias.

Os momentos acústicos/mais leves talvez sejam mais objetivos quando nos dizemos que esse disco é mundial: é fácil achar a regionalidade brasileira e africana em faixas como Boxwood, Tanto que Nem Tem e Gibraltar . No entanto, pelo seu formato de gravação e edição, semelhante ao de Miles Davis em seu Bitches Brew, no qual takes do grupo foram gravados ineterruptamente e depois editados para que fizessem sentido, conseguimos sentir a real intensidade e intenção da banda aqui. As jam sessions capturadas nas três sessôes de estúdio que Gat teve com a sua banda foram cortadas de formas não usuais: algumas músicas acabam quando não deveriam, enquanto outras começam surpreendentemente. Muitas vezes, esta edição traz leveza (Casino Café e Canal), enquanto em outras é somente virtuosismo e experimentação (North to South ou Underwalter Prelude), todas sempre carregadas de muito suor.

A crueza, raiva e sentimento que transpiram das gravações é que fazem deste segundo disco tão interessante: sentimos a banda como uma parte indissociavél dos experimentos solo de Yonatan Gat. Para os fãs de músicas feitas à base de guitarras, puramente instrumentais, como em alguns momentos de Fuzz, Lisabi ou Hurtmold chegam a ser, Director é um prato cheio para você. Ao mesmo tempo, suas inspirações em quebras de formato e improvisações consistentes fazem-no também um convite para quem quer entender como Jazz e Punk podem ser congruentes no auge de suas abordagens DIY. O certo é que a viagem que chegamos ao final do disco só nos faz aguardar um show brutal, mas também espirtual do guitarrista, aos moldes dos seus tempos coléricos junto ao Monotonix.

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BOM PARA QUEM OUVE: Monotonix, Lisabi, Hurtmold
ARTISTA: Yonatan Gat

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.