Resenhas

Eduardo Barretto – Fracasso Extraordinário

Obra se mostra quase como um processo terapêutico de crise induzida

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Ano: 2015
Selo: Mono.Tune Records
# Faixas: 5
Estilos: Indie Rock, Rock Alternativo
Nota: 3.0
Produção: Filipe Consolini

Apesar do EP Fracasso Extraordinário ser estampado pelo desenho de um coração dentro de uma gaiola, creio que a intensão do artista – e mesmo o efeito que causa no ouvinte – é exatamente o oposto do proposto pela imagem. Eduardo Barretto parece cantar seus temas de peito aberto, livrando seu coração dessa jaula e, até mesmo, tirando um peso dele, ao se defrontar e externar problemas com que geralmente ficamos engasgados.

A faixa de abertura, O Bárbaro, sintetiza bem essa premissa e se mostra como pontapé para a “sessão do descarrego” de Eduardo. Apesar de uma melodia calma, a lírica discorre sobre a perda da calma e uma eventual explosão enfurecida, a tal barbárie do título. A partir daí, os freios já não funcionam mais e o cantor pode extravasar seus demônios interiores.

A curtinha e experimental Nervo Craniano vem em seguida, mostrando a cacofonia de elementos, como conversas, sons do ambiente, uma música que parece provir de uma meditação e outros tantos sons. Todos esses fragmentos parecem desconstruir a figura do interlocutor, como uma espécie de sufocamento em si. O que nos leva à faixa-título, na qual o personagem admite sua natureza fracassada, quase niilista em relação a si mesmo e ao mundo que o circunda.

Permanente e Infinito Frenesi é um capítulo de bipolaridade dentro da narrativa proposta aqui. A faixa segue um caminho diferente não só em seu frenesi melódico, mas também em seu teor lírico um pouco mais positivo que as demais faixas. O Último Vagão volta a apresentar esse narrador mais fragilizado e pessimista, que, agora, lida com a solidão e solteirice, com o desafio de se encontrar alguém para dividir a vida.

Quase como uma terapia, o andamento do EP se dá a partir de um choque, de uma crise, que deságua no processo em que narrador vai finalmente se abrir e se livrar do que o está engasgado, ao que parece, há muito tempo. Ao final da obra, o coração que estava dentro da gaiola, agora está livre.

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BOM PARA QUEM OUVE: Ian Ramil, Jair Naves, Filipe C.

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts