Resenhas

of Montreal – Aureate Gloom

13° disco de Kevin Barnes discorre sobre sua recente separação

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Ano: 2015
Selo: Polyvinyl Records/ADA US
# Faixas: 10
Estilos: Rock Psicodélico, Rock Progressivo
Duração: 43:27
Nota: 3.5
Produção: Kevin Barnes

Aureate Gloom é o 13° disco criado por Kevin Barnes em seu of Montreal e também sua décima terceira faceta mostrada em quase 20 anos de carreira. Como se cada álbum representa-se uma máscara diferente, não há como fugir da inevitável conclusão que, quanto mais obras o músico lança e personas cria, menos sabemos sobre sua real pessoa. Por mais paradoxal que pareça, quando se trata deste ser tão multifacetado e “psicótico” que é Barnes, nunca são exatamente claros os limites entre sua ficção e realidade.

E é exatamente por isso que não é difícil rotular a banda como “excêntrica” ou “errática”. Ao longo dessas quase duas décadas, o grupo já se reinventou de diversas formas, passando por um início regado pelo Folk, seja em sua versão Twee ou psicodélica, até chegar no performático Glam Rock no meio da década passada. Dito tudo isto, não como dizer que este é o álbum em que o músico mais se mostra como é ou pelo menos escancara de forma ainda mais pessoal a fase que estava passando enquanto gravava este disco.

O fim de um relacionamento de mais de onze anos deixou marcas profundas em Barnes e ele usa Aureate Gloom para expô-las no jeito mais “of Montreal” possível. Sua ex-mulher, Nina Aimee Grøttland, já havia sido objeto de outros registros, como Hissing Fauna, Are You the Destroyer? (2007). Na época, ela “assumia” a figura de uma espécie de antidepressivo no maluco conceito do álbum, em que o alter ego de Kevin, Georgie Fruit, começava a tomar conta de seu corpo. Paralytic Stalks (2012) é outro deles e mostra mais um ponto na linha temporal do relacionamento, relevando os atritos entre o casal. Aqui, Nina é usada como eixo para as mudanças de humor do músico, refletindo diretamente no teor das letras e nos acompanhamentos instrumentais.

Barnes assume o papel de trovador ao narrar sua própria tragédia. Por vários momentos, o músico parece perdido (“I’m grieving for you, my love (…) And I don’t understand what’s going on”, em Virgilian Lots), em outros, tem uma postura passiva agressiva (“I wanna be your friend, not a poison” – diz o músico, antes de cantar – “You used to share my broken tongue, now you sing flat alone”, em Last Rites at the Jane Hotel), em outros ainda, parece extremamante pesaroso com toda a situação (“I’m not a different man ‘cause you now call me some fucked up name”, em Monolithic Egress) ou ainda assume parte da culpa pelo fim do relacionamento (“I repeat the wickedness to force reactions out of you, but little hurts as deeply as I want it to”, em Empyrean Abattoir). Tudo isso na habitual esquizofrenia sonora de Barnes.

Musicalmente, o disco não se distancia tanto dos últimos lançamentos no que diz respeito à inventividade e à maneira de experimentar os mais variados elementos, porém suas referências mudaram bastante. Ao invés da grande carga da psicodelia sessensitsta, há variações do Rock feito nos anos 1970, como como Post Punk/New Wave de nomes Talking Heads e Television (Last Rites At The Jane Hotel), além do Funk (Bassem Sabry), Garage Rock (Apollyon Of Blue Room), Hard Rock (Like Ashoka’s Inferno of Memory) e muito de David Bowie (Aluminum Crown). Elas se chocam e recombinam seguindo a vontade de Barnes, ora mais choroso, ora mais raivoso pelo fim de seu relacionamento. Esse turbilhão de sentimentos se mostra em sua mais pura forma na caleidoscópica e quase Progressiva Monolithic Egress.

Usando seu revés amoroso como combustível para sua nova obra, Kevin cria o álbum mais sincero e, talvez, pé no chão do grupo até agora. Aqui, Barnes mostra mais uma de suas facetas, mas quebra parte de seu paradoxo, revelando, talvez, a que mais se aproxime de sua real persona, a que mais exponha as estranhas do real Kevin Barnes.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts